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O CÉU
Hugo de Azevedo
Nossa Senhora subiu aos Céus em corpo e alma…
Embora talvez nos custe confessá-lo, e seja impossível dar-lhe resposta firme, gostaríamos de saber «aonde» subiu. A que lugar do Universo? Pois não há corpo que não ocupe nele o seu espaço. Com o seu corpo glorioso, nalgum sítio estará.
Nosso Senhor ressuscitado subiu aos Céus primeiro. Onde será o «Céu» a que chamou sua Mãe Santíssima?
É certo que somos tentados a imaginar uma ressurreição da carne «o menos carnal possível», etérea (um dos erros de Orígenes), apesar de todas as provas físicas que Jesus deu aos Apóstolos, comendo e bebendo, e convidando-os a apalpar as mãos e os pés feridos. Seria o Seu corpo ressuscitado tão subtil, que, afinal, não tivesse nada a ver com o autêntico corpo humano? Como se o dom da subtileza consistisse em «atravessar paredes» e não numa deslocação imediata ordenada pela vontade ao corpo glorioso? Longe de nós supor que pretendia enganar-nos!
Sim, talvez a pergunta seja infantil, repito, mas não é impertinente. A Irmã Lúcia dedica à questão um capítulo dos seus «Apelos». Não dá resposta precisa, porque também não o sabe, ou não pode explicar-se.
O que todos sabemos ao certo é que a ressurreição da carne não significa a sua «evaporação». Logo, nalgum lugar estará deste nosso Universo, a que todos pertencemos e a que pertence o próprio Verbo Incarnado.
Ao recitar o Pai-Nosso, «que estais nos céus», não nos referimos a um lugar, é certo, mas à inefável natureza divina, pela qual e na qual nós «vivemos, existimos e somos». Que sentido, porém, teria a ressurreição da carne, se, afinal, a carne desaparecesse?
Haverá um novo Céu e uma nova Terra, cremos. Mas que «Terra imaterial» pode existir?
Compreende-se que os teólogos em geral se desinteressem de tão «prosaico» aspeto da salvação. Ou até se incomodem com ele… E a pergunta será infantil, mas um filho tem direito a perguntar-Lhe, ainda que não espere resposta: - «Mãe, onde moras?»