2º Domingo da Páscoa
16 de Abril de 2023
RITOS INICIAIS
Cântico de entrada: Exultai de alegria, cantai hinos de glória. – J. F. Silva, NRMS, 97
1 Pedro 2, 2
Antífona de entrada: Como crianças recém-nascidas, desejai o leite espiritual, que vos fará crescer e progredir no caminho da salvação. Aleluia.
Ou:
4 Es 2, 36-37
Exultai de alegria, cantai hinos de glória. Dai graças a Deus, que vos chamou ao reino eterno. Aleluia.
Diz-se o Glória.
Introdução ao espírito da Celebração
S. João Paulo II, de saudosa e feliz memória, instituiu neste 2.º Domingo da Páscoa a festa da Divina Misericórdia.
Nesta Celebração da Eucaristia, queremos agradecer ao Senhor a misericórdia que tem tido para connosco e aprender deste Coração divino a sermos também misericordiosos, como caminho para a alcançar do Céu. «Bem aventurados os que usam de misericórdia, porque alcançarão misericórdia.»
Sermos misericordiosos uns para com os outros é o melhor caminho para a alcançarmos do Senhor para connosco.
Acto penitencial
Sugerimos a aspersão da Assembleia com a água benta, evocando o nosso Batismo, como vem indicado no Missão Romano.
Ou:
Enfrentamos muitas dificuldades para viver a virtude da misericórdia e estamos conscientes de que não o conseguiremos sem uma grande ajuda do Senhor.
Custa-nos perdoar as ofensas e agravos recebidos; guardamos ressentimentos pelo mal real ou imaginário que nos fizeram; e sentimos em nós um impulso malévolo para pagar às pessoas com a mesma moeda, quando elas nos fazem mal.
Peçamos humildemente perdão ao Senhor destes pecados e imploremos a Sua ajuda para nos emendarmos.
(Tempo de silêncio. Apresentamos, como alternativa, elementos para o esquema C do Ordinário da Missa)
• Senhor Jesus: Custa-nos muito, por vezes, perdoar as ofensas que nos fazem
e toleramos no nosso coração desejos de nos vingarmos, quando for possível.
Senhor, misericórdia.
Senhor, misericórdia.
• Cristo: Fazemos da nossa memória arquivo das ofensas reais ou imaginárias,
e trazemo-las com muita frequência à mente, dificultando a vida em caridade.
Cristo, misericórdia.
Cristo, misericórdia.
• Senhor Jesus: Somos, por vezes, muito severos e injustos ao julgar as pessoas,
mas gostamos que sejam benévolos e compreensivos para os nossos pecados.
Senhor, misericórdia.
Senhor, misericórdia.
Deus todo poderoso tenha compaixão de nós,
perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.
Oração Colecta: Deus de eterna misericórdia, que reanimais a fé do vosso povo na celebração anual das festas pascais, aumentai em nós os dons da vossa graça, para compreendermos melhor as riquezas inesgotáveis do Baptismo com que fomos purificados, do Espírito em que fomos renovados e do Sangue com que fomos redimidos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura
Monição: Perante a multidão que se junta em frente do Cenáculo, atraída pelo som que a acompanhou a vinda do Espírito Santo, Pedro testemunha a Ressurreição de Jesus.
Devemos também dar testemunho de que seguimos Cristo Ressuscitado, pela nossa misericórdia, alegria e otimismo com que encaramos a vida.
Actos 2, 42-47
42Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações. 43Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, toda a gente se enchia de temor. 44Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. 45Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um. 46Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração, 47louvando a Deus e gozando da simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava todos os dias o número dos que deviam salvar-se.
Esta é a primeira das três maiores «descrições sumárias» de Actos da primitiva comunidade cristã de Jerusalém. As outras duas mais desenvolvidas estão em Act 4,32-35; e 5,12-16. Nestas descrições focam-se três aspectos da vida dos primeiros cristãos de Jerusalém: a sua vida religiosa, o cuidado dos pobres e os prodígios realizados pelos Apóstolos, insistindo-se ora num, ora noutro aspecto; aqui insiste-se na vida religiosa. Os relatos sumários são breves resumos da vida da Igreja, que não se reduzem a estes três relatos maiores. Os críticos vêem nalguns deles uma descrição um tanto idealizada, pois é feito um juízo global a partir de casos concretos, como quando se diz que ninguém tinha nada seu (4,42), ou que todos eram curados (5,16), etc. A credibilidade do conteúdo destes sumários é no entanto confirmada pelo facto de que a clara visão idílica de alguns elementos não leva o autor a deformar a realidade, pois não esconde acontecimentos que podiam embaciar essa visão tão optimista (por ex., o caso de Ananias e de Safira, em Act 5,1-11).
42 «O ensino dos Apóstolos». Os Apóstolos não se limitavam a pregar o primeiro anúncio (kérigma), em ordem à conversão inicial e ao Baptismo (cf. Act 2,14-41); dedicavam-se também a uma instrução catequética dos que já tinham a fé.
«A comunhão fraterna», isto é, havia uma grande unidade de espíritos e de corações («um só coração e urna só alma» Act 4,32); a tradução latina da Vulgata interpretou a expressão no sentido da comunhão eucarística («comunhão da fracção do pão»), uma vez que, de facto, este Sacramento é o fundamento da união de todos os cristãos entre si: 1Cor 10,17.
«Fracção do pão»: partir do pão era o nome primitivo dado à celebração da Eucaristia, um nome tirado do gesto de Jesus de partir o pão na Última Ceia. Com toda a probabilidade, temos aqui uma referência à celebração eucarística, designada desta maneira em 1Cor 10,16-17 e Act 20,7.
44 «Tinham tudo em comum». Esta atitude extraordinariamente generosa ficou para sempre como um luminoso exemplo de como «compartilhar com os outros é uma atitude cristã fundamental… Os primeiros cristãos puseram em prática espontaneamente o princípio segundo o qual os bens deste mundo são destinados pelo Criador à satisfação das necessidades de todos sem excepção» (Paulo VI). Esta atitude cristã nada tem que ver com a colectivização de toda a propriedade privada imposta por um estado totalitário, pois aqui era respeitada a liberdade individual, podendo não se pôr tudo em comum, por isso em Actos se louva o gesto de Barnabé (Act 4,36-37) e se censura a fraude de Ananias (Act 5,4). Daqui se conclui que o «todos» do texto é uma generalização.
46 No princípio, os cristãos de Jerusalém continuavam a participar nos actos de culto judaico, acrescentando a essas práticas um novo rito que celebravam nas casas particulares: a Eucaristia, que, como é óbvio, não podiam celebrar no Templo. O original grego sugere mesmo que esta se celebrava, ora numa casa, ora noutra. Pode-se perguntar se a celebrariam diariamente. Não é certo, mas a sua celebração no «primeiro dia da semana» consta-nos de Act 20,7.11; 1Cor 16,2; cf. Didaquê, 14,1, dia que já na época apostólica se começa a chamar «dia do Senhor», isto é, Domingo (cf. Apoc 1,10).
«Com alegria». S. Lucas sublinha frequentemente esta alegria dos primeiros cristãos: Act 5,41; 8,8.39; 13,48-52; 15,3; 16,34; bem como o tom de louvor que havia na sua vida de oração: v. 47; cf. 3,8.9; 4,21; 10,46; 11,18; 13,48; 19,17; 21,20).
Salmo Responsorial Sl 117 (118), 2-4.13-15.22-24 (R. 1)
Monição: Ao testemunho de Pedro sobre a Ressurreição gloriosa de Jesus, respondemos com um salmo de ação de graças.
Vivamos em permanente agradecimento ao Senhor pela maravilha da nossa vocação cristã que nos tornou filhos de Deus e herdeiros do Céu.
Refrão: Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Ou: Aclamai o Senhor, porque Ele é bom:
o seu amor é para sempre.
Ou: Aleluia.
Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia.
Empurraram-me para cair,
mas o Senhor me amparou.
O Senhor é a minha fortaleza e a minha glória,
foi Ele o meu Salvador.
Gritos de júbilo e de vitória nas tendas dos justos:
a mão do Senhor fez prodígios.
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria.
Segunda Leitura
Monição: Novamente ouvimos a palavra de S. Pedro, na sua primeira carta à Igreja universal, num hino de louvor em honra de Cristo Ressuscitado.
Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe.
1 São Pedro 1, 3-9
3Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, 4para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece, reservada nos Céus para vós 5que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que se vai revelar nos últimos tempos. 6Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações, 7para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar. 8Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, acreditais n'Ele. E isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, 9porque conseguis o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.
Em todos os domingos pascais deste ano A vamos ter como 2ª leitura um trecho da 1ª Carta de Pedro. Estes vv. têm um certo aspecto de hino trinitário de sabor baptismal (v. 3): dão-se graças ao Pai (v. 3-5; cf. Ef 2,4; Col 1,12) pela obra salvadora do Filho (v. 6-9); a referência ao Espírito Santo é deixada fora da leitura de hoje (vv. 10-12).
3-4 «Nos fez renascer pela Ressurreição». A Ressurreição de Jesus, facto realmente sucedido «ao terceiro dia», tem uma dimensão existencial que nos afecta «hoje, agora»: pela união a Cristo ressuscitado, também nós ressuscitamos para uma vida nova (cf. Rom 6,4-11), «renascemos para uma esperança viva» (cf. Jo 1,13; 3,5-7; Gal 6,15; Tit 3,5). É assim a esperança cristã, não é uma mera utopia: o seu objecto material é a verdadeira vida, a vida eterna: «uma herança que não se corrompe... herança reservada nos Céus para vós» (vv. 3-4).
6 «Isto vos enche de alegria». A esperança na «herança» e «salvação» eternas é fonte de alegria no meio das «diversas provações» pelas que «é preciso passar». Isto não tem nada de alienante, uma vez que o objecto da esperança, o Céu, tem existência real e está ao nosso alcance; a certeza da esperança é firmíssima e não nos deixa confundidos, uma vez que Deus é «omnipotente, infinitamente misericordioso e fidelíssimo às suas promessas», havendo apenas a recear de nós próprios, que podemos vir a ser infiéis a Deus e a seu plano salvador. Esta esperança no Céu é algo que responsabiliza os cristãos mais fortemente do que os demais cidadãos, uma vez que eles sabem que não podem chegar ao Céu se não se preocupam pelo bem dos seus semelhantes, incluindo o que respeita ao bem-estar material (cf. Mt 25,34-46).
«Sem O verdes ainda, acreditais n’Ele». É fácil descobrir nestas palavras uma alusão ao que, na Missa de hoje, Jesus diz a Tomé: «felizes os que acreditam sem terem visto».
A vida cristã, vida de ressuscitados com Cristo, é uma vida teologal, vida de fé, esperança e amor, a qual nos leva a estar «cheios de alegria inefável», já agora.
Aclamação ao Evangelho Jo 20, 29
Monição: A proclamação do Evangelho alimenta a nossa fé, porque nele é Jesus Cristo que nos ensina e acolhe.
Renovemos a nossa fé em Jesus Cristo Ressuscitado, presente na Igreja, e aclamemos o Evangelho da Salvação.
Aleluia
Cântico: Aleluia – M. Faria, NRMS, 16
Disse o Senhor a Tomé:
«Porque Me viste, acreditaste;
felizes os que acreditam sem terem visto.
Evangelho
São João 20, 19-31
19Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». 20Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. 21Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». 22Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: 23àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos». 24Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. 25Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». 26Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». 27Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». 28Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» 29Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». 30Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. 31Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.
Neste breve relato pode ver-se como Jesus cumpriu a suas promessas que constam dos discursos de despedida: voltarei a vós (14,18) – pôs-se no meio deles (v. 19); um pouco mais e ver-Me-eis (16,16) – encheram-se de alegria por verem o Senhor (v. 20); Eu vos enviarei o Paráclito (16,7) – recebei o Espírito Santo (v. 22); ver também Jo 14,12 e 20,17.
19 «A paz esteja convosco!» Não se trata de uma mera saudação, a mais corrente entre os Judeus, mesmo ainda hoje. A insistência joanina nestas palavras do Senhor ressuscitado (vv. 19.21.26) – que, embora habituais, nunca são registadas nos Evangelhos! – é grandemente expressiva. De facto, com a sua Morte e Ressurreição Jesus acabava de nos garantir a paz, a paz com Deus, origem e alicerce de toda a verdadeira paz (cf. Jo 14,27; Rom 5,1; Ef 2,14; Col 1,20).
20 O mostrar das mãos e do peito acentua a continuidade entre o Jesus crucificado e o Senhor glorioso (cf. Hebr 2,18); a sua presença, que transcende a dimensão espácio-temporal (cf. vv. 19.26), é uma realidade que os enche de paz (vv. 19.21.26; cf. Jo 14,27; 16,33; Rom 5,1; Col 1,20) e de alegria (v. 20; cf. Jo 15,11; 16,20-24; 17,13). «Ficaram cheios de alegria» é uma observação que confere ao relato uma grande credibilidade; com efeito, naqueles discípulos espavoridos (v. 19), desiludidos e estonteados, surge uma vivíssima reacção de alegria, ao verem o Senhor; ao contrário do que era de esperar, não se verifica aqui o esquema habitual das visões divinas, as teofanias do A. T., em que sempre há uma reacção de temor e de perturbação. A grande alegria dos Apóstolos procede da certeza da vitória de Jesus sobre a morte e também de verem como Jesus reatava com eles a intimidade anterior, sem recriminar a fraqueza da sua fé e a vergonha da sua deslealdade.
22 «Soprou sobre eles… Recebei o Espírito Santo». Este soprar de Jesus não é ainda «o vento impetuoso» do dia de Pentecostes; é um sinal visível do dom invisível do Espírito (em grego é a mesma palavra que também significa sopro). Esta efusão do Espírito Santo não aparece como a mesma que se dá 50 dias depois, na festa do Pentecostes. Aqui, tem por efeito conferir-lhes o poder de perdoar os pecados, poder dado só aos Apóstolos (e seus sucessores no sacerdócio da Nova Aliança), ao passo que no dia do Pentecostes é dado o Espírito Santo também a outros discípulos reunidos com Maria no Cenáculo, iluminando-os e fortalecendo-os com carismas extraordinários em ordem ao cumprimento da missão de que já estavam incumbidos.
23 «A quem perdoardes os pecados…»: não se trata de um mero preceito da pregação do perdão dos pecados que Deus concede a quem confia nesse perdão (interpretação protestante). É uma das poucas passagens da Escritura cujo sentido foi solenemente definido como verdade de fé: estas palavras «devem entender-se do poder de perdoar e reter os pecados no Sacramento da Penitência» (DzS 913); o mesmo Concílio de Trento também se baseia nestas palavras para falar da necessidade de confessar todos os pecados graves cometidos depois do Baptismo, uma doutrina que tem vindo a ser reafirmada pelo Magistério: «a doutrina do Concílio de Trento deve ser firmemente mantida e aplicada fielmente na prática»; por isso, os fiéis que, em perigo de morte ou em caso de grave necessidade, tenham recebido legitimamente a absolvição comunitária ou colectiva de pecados graves ficam com a grave obrigação de os confessar dentro de um ano (Normas Pastorais da Congregação para a Doutrina da Fé, 16-VI-1972); cf. Motu proprio de João Paulo II Misericordia Dei (7.4.2002) e Código D. C., nº 960.
«Ser-lhes-ão perdoados»: esta expressão é muito forte, pois temos aqui o chamado passivum divinum, isto é, o uso judaico da voz passiva para evitar pronunciar o nome inefável de Deus; sendo assim, a expressão corresponde a «Deus lhes perdoará», e «serão retidos» equivale a «serão retidos por Deus», isto é, Deus não perdoará.
24 «Tomé», nome aramaico Tomá significa «gémeo»; em grego, dídymos.
29 «Felizes os que acreditam sem terem visto». Para a generalidade dos fiéis, a fé (dom de Deus) não tem mais apoio humano verificável do que o testemunho grandemente crível da pregação apostólica e da Igreja através dos séculos (cf. Jo 17,20). Para crer não precisamos de milagres, basta a graça, que Deus nunca nega a quem busca a verdade com humildade e sinceridade de coração. O facto de as coisas da fé não serem evidentes, nem uma mera descoberta da razão, só confere mérito à atitude do crente, que crê porque Deus, que revela, não se engana nem pode enganar-nos. Por isso, Jesus proclama-nos «felizes», ao submetermos o nosso pensamento e a nossa vontade a Deus na entrega que o acto de fé implica. Tanto Tomé, naquela ocasião, como nós, agora, temos garantias de credibilidade suficientes para aceitar a Boa Nova de Jesus; as nossas escusas para não crer são escusas culpáveis, escusas de mau pagador. Também as estrelas não deixam de existir pelo facto de os cegos não as verem.
30-31 Temos aqui a primeira conclusão do Evangelho de S. João que nos deixa ver o objectivo que o Evangelista se propôs. Este Evangelho foi escrito para crermos que «Jesus é o Messias, o Filho de Deus». Note-se que a fé não é uma mera disposição interior de busca ou caminhada sem uma base doutrinal, um conteúdo de ensino (cf. Rom 6,17), pois exige que se aceitem «verdades» como esta, a saber, que Jesus é o Filho de Deus, e Filho, não num sentido genérico, humano ou messiânico, mas o «Filho Unigénito que está no seio do Pai» (Jo 1,18), verdadeiro Deus, segundo a confissão de S. Tomé: «Meu Senhor e meu Deus» (v. 28; cf. Jo 1,1; Rom 9,5). Há quem veja o Evangelho segundo S. João contido dentro de uma grande inclusão, que põe em evidência a divindade de Cristo: Jo 1,1 (O Verbo era Deus) e Jo 20,28 (meu Senhor e meu Deus), tendo como centro e clímax a afirmação de Jesus: Eu e o Pai somos Um (10,30).
Sugestões para a homilia
• Uma Igreja modelo
• Jesus, Modelo e Mestre da misericórdia
1. Uma Igreja modelo
Jesus Cristo, no Sermão da Montanha, proclamou «Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.» Exercer a misericórdia para com as outras pessoas concretiza-se em perdoar de todo o coração as ofensas recebidas e, como consequência, não cobrar esta dívida e esquecê-las. Em toda a vida Pública, na Paixão e depois de Ressuscitado, Jesus dá-nos um exemplo admirável de misericórdia.
Não devemos confundir a virtude da misericórdia com o exercício as obras de misericórdia. O exercício das obras de misericórdia exerce-se em favor dos necessitados; a misericórdia deve ser vivida em benefício de todos, sem exceção.
• Uma escola de misericórdia. «Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, toda a gente se enchia de terror.»
A Igreja de Jerusalém era constituída por Nossa Senhora, pelos Doze Apóstolos e muitas outras pessoas que tinham conhecido Jesus, ouvido os Seus ensinamentos e recolhido no coração os Seus gestos. Nós não conseguiremos segui-los de perto se não imitarmos o seu exemplo. Com feito, eles procuram os meios para o conseguir.
• A formação doutrinal. Para isso, compareciam nas reuniões da Igreja, para aprenderem a doutrina que os Apóstolos ensinavam. Sem formação doutrinal – frequentando meios de formação, lendo e meditando bons livros – não conseguiremos melhorar espiritualmente.
De modo habitual e não apenas uma vez de longe a longe, estes nossos irmãos na fé procuravam os meios de perseverança na fidelidade.
• Vida em comunhão. Começa pelo coração, pelo afeto – querer bem às pessoas – e manifesta-se pela partilha de bens: o tempo, os recursos materiais, a alegria e tudo o mais que possuímos.
• Participação na Eucaristia. A expressão dos Atos dos Apóstolos “fração do pão” significa a celebração da Santíssima Eucaristia
• Na oração oficial da Igreja. Os cristãos, ontem como hoje, reuniam-se para orar em comum, cantando salmos, etc.
As pessoas descristianizadas ou que nunca ouviram falar de Cristo não esperam de nós sermões eloquentes sobre a vida de Jesus, mas o testemunho de vida dos cristãos. De modo intencional, o autor dos Atos dos Apóstolos acrescenta: «E o Senhor aumentava todos os dias o número dos que deviam salvar-se.»
• Comunhão de bons. «Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um.»
A experiência da comunhão de bens foi realizada dentro da pequena comunidade de Jerusalém. Hoje, a nível da Igreja universal, difundida em todo o mundo, seria impossível.
Mesmo em Jerusalém, a experiência não foi de todo feliz. Esta Igreja caiu depois em graves necessidades económicas e S. Paulo recolhia donativos pelas diversas Igrejas da Ásia, para a socorrer. Hoje, este desprendimento continua a ser seguido na Igreja por comunidades pequenas de religiosos, e pessoas consagradas no mundo.
Fica, porém, diante dos nossos olhos a lição espiritual deste gesto: o desprendimento dos bens e este, sim, é válido para todos os tempos, pessoas e lugares. Trata-se da liberdade do coração, frente aos bens materiais, para servir ao Senhor com toda a alegria.
Um dos maiores obstáculos à nossa fidelidade a Cristo é a concupiscência dos olhos, que leva à nossa perda de liberdade, pelo afeto desordenado aos bens que o Senhor disponibilizou para nosso uso. Somos administradores dos bens, e não donos absolutos.
Certa pessoa, ao ver a publicidade num meio de Comunicação Social, ia dizendo: “Tantas coisas de que eu não preciso!” Peçamos esta liberdade interior.
• Unidade e comunhão de vida. «Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e gozando da simpatia de todo o povo.»
Os primeiros cristãos de Jerusalém frequentavam o Templo de Jerusalém para ouvir a proclamação da Sagrada Escritura e cantar os salmos. Aos poucos, foram abandonando os sacrifícios da Antiga Lei, porque tinham consciência de que o Pai tinha feito uma Nova e Eterna Aliança no Sacrifício de Jesus Cristo na Cruz.
A perseguição que era movida aos cristãos em Jerusalém foi providencial, porque afastou a Igreja de Cristo do Templo e do culto da Antiga Lei. As dificuldades que encontraram moveram-nos a operar uma separação entre os dois mundos: o cristão e o não cristão.
Por isso, a Eucaristia não era celebrada no Templo, mas nas casas particulares, de tal modo que os primeiros templos cristãos só aparecem depois da paz à Igreja, em 313. Igreja, para os primeiros cristãos, era a comunidade de fieis que se reunia num determinado lugar para acolher a Palavra de Deus, cantar os Seus louvores e celebrar a Eucaristia.
Viviam como se tivessem uma só alma, porque se inspiravam na doutrina e vida de Jesus e deixavam-se guiar pela mediação maternal de Maria naquela comunidade.
Havia as dificuldades normais de entendimento, causadas pelos feitios e interesses diversos, pontos de vista diferentes, mas a misericórdia acabava por triunfar, esquecendo os agravos e fomentado a compreensão, indispensável para quem deseja amar deveras.
• A Igreja crescia. «E o Senhor aumentava todos os dias o número dos que deviam salvar se.»
A vida dos primeiros cristãos tornava simpática a Igreja a que pertenciam e movia os que ainda estavam fora a fazer parte dela, pela conversão pessoal e Batismo.
A Igreja não cresce pelas palavras belas que dizemos acerca de Cristo e da vida da Igreja ou pelo seu triunfalismo, nem se sustenta de pé com leis severas, como pretendem alguns, mas pela Verdade, Amor e compreensão que encontram nas nossas vidas.
Só na medida em que procurarmos fomentar em nós, com prioridade, uma grande intimidade como Espírito Santo, promovemos o crescimento em qualidade e quantidade da Igreja.
2. Jesus, Modelo e Mestre da misericórdia
Se quisermos saber em que consiste e como se vive a virtude da misericórdia, aprendamo-lo com Jesus, tanto na Vida Pública, como depois de Ressuscitado.
• Um brilho da misericórdia divina. «Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse lhes: “A paz esteja convosco”.»
Os Onze tinham ficado desorientados com a Paixão de Jesus. Pedro, contra a vontade do Mestre, ainda esboçou um gesto para O defender, mas depois negou-O por três vezes, por medo, e retirou-se derrotado. Só João permaneceu fiel ao lado do Mestre, acompanhando a Sua e nossa Mãe.
Humanamente, Jesus tinha motivos de sobejo para ficar ressentido e mantê-los afastados, pelo menos durante algum tempo, como castigo. Assim pensamos e atuamos nós, porque não sabemos o que é a misericórdia.
Esta virtude leva-nos a participar na infinita bondade divina e a parecermo-nos com Deus. Ela consiste em perdoar e esquecer completamente as ofensas recebidas, sem guardar qualquer ressentimento, nem memória; a debruçarmo-nos sobre os mais carenciados de ajuda, sem esperar qualquer recompensa humana; a recomeçar na amizade profunda com as pessoas, sem que qualquer ferida ou recordação menos feliz possa interferir nela.
Os Apóstolos não sentiam coragem para comparecer diante do Mestre, como antes, e estariam a imaginar que tudo tinha acabado.
Jesus conhece o seu estado de espírito, esquece o abandono a que O tinham votado, e vai oferecer-lhes novamente a amizade. Não Lhe ouvem uma única palavras de censura, porque não faz falta. Levanta-os do seu abatimento e, com a reconciliação, ajuda-os a recuperar a paz e a alegria.
• As Chagas, troféus da misericórdia divina. «Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor.»
Jesus mostra as chagas das mãos, dos pés e do lado, como quem Se identifica diante dos amigos, acabando com todas as dúvidas.
Podia, ao ressuscitar, manifestar-Se com um Corpo sem ferimentos da Paixão, mas quis conservá-los, não como testemunhas de acusação e como queixa silenciosa do que Lhe tinham feito, mas como sinais de misericórdia.
Mergulhado no mar tremendo da Sua Paixão, Jesus encontra ainda uma desculpa misericordiosa diante do Pai: «Perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!» (S. Lucas 23, 34). Os nossos olhos doentes, pelo contrário, encontram a maldade onde ela não existe.
De facto, o que Jesus diz, guiado pela misericórdia, é verdade. Os carrascos da Paixão não sabem o que estão a fazer.
Os Apóstolos, discípulos e santas mulheres entenderam aquela lição de misericórdia e começaram imediatamente a recuperar os que se tinham perdido naquela tempestade violenta da Paixão.
• O sacramento da misericórdia divina. «Jesus disse-lhes de novo: “A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós”. Dito isto, soprou sobre eles e disse lhes: “Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos”».
No Cenáculo, depois de ressuscitado, Jesus instituiu o Sacramento da Reconciliação e Penitência e dá aos que recebem o Sacramento da Ordem, no Presbiterado ou Episcopado, o poder de perdoar todos os pecados, sem qualquer exceção.
Jesus quer fazer daqueles amigos que elegera um a um, para colunas da Sua Igreja, instrumentos da misericórdia. Não procuremos mais razões para o demónio odiar a confissão sacramental.
De facto, quando uma pessoa se confessa com as disposições requeridas por Deus – a conversão pessoal que se exprime pela declaração da falta, arrependimento do pecado cometido e propósito de não voltar a cometê-lo – seja qual for o pecado que leve, regressará limpo de toda a falta.
Deus não quer ter memória dos nossos pecados. Perdoa e esquece para sempre e deixa-nos inteiramente renovados. E, não contente com o perdão que nos oferece, cumula-nos de graças para enfrentar a luta ascética de cada dia.
• Ter fé não é ver, mas confiar. «Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: “Vimos o Senhor”. Mas ele respondeu-lhes: “Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei”.»
Tomé tinha sido generoso. Acolheu com alegria e prontidão o chamamento de Jesus para fazer parte do Colégio Apostólico. Certo momento em que Jesus parecia correr perigo, Tomé disse: «Vamos nós também, para morrer com Ele.» (Jo 11,16)
Agora estava profundamente chocado com o “fracasso” da vida de Jesus e não queria correr mais riscos. Procurava a evidência, para acreditar, o que não faz sentido, mas nos tenta tantas vezes. Confiamos mas… queremos ver primeiro realizado o nosso desejo… E isto não é confiar: É desconfiar, como o vendedor que quer ver primeiro o dinheiro, antes de entregar a mercadoria. Para nos corrigir deste erro, Jesus disse a Tomé: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto”.»
Jesus queria dele uma entrega de olhos fechados, fiado apenas no testemunho que a Igreja presente no Cenáculo lhe oferecia. Todos somos tentados a fundamentar a nossa fé nos sentidos, na segurança humana.
O Senhor Ressuscitado pede-nos uma entrega com a confiança total, como a da criança muito pequenina, no coração e nos braços da sua mãe. Jesus aparece então, oito dias depois, para salvar Tomé, sem ceder à sua visão errada do que é crer.
• A misericórdia de Jesus para com Tomé. «Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou Se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”. Depois disse a Tomé: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente”».
Jesus Ressuscitado espera pacientemente oito dias, para que Tomé tenha tempo de cair em si, revendo a sua posição. Depois, vem retirá-lo do beco sem saída em que se tinha metido, Rejeitando a mediação da Igreja na fé e mantendo a sua desconfiança das verdades da fé, a tal ponto que quer ver antes de acreditar – de se fiar em Deus – o que não faz sentido.
Não fazia sentido a atitude e Tomé, nem a nossa, quando queremos ver primeiro as seguranças humanas oferecidas por Deus, para somente depois confiarmos n’Ele.
Como podemos dizer que confiamos num amigo que nos pede para levar uma determinada compra, mas não tem ali o dinheiro e no-lo dará depois, se, desconfiados, nos recusamos a fazê-lo?
Para confiarmos inteiramente em Deus, também nas ocasiões em que nos parece não haver segurança, temos de alicerçar o nosso abandono ao Senhor na nossa filiação divina. Deus é meu Pai e nunca falta, porque me ama infinitamente.
Foi assim a fé de Nossa Senhora e de S. José. Lançaram-se confiados no escuro, sem ver nada, com a certeza da fé de que, para além de tudo, estavam abertas, no lugar certo, as mãos acolhedoras do nosso Deus.
Fala o Santo Padre
«Durante a Paixão, os discípulos tinham abandonado o Senhor e sentiam-se em culpa.
Mas Jesus, ao encontrá-los, não lhes prega um longo sermão.
A eles, que estavam feridos dentro, mostra as suas chagas.
Tomé pode tocá-las, e descobre o amor: descobre quanto Jesus sofrera por ele, que O tinha abandonado.»
No domingo passado, celebramos a ressurreição do Mestre, hoje assistimos à ressurreição do discípulo. Passou uma semana; semana esta, que os discípulos, apesar de ter visto o Ressuscitado, transcorreram cheios de medo, mantendo «as portas fechadas» (Jo 20, 26), sem conseguir sequer convencer da ressurreição o único ausente, Tomé. Que faz Jesus perante esta incredulidade medrosa? Regressa, coloca-Se na mesma posição, «no meio» dos discípulos, e repete a mesma saudação: «A paz esteja convosco!» (Jo 20, 19.26). Começa de novo. A ressurreição do discípulo começa daqui, desta misericórdia fiel e paciente, da descoberta que Deus não Se cansa de estender-nos a mão para nos levantar das nossas quedas. Quer que O vejamos assim: não como um patrão com quem devemos ajustar contas, mas como o nosso Papá, que sempre nos levanta. Na vida, caminhamos tateando, como uma criança que começa a andar, mas cai; dá alguns passos e cai novamente; cai e volta a cair, mas sempre o pai a levanta. A mão que nos levanta sempre é a misericórdia: Deus sabe que, sem misericórdia, ficamos caídos no chão; ora, para caminhar, precisamos de ser postos de pé.
Podes objetar: «Mas, eu não paro mais de cair»! O Senhor sabe disso, e está sempre pronto a levantar-te de novo. Não quer ver-nos a pensar continuamente nas nossas quedas, mas que olhemos para Ele, que, nas quedas, vê filhos a levantar; nas misérias, vê filhos a amar com misericórdia. Hoje, nesta igreja que se tornou santuário da misericórdia em Roma, no domingo que São João Paulo II dedicou à Misericórdia Divina há vinte anos, acolhamos confiadamente esta mensagem. A Santa Faustina, disse Jesus: «Eu sou o amor e a misericórdia em pessoa; não há miséria que possa superar a minha misericórdia» (Diário, 14/IX/1937). Outra vez, quando a Santa confidenciava feliz a Jesus que Lhe oferecera toda a sua vida, tudo o que tinha, ouviu d’Ele uma resposta que a surpreendeu: «Não me ofereceste aquilo que é verdadeiramente teu». Que teria então guardado para si a santa freira? Diz-lhe amavelmente Jesus: «Filha, dá-me a tua miséria» (Diário, 10/X/1937). Podemos, também nós, interrogar-nos: «Dei a minha miséria ao Senhor? Mostrei-Lhe as minhas quedas, para que me levante?» Ou há algo que conservo ainda dentro de mim? Um pecado, um remorso do passado, uma ferida que trago dentro, rancor contra alguém, mágoa contra uma pessoa em particular... O Senhor espera que Lhe levemos as nossas misérias, para nos fazer descobrir a sua misericórdia.
Voltemos aos discípulos… Durante a Paixão, tinham abandonado o Senhor e sentiam-se em culpa. Mas Jesus, ao encontrá-los, não lhes prega um longo sermão. A eles, que estavam feridos dentro, mostra as suas chagas. Tomé pode tocá-las, e descobre o amor: descobre quanto Jesus sofrera por ele, que O tinha abandonado. Naquelas feridas, toca com mão a terna proximidade de Deus. Tomé, que chegara atrasado, quando abraça a misericórdia, ultrapassa os outros discípulos: não acredita só na ressurreição, mas também no amor sem limites de Deus. E faz a profissão de fé mais simples e mais bela: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28). Eis a ressurreição do discípulo: realiza-se quando a sua humanidade, frágil e ferida, entra na de Jesus. Aqui dissolvem-se as dúvidas; aqui Deus torna-Se o meu Deus; aqui recomeça a aceitar-se a si mesmo e a amar a própria vida.
Queridos irmãos e irmãs, na provação que estamos a atravessar, também nós, com os nossos medos e as nossas dúvidas como Tomé, nos reconhecemos frágeis. Precisamos do Senhor, que, mais além das nossas fragilidades, vê em nós uma beleza indelével. Com Ele, descobrimo-nos preciosos nas nossas fragilidades. Descobrimos que somos como belíssimos cristais, simultaneamente frágeis e preciosos. E se formos transparentes diante d’Ele como o cristal, a sua luz – a luz da misericórdia – brilhará em nós e, por nosso intermédio, no mundo. Eis aqui o motivo para exultarmos «de alegria – como diz a primeira Carta de Pedro –, se bem que, por algum tempo, [tenhamos] de andar aflitos por diversas provações» (1, 6).
Nesta festa da Divina Misericórdia, o anúncio mais encantador chega através do discípulo mais atrasado. Só faltava ele, Tomé. Mas o Senhor esperou por ele. A misericórdia não abandona quem fica para trás. […] Somos todos frágeis, todos iguais, todos preciosos. […] Aprendamos com a comunidade cristã primitiva, que recebera misericórdia e vivia usando de misericórdia, como descreve o livro dos Atos dos Apóstolos: os crentes «possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um» (At 2, 44-45). Isto não é ideologia; é cristianismo.
[…] Depois de encontrar Jesus, Santa Faustina escreveu: «Numa alma sofredora, devemos ver Jesus Crucificado e não um parasita nem um fardo... [Senhor], dais-nos a possibilidade de nos exercitarmos nas obras de misericórdia, e nós exercitamo-nos nas murmurações» (Diário, 06/IX/1937). Mas, um dia, ela própria se lamentou com Jesus dizendo que, para ser misericordiosa, passava por ingénua: «Senhor, muitas vezes abusam da minha bondade». E Jesus retorquiu: «Não importa, minha filha! Não te preocupes! Tu sê sempre misericordiosa para com todos» (Diário, 24/XII/1937). Para com todos: não pensemos só nos nossos interesses, nos interesses parciais. […]
Hoje, o amor desarmado e convincente de Jesus ressuscita o coração do discípulo. Também nós, como o apóstolo Tomé, acolhamos a misericórdia, que é a salvação do mundo. E usemos de misericórdia para com os mais frágeis: só assim reconstruiremos um mundo novo.
Papa Francisco, Homilia, Igreja do Santo Espírito em Sassia, 19 de abril de 2020
Oração Universal
(Se estiverem presentes adultos que tenham sido baptizados na última Páscoa, as intenções da oração dos fiéis poderão hoje ser propostas por eles).
Irmãs e irmãos em Cristo Ressuscitado:
À semelhança da primeira comunidade cristã,
que orava num só coração e numa só alma,
peçamos nós também pela Igreja e pelo mundo inteiro.
Oremos (cantando), numa só voz:
Pela ressurreição do vosso Filho, ouvi-nos, Senhor.
1. Para que todos os fiéis da santa Igreja se reúnam em cada Páscoa semanal,
para escutar a Palavra, partir o pão e orar juntos, como os primeiros fiéis, oremos, numa só voz.
Pela ressurreição do vosso Filho, ouvi-nos, Senhor.
2. Para que todos os novos baptizados vençam alegremente a dolorosa prova
a que é submetida a sua fé recente, mais preciosa do que o ouro perecível,
oremos, numa só voz.
Pela ressurreição do vosso Filho, ouvi-nos, Senhor.
3. Para que todos os cristãos alcancem a graça de acreditar sem terem visto
e se encontrem no seu íntimo com Jesus Cristo Ressuscitado e O adorem,
oremos, numa só voz.
Pela ressurreição do vosso Filho, ouvi-nos, Senhor.
4. Para que o Senhor ressuscitado dê a paz e a alegria aos que andam tristes,
aos pobres, infelizes e aos doentes, perseguidos ou que estão em guerra, oremos, numa só voz.
Pela ressurreição do vosso Filho, ouvi-nos, Senhor.
5. Para que a comunidade aqui presente, que recebeu o perdão dos pecados,
adore o Pai, se entregue a Cristo e viva do Espírito, e ajude outras pessoas, oremos, numa só voz.
Pela ressurreição do vosso Filho, ouvi-nos, Senhor.
6. Para que as crianças e adultos que receberam o Batismo nesta mesma Páscoa
encontrem na certeza da sua filiação divina a fonte da sua alegria e otimismo,
oremos, numa só voz.
Pela ressurreição do vosso Filho, ouvi-nos, Senhor.
Senhor, nosso Deus e nosso Pai,
abri o coração dos vossos filhos
ao grande dom de Jesus ressuscitado
e dai-nos a graça de O encontrar, cada domingo, na Palavra proclamada e na fracção do Pão.
Ele que vive e reina por todos os séculos dos séculos
Liturgia Eucarística
Introdução
Cristo Ressuscitado, presente na Sua Igreja, dirige-nos a Sua Palavra e alimenta-nos com o Seu Corpo e Sangue.
Agora que o mesmo Jesus, pelo ministério do sacerdote, prepara o pão e o vinho para os transubstanciar no Seu Corpo e Sangue, avivemos a nossa fé na Presença Real da Eucaristia.
Cântico do ofertório: Misericordes sicut Pater – Hino do ano santo da misericórdia.
Oração sobre as oblatas: Aceitai benignamente, Senhor, as ofertas do vosso povo [e dos vossos novos filhos], de modo que, renovados pela profissão da fé e pelo Baptismo, mereçamos alcançar a bem-aventurança eterna. Por Nosso Senhor.
Prefácio pascal I [mas com maior solenidade neste dia]: p. 469 [602-714]
No Cânone Romano dizem-se o Communicantes (Em comunhão com toda a Igreja) e o Hanc igitur (Aceitai benignamente, Senhor) próprios. Nas Orações Eucarísticas II e III fazem-se também as comemorações próprias.
Santo: F. da Silva, NRMS 14
Saudação da Paz
Com a Sua manifestação gloriosa no Cenáculo, Jesus encheu de paz e alegria os Apóstolos e Discípulos ali reunidos.
Peçamos-Lhe para nós e para todas as pessoas e nações o dom da verdadeira paz, fundada na Caridade.
Saudai-vos na paz de Cristo!
Monição da Comunhão
O mesmo Senhor Ressuscitado que manifestou a Sua glória no Cenáculo, dá-Se-nos agora como Alimento que nos fortalece neste caminhar para o Céu.
Peçamos-Lhe que seja misericordioso para connosco e nos encha o coração de misericórdia para com as outras pessoas.
Cântico da Comunhão: Aproxima a tua mão – F. Santos, BML, 66
cf. Jo 20, 27
Antífona da comunhão: Disse Jesus a Tomé: Com a tua mão reconhece o lugar dos cravos. Não sejas incrédulo, mas fiel. Aleluia.
Cântico de acção de graças: Cantarei eternamente – M. Luís, NRMS, 6 (I)
Oração depois da comunhão: Concedei, Deus todo-poderoso, que a força do sacramento pascal que recebemos permaneça sempre em nossas almas. Por Nosso Senhor.
Ritos Finais
Monição final
Agradeçamos o Senhor a Sua misericórdia para connosco e usemos de misericórdia para com os que vivem ao nosso lado, para alcançarmos misericórdia.
Cântico final: Ressuscitou, ressuscitou, – A. Cartageno, CNPL, pg 843
Homilias Feriais
TEMPO PASCAL
TEMPO PASCAL
2ª SEMANA
2ª Feira, 17-IV: Uma vida nova.
Act 4, 23-31 / Jo 3, 1-8
Disse Jesus a Nicodemos: Não te admires de Eu te ter dito: Vós tendes de nascer de novo.
Jesus fala de um novo nascimento: pela água e pelo Espírito Santo (EV). O baptizado recebe uma nova vida, a vida sobrenatural, é filho adoptivo de Deus. Tu és meu filho (SR). Participa da sua natureza divina pela graça, passa a ser templo do Espírito Santo.
Esta vida nova, com o decorrer do tempo, vai exigir pequenas conversões, que se podem levar a cabo com a oração. Depois de eles terem rezado, todos ficaram cheios do Espírito Santo (LT). A oração ajuda a ver os acontecimentos e as pessoas como Deus as vê. E depois começaram a pregar com desassombro a palavra de Deus.
3ª Feira, 18-IV: Tempo de renovação.
Act 4, 32-37 / Jo 3, 7-15
A multidão dos que haviam abraçado a fé, tinha um só coração e uma só alma.
Aproveitemos as palavras de Jesus a Nicodemos. Vós tendes que nascer de novo (EV). Um dos aspectos da renovação pode ser o modo de vida dos primeiros cristãos. A multidão dos que tinham abraçado a fé, tinha um só coração e uma só alma (LT). Os seus testemunhos são dignos de toda a fé (SR).
Eram também um bom exemplo do ideal da comunhão que se vivia na Igreja naqueles tempos. Faziam uma partilha, que incluía não só os bens espirituais, mas também os materiais. Vendiam as suas terras e traziam o produto das vendas aos Apóstolos (LT).
4ª Feira, 19-IV: A Palavra da vida.
Act 5, 17-26 / Jo 3, 16-21.
Deus amou de tal modo o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o homem, que acredita nEle, não se perca.
Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que seja salvo por Ele (EV). E assim nos devemos lembrar do amor de Deus por cada um de nós.
Deus não quer que se perca um só dos seus ensinamentos. Para isso, é preciso anunciar a todos, as palavras de vida, ensinadas por Cristo, como disse o Anjo aos Apóstolos, que estavam na prisão. Ide apresentar-vos no templo, a anunciar ao povo todas estas palavras de vida (LT). Os últimos Papas têm recordado que a Bíblia é um tesouro para a Igreja e para todo o cristão. Procurei o Senhor e Ele atendeu-me (SR).
5ª Feira, 20-IV: A secularização da cultura actual.
Act 5, 27-33 / Jo 3, 31-36
O sumo sacerdote: já vos demos a ordem de não ensinar em nome de Jesus. E vós enchestes Jerusalém da nova doutrina.
Nos nossos tempos, a cultura secularizada pretende impor-nos o mesmo silêncio (LT). Quer implantar uma ordem temporal sem Deus. E, assim, cai nos maiores ataques à dignidade humana: o aborto, o acasalamento de pessoas do mesmo sexo, etc.
A nossa reação há-de ser como a dos Apóstolos: deve obedecer-se antes a Deus do que aos homens (LT). E pedir ajuda a Deus. A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal, para apagar da terra a sua memória (SR). E não prescindamos da nossa fé em todas as circunstâncias: no mundo do trabalho, da família, da educação, etc.
6ª Feira, 21-IV: Alimentação saudável da alma.
Act 5, 34-42 / Jo 6, 1-15
Então Jesus tomou o pão e distribuí-o aos convivas. E fez o mesmo com os peixes.
Jesus ajuda a multidão a matar a fome (EV), mas a sua missão fundamental é a libertação do pecado e o fornecimento dos alimentos adequados para a alma. Quando rezamos o Pai-nosso pedimos o ‘pão nosso de cada dia nos dai hoje’. Referimo-nos às necessidades materiais e também ao Pão Eucarístico.
É bom que o nosso corpo esteja saudável, mas o melhor é que a alma esteja de boa saúde espiritual. Os Apóstolos alegram-se por terem sido açoitados, por causa do nome de Jesus (LT). Contamos com a ajuda do Senhor. O Senhor é a ajuda da minha vida (SR).
Sábado, 22-IV: As tempestades na Igreja e nas nossas almas.
Act 6, 1-7 / Jo 6, 16-21
Como soprava intensa ventania, o mar ia-se encrespando. E tiveram medo. Mas Jesus disse-lhes: Sou Eu, não temais!
A Tradição viu neste barco, assolado por grande tempestade (EV), a imagem da Igreja, submetida às perseguições e heresias. Estes ataques continuam com o martírio dos crentes e ataques aos ensinamentos do Papa. Nada temamos: Cristo está presente na Igreja até ao fim dos tempos. Aumentemos o nosso amor à Igreja e ao Papa.
A ajuda aparece também em pequenos problemas, como a ordenação dos primeiros diáconos (LT). Confiemos na ajuda do Senhor, para os nossos pequenos problemas. Ele está connosco: Os olhos do Senhor estão voltados para os que dEle esperam (SR).
Celebração e Homilia: Fernando Silva
Nota Exegética: Geraldo Morujão
Homilias Feriais: Nuno Romão
Sugestão Musical: José Carlos Azevedo