1º Domingo da Quaresma

26 de Fevereiro de 2023

 

 

 

RITOS INICIAIS

 

Cântico de entrada:  Irmãos convertei o vosso coração – J. P. Lecot, CNPL, pg543

Salmo 90, 15-16

Antífona de entrada: Quando me invocar, hei-de atendê-lo; hei-de libertá-lo e dar-lhe glória. Favorecê-lo-ei com longa vida e lhe mostrarei a minha salvação.

 

Não se diz o Glória.

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

Começamos na Quarta Feira passada, com a imposição das cinzas, o tempo litúrgico da Quaresma no qual a Igreja nos chama a preparar a renovação das promessas do Batismo – ou o mesmo Batismo, quando catecúmenos – na Vigília Pascal.

A Quaresma foi buscar o seu nome ao número quarenta, os dias da sua duração, em memória dos quarenta dias e noites que Jesus passou no Monte da Quarentena, em oração e jejum.

Acolhamos, pois, este convite ao exame da nossa vida, à luz da Palavra de Deus e à oração e penitência, em reparação dos nossos pecados.

 

Acto penitencial

 

Sentimos muita dificuldade em aceitar que somos pecadores. Mesmo perante os pecados reais, atribuímos as culpas aos outros, atirando a responsabilidade para os ombros deles.

Deixamo-nos enganar, como Adão e Eva, pela serpente infernal, e logo ficamos despojados da graça santificante, da alegria de filhos de Deus e da paz da consciência.

Reconheçamos a nossa condição de pecadores, e peçamos humildemente perdão pelos pecados por pensamentos, palavras, obras e omissões, prometendo ao Senhor emenda de vida.

 

(Tempo de silêncio. Apresentamos, como alternativa, elementos para o esquema C do Ordinário da Missa)

 

•    Senhor Jesus:  Deixamo-nos arrastar para o que agrada aos sentidos,

     sem repararmos que o conforto, sem mortificação, nos afasta de Vós.

     Senhor, tende piedade de nós.

 

     Senhor, tende piedade de nós.

 

•    Cristo: Somos atraídos, muitas vezes, por esta onda de consumismo

     e nunca estamos contentes com o que temos, vencidos pelo descarte.

     Cristo, tende piedade de nós.

 

     Cristo, tende piedade de nós.

 

•    Senhor Jesus: A soberba tenta-nos, por vezes, a compararmo-nos,

     e achamos sempre que somos melhores dos que as outras pessoas.

     Senhor, tende piedade de nós.

 

     Senhor, tende piedade de nós.

 

Deus todo poderoso tenha compaixão de nós,

perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.

 

Oração colecta: Concedei-nos, Deus omnipotente, que, pela observância quaresmal, alcancemos maior compreensão do mistério de Cristo e a nossa vida seja um digno testemunho. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

Liturgia da Palavra

 

Primeira Leitura

 

Monição: O Senhor narra-nos, no Livro do Génesis, a história do pecado dos nossos primeiros pais, Adão e Eva.

Esta narração é um alerta para nós, pois a serpente infernal continua a tentar-nos, usando sempre o mesmo engano.

 

Génesis 2, 7-9; 3, 1-7

 

7O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, insuflou em suas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivo. 8Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, a oriente, e nele colocou o homem que tinha formado. 9Fez nascer na terra toda a espécie de árvores, de frutos agradáveis à vista e bons para comer, entre as quais a árvore da vida, no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal. 1Ora, a serpente era o mais astucioso de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: «É verdade que Deus vos disse: ‘Não podeis comer o fruto de nenhuma árvore do jardim’?» 2A mulher respondeu: «Podemos comer o fruto das árvores do jardim; 3mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus avisou-nos: ‘Não podeis comer dele nem tocar-lhe, senão morrereis’». 4A serpente replicou à mulher: «De maneira nenhuma! Não morrereis. 5Mas Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como deuses, ficando a conhecer o bem e o mal». 6A mulher viu então que o fruto da árvore era bom para comer e agradável à vista, e precioso para esclarecer a inteligência. Colheu o fruto e comeu-o; depois deu-o ao marido, que estava junto dela, e ele também comeu. 7Abriram-se então os seus olhos e compreenderam que estavam despidos. Por isso, entrelaçaram folhas de figueira e cingiram os rins com elas.

 

O «relato» bíblico das origens, de que hoje se lêem alguns vv., não pode ser lido ingenuamente como um relato histórico daquilo que sucedeu no início do Universo e do ser humano, «porque, não se trata de saber quando e como surgiu materialmente o cosmos, nem quando é que apareceu o homem; mas, sobretudo, de descobrir qual o sentido de tal origem: se foi determinada pelo acaso, por um destino cego ou uma fatalidade anónima, ou, antes, por um Ser transcendente, inteligente e bom, que é Deus. E, se o mundo provém da sabedoria e da bondade de Deus, qual a razão do mal? De onde vem o mal? Quem é responsável pelo mal? E será que existe uma libertação do mesmo?» (Catecismo da Igreja Católica, nº 284). 

7 «Pó da terra… sopro de vida»: a narrativa tem como ponto de referência não só o facto de que, pela sua corporeidade, o homem pertence à terra e, ao morrer, se reduz a pó, mas também o facto de que, na língua hebraica, «homem» (adam) se diz com o mesmo vocábulo com que se designa a terra avermelhada (adamáh); mas, ao mesmo tempo, o homem está animado por um princípio («sopro») de vida, que não vem da terra. A representação de Deus como «oleiro», independentemente das notáveis semelhanças com outros relatos extra-bíblicos, parece sugerir que o homem está nas mãos de Deus como o barro nas mãos do oleiro (cf. Is 29,16; Jer 18,6; Rom 9,20-21; Job 34,14-15).

2, 8-9 Um jardim. Nos LXX lê-se «parádeisos»; daqui a habitual designação de «paraíso (terrestre)». O jardim de «delícias» (éden) permite que o leitor pense, mais que num lugar geográfico, num estado de felicidade original e de comunhão com Deus; a «árvore da vida» simboliza a vida em plenitude e a imortalidade (cf. Gn 3,22); «a árvore da ciência do bem e do mal» é o símbolo da fonte do recto actuar moral, o projecto do Criador, que o homem não pode manipular nem alterar a seu bel-prazer sem cavar a sua ruína.

3,1-7 Num relato simbólico, numa linguagem cheia de imagens muito expressivas, seja qual for a origem literária destas figuras, deixa-se ver que os males de que o ser humano padece não procedem de Deus, mas do pecado, que, desde a origem, destruiu a harmonia do homem com Deus, consigo próprio e com a criação, com consequências desastrosas que afectam toda a humanidade (cf. a 2ª leitura de hoje: Rom 5,12-19). Note-se, porém, que uma interpretação literal fundamentalista desta narrativa corre o perigo de levar ao absurdo de considerar a lei moral como algo caprichoso e extrínseco à natureza humana.

1 «A serpente», um símbolo do demónio, cf. Apoc 12,9, onde se fala da «serpente antiga», o inimigo de Deus e dos amigos de Deus, que aqui aparece também como «caluniador» (este é o significado do seu nome grego, «diábolos»), ao apresentar a ordem divina como má, uma prepotência da parte de Deus (v. 5). Note-se a profunda observação psicológica posta na encenação do processo da tentação: estão aqui representadas as tentações de sempre; primeiro, uma insinuação inocente – «é verdade que Deus vos proibiu...», a que se segue o efeito de começar a prestar atenção àquele a quem não se pode dar ouvidos; finalmente, uma vez aberto o diálogo, no momento preciso, o tentador entra a matar, mentindo descaradamente (cf. Jo 8,44) – «de maneira nenhuma! Não morrereis! Mas Deus sabe que...» (v. 5). A Escritura e a Tradição da Igreja vêem no demónio, satanás, ou diabo, um anjo criado bom por Deus, mas que se tornou mau.

5 «Sereis como deuses, ficando a conhecer o bem e o mal»: Isto não significa alcançar a omnisciência divina, nem adquirir o poder de discernir o bem do mal. Este «conhecer o bem e o mal» corresponde a decidir por si o que é bem e o que é mal; trata-se, portanto, de encenar uma tentação de soberba pela qual a criatura não se conforma com a sua condição de criatura, e não aceita o supremo domínio de Deus.

6 «Fruto… para esclarecer a inteligência». Sendo-nos desconhecido em que consistiu o pecado das origens, porque Deus não no-lo revelou, alguns exegetas procuram então averiguar qual é o tipo de pecado que o hagiógrafo aqui descreve, e vêem nesta linguagem um colorido de magia e feitiçaria (um conhecimento oculto), ou até mesmo uma alusão ao culto das serpentes para a fertilidade, de que o hagiógrafo pretenderia afastar os seus contemporâneos tão atreitos a estes desvios religiosos.

7 «Compreenderam que estavam despidos». Note-se a fina ironia latente no contraste com a promessa sedutora: «abrir-se-ão os vossos olhos» (v. 6); os olhos abrem-se, sim, mas para contemplarem a própria nudez. Assim fica simbolizado o desgosto e a frustração que se segue ao gosto do pecado, e também a noção teológica da ruptura da harmonia primordial, nomeadamente entre o homem e a mulher (cf. 2,25).

 

Salmo Responsorial     Sl 50 (51), 3-4.5-6a.12-13.14.17 (R. cf. 3a)

 

Monição: Perante a recordação dos nossos pecados, que a desobediência dos nossos primeiros pais traz à nossa memória, o Espírito Santo move-nos a fazer um acto contrição.

Coloca em nossos lábios o salmo que David rezou depois do seu adultério, o acto de contrição mais intenso de toda a Sagrada Escritura.

 

Refrão:         Pecámos, Senhor: tende compaixão de nós.

 

Ou:                Tende compaixão de nós, Senhor,

porque somos pecadores.

 

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,

pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.

Lavai-me de toda a iniquidade

e purificai-me de todas as faltas.

 

Porque eu reconheço os meus pecados

e tenho sempre diante de mim as minhas culpas.

Pequei contra Vós, só contra Vós,

e fiz o mal diante dos vossos olhos.

 

Criai em mim, ó Deus, um coração puro

e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.

Não queirais repelir-me da vossa presença

e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

 

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação

e sustentai-me com espírito generoso.

Abri, Senhor, os meus lábios

e a minha boca cantará o vosso louvor.

 

 

Segunda Leitura

 

Monição: S. Paulo, na carta aos fiéis da Igreja de Roma, anima-nos a trabalhar, sem desânimo, pela nossa santificação, pois Jesus Cristo veio redimir-nos.

Na verdade, assim como pelo pecado de um só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça de um só, virá para todos a justificação que dá a vida.

 

Forma longa: Romanos 5, 12-19;          forma breve: Romanos 5, 12.17-19

 

Irmãos: 12Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim também a morte atingiu todos os homens, porque todos pecaram. [13De facto, até à Lei, existia o pecado no mundo. Mas o pecado não é levado em conta, se não houver lei. 14Entretanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo para aqueles que não tinham pecado por uma transgressão à semelhança de Adão, que é figura d’Aquele que havia de vir. 15Mas o dom gratuito não é como a falta. Se pelo pecado de um só pereceram muitos, com muito mais razão a graça de Deus, dom contido na graça de um só homem, Jesus Cristo, se concedeu com abundância a muitos homens. 16E esse dom não é como o pecado de um só: o julgamento que resultou desse único pecado levou à condenação, ao passo que o dom gratuito, que veio depois de muitas faltas, leva à justificação.] 17Se a morte reinou pelo pecado de um só homem, com muito mais razão, aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça, reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo. 18Porque, assim como pelo pecado de um só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça de um só, virá para todos a justificação que dá a vida. 19De facto, como pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, muitos se tornarão justos.

 

Estamos diante dum texto da máxima importância para a Teologia e para a vida cristã. As controvérsias doutrinais contribuíram para que o ponto central das afirmações de Paulo se tenha feito deslocar da justificação pela graça para o pecado, e da obra salvadora de Cristo para a obra demolidora de Adão. É certo que não faria sentido falar da libertação por Cristo do pecado, da condenação e da morte, sem que estes males tivessem entrado de forma poderosa no mundo. Mas Adão não passa duma figura, por antítese, de Cristo, em virtude duma argumentação a fortiori de tipo rabínico (o chamado qal wa-hómer). Mas, ainda que, como pensam muitos exegetas, Paulo não trate directa e expressamente do tema do pecado original (só indirectamente), este texto não deixa de oferecer uma base legítima e sólida para a doutrina proposta pelo Magistério da Igreja, assim resumida no Catecismo da Igreja Católica, nº 403:  «Depois de S. Paulo, a Igreja sempre ensinou que a imensa miséria que oprime os homens, e a sua inclinação para o mal e para a morte não se compreendem sem a ligação com o pecado de Adão e o facto de ele nos transmitir um pecado de que todos nascemos infectados e que é a ‘morte da alma’. A partir desta certeza de fé, a Igreja confere o Baptismo para a remissão dos pecados, mesmo às crianças que não cometeram qualquer pecado pessoal».

12 «Porque todos pecaram» A Vulgata tinha uma tradução enexacta: «in quo omnes peccaverunt», tradução que o Concílio de Trento (ses. V,17) usou para definir como dogma de fé a doutrina do pecado original, um detalhe que não anula o valor da doutrina, que aliás correponde ao conjunto do ensinamento paulino neste mesmo capítulo. A Nova Vulgata já tem a tradução corrigida: «eo quod omnes peccaverunt».

 

Aclamação ao Evangelho        Mt 4, 4b

 

Monição: Nesta Quaresma que está a principiar, o Senhor lembra-nos que esta vida é um combate e oferece-nos a Sua ajuda para o vencer.

Aclamemos o Evangelho que vai ser proclamado, pois ele ilumina as nossas vidas e enche-nos de otimismo e de esperança na vitória.

 

Escolher um dos sete refrães:

 

Refrão 1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor.

Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.

Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.

Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.

Refrão 5: Louvor a Vós, Jesus Cristo, Rei da eterna glória.

Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.

Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.

 

Cântico: Glória a Vós ó Cristo, M. Luís, NRMS, 1(I)

 

Nem só de pão vive o homem,

mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.

 

 

Evangelho

 

São Mateus 4, 1-11

 

1Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Demónio. 2Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. 3O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães». 4Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’». 5Então o Demónio conduziu-O à cidade santa, levou-O ao pináculo do templo e disse-Lhe: 6«Se és Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Deus mandará aos seus Anjos que te recebam nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’». 7Respondeu-lhe Jesus: «Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». 8De novo o Demónio O levou consigo a um monte muito alto, mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, 9e disse-Lhe: «Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares». 10Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto’». 11Então o Demónio deixou-O e logo os Anjos se aproximaram e serviram Jesus.

 

Antes de mais, convém advertir que as tentações de Jesus não aparecem como uma tentação ocasional qualquer, nem sequer um ataque mais violento, mas como um duelo mortal e decisivo entre dois inimigos irredutíveis. Com efeito, não se trata de umas tentações dirigidas a fazer com que Jesus caia em meras faltas pessoais (gula, orgulho, avareza), mas têm o carácter de um ataque frontal para desvirtuar toda a obra de Jesus, desviando-a da vontade do Pai. Com efeito, «as tentações acompanham todo o caminho de Jesus, e a narração das tentações apresenta-se… uma antecipação, na qual se condensa a luta de todo o caminho. […] Os 40 dias de jejum abrangem o drama da história, que Jesus assume em Si mesmo e suporta até ao fundo». (Bento xvi, Jesus de Nazaré, pp. 57.60).

Uma consideração superficial desta passagem evangélica poderia levar-nos a encarar estas tentações até como ridículas, absurdas ou míticas. Vale pena ver o belo e profundo comentário do Papa Bento na referida obra. Mas vejamos brevemente o enorme alcance de cada uma das três tentações:

3-4 Na primeira tentação, trata-se de fazer enveredar a Jesus pelo caminho das esperanças materialistas do povo que esperava um messias que lhe trouxesse bem-estar, riqueza, prosperidade, fertilidade, pão e prazer.

5-7 Na segunda tentação, aquele «lança-te daqui abaixo», constitui um apelo à esperança judaica num messias a descer espectacularmente do céu, à vista do povo. Mas Jesus renuncia decididamente à fácil tentação de ser um messias milagreiro e espectacular, dizendo um decidido não a um actuar à base do triunfo pessoal, do êxito humano.

8-10 Na terceira tentação, aparece diante de Jesus a sedução de se mover na linha da esperança popular num messianismo político, vitorioso, dominador dos Romanos e do mundo inteiro, a tentação de reduzir a instauração do Reino de Deus à instauração dum reino temporal.

Ninguém foi testemunha destas tentações, mas Jesus, ao falar aos Apóstolos do Reino de Deus, não deixa de os prevenir contra umas tentações que haveriam de vir a sentir também os seus discípulos ao longo da história. Também assim Jesus «se tornava em tudo semelhante aos seus irmãos, para se tornar um Sumo Sacerdote misericordioso» (Hebr 2,17). E Jesus aparece a ensinar-nos a resistir, sem dar ouvidos, como Eva, aos enganos do mafarrico, sem entrar em diálogo com ele, mas apoiando-nos sempre na certeza e na luz da Palavra de Deus e na sua graça, que Jesus ensinou a pedir no «Pai-Nosso»: «não nos deixeis cair em tentação» e «livrai-nos do Maligno» (Mt 6,13).

 

Sugestões para a homilia

 

• Somos tentados

• Jesus ensina-nos a vencer a prova

 

1. Somos tentados

 

Quando chegamos a qualquer repartição pública, perguntam-nos, invariavelmente, pela nossa identidade e apresentamos o nosso Cartão de Cidadão ou Bilhete de Identidade.

Qual a nossa identidade real diante de Deus? Que fazemos nesta vida da terra? Como aparecemos aqui?

São perguntas que uma pessoa dotada de inteligência deve fazer e a que a Palavra de Deus vai dar uma resposta.

Nascemos da misericórdia de Deus. «O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, insuflou em suas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivo

O Livro do Génesis – o primeiro da Sagrada Escritura e do Pentateuco, narra-nos a formação de Adão, o primeiro homem.

O Senhor convida-nos, neste princípio da Quaresma, a procurar a nossa identidade, investigando as nossas origens. Há poucos anos ainda, nenhum de nós existia, a não ser no pensamento do nosso Deus. Não pedimos para ser mais um eleito chamado à vida imortal, porque nem sequer existíamos. Não contente com chamar-nos a esta vida imortal, o Senhor elegeu-nos para comungar, com a Santíssima Trindade, a felicidade eterna do Paraíso.

Estamos agora num breve tempo de prova, para dizermos ao Senhor, com obras, que futuro queremos por toda a eternidade: o amor ou o ódio; a Sua companhia, com os anjos e os santos, ou o demónio; a felicidade ou a infelicidade eterna.

Livres, com responsabilidade. «Depois, o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, a oriente, e nele colocou o homem que tinha formado. Fez nascer na terra toda a espécie de árvores, de frutos agradáveis à vista e bons para comer, entre as quais a árvore da vida, no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem e do mal

O Senhor criou-nos com inteligência, vontade e liberdade. Podemos escolher livremente o que quisermos.

Ao formar o homem, Deus faz-nos lembrar um pai que prepara tudo com um carinho imenso para o filho que vai nascer. Tudo Lhe parece pouco para nos demonstrar o Seu Amor.

O Senhor criou todo o universo e colocou nele o homem como rei da criação, com toda a natureza criada ao seu serviço.

Deve usar a vida e todas as coisas criadas e, com responsabilidade, eleger, pelas suas opções, o género de eternidade que deseja: feliz, na obediência a Deus; ou infeliz, na rebeldia.

 A obediência a Deus está figurada no respeito pela árvore da ciência do bem e do mal, e mandato de se abster de comer os seus frutos. Trata-se de uma imagem misteriosa que significa, no fim de contas, a aceitação de limites para o uso das coisas criadas, segundo o projeto de Deus.

Os Seus Mandamentos não constituem obstáculos à nossa felicidade, já nesta vida, como o tentador nos faz pensar, mas guias para a nossa felicidade e desenvolvimento pleno nesta vida. O pecado, em todas as suas modalidades, deforma. Basta, para o constatar, olharmos para as pessoas que se deixaram apanhar por ele. Não há pessoas mais equilibradas e normais do que os santos.

Somos tentados pelo demónio. «Ora, a serpente era o mais astucioso de todos os animais do campo que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos disse: “Não podeis comer o fruto de nenhuma árvore do Jardim”?” A mulher respondeu: “Podemos comer o fruto das árvores do jardim; mas, quanto ao fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus avisou-nos: “Não podeis comer dele nem tocar-lhe, senão morrereis””.»

A serpente de que se fala aqui é o demónio. Revoltou-se contra Deus no Céu e foi precipitado no abismo da infelicidade, com todos os seus seguidores.

Não contente com a sua desgraça eterna, por ódio e Deus e por inveja de podermos ir para o céu, não pára de nos tentar, com enganos, para nos desviar de lá.

A existência do demónio é uma verdade de fé. Ele personifica o Mal de que Jesus manda rezar no Pai Nosso, para que o Pai nos livre dele, do Maligno. É ele quem pega o incêndio de ódio nos corações, dando origem às guerras, invejas, ambição e sensualidade, com todas as demais desordens morais.

Tem hoje muitas pessoas e organizações trabalhar para ele, nas guerras e em todas as redes de pecado que encontramos por aí, como ofertas envenenadas.

Para mover Eva ao diálogo, a serpente começa por exagerar, na sua pergunta: “É verdade que Deus vos disse: “Não podeis comer o fruto de nenhuma árvore do Jardim”?” Deus só proibiu que comessem os frutos da árvore da ciência do bem e do mal.

Sem se aperceber da armadilha que a serpente lhe estendia, Eva responde, exagerando também: “Não podeis comer dele nem tocar-lhe, senão morrereis.” Deus não proibiu que tocassem, mas que comessem desse fruto.

O itinerário da tentação. «A serpente replicou à mulher: “De maneira nenhuma! Não morrereis. Mas Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como deuses, ficando a conhecer o bem e o mal”.»

O primeiro erro de Eva e o nosso, muitas vezes, foi dialogar com o demónio e com a sua tentação. Quando somos tentados havemos de proceder como quando cai uma brasa sobre um tecido precioso: quanto mais depressa a sacudirmos, menos prejuízo dará.

A serpente aproveitou este diálogo e inoculou habilidosamente no coração de Eva a desconfiança de Deus, transmitindo-lhe a mentira de que Deus, afinal, não queria a felicidade de Adão e Eva, mas proibia-lhes de comer do fruto daquela árvore, pois bem sabia que quando o fizessem, seriam felizes como deuses. Assim, «Deus sabe que, no dia em que o comerdes, abrir-se-ão os vossos olhos e sereis como deuses.»

Desde Adão e Eva até aos nossos dias, o demónio não tem mudado de tática e procede assim connosco. Inocula em nós a desconfiança de Deus, levando-nos a encarar os Seus Dez Mandamentos como outros tantos impedimentos à nossa felicidade.  E logo atua em nós, incendiando a nossa concupiscência, para nos convencer de que, com aquele desvio de algo que não é nosso, com aquela impureza, com aquela droga, seremos felizes. Tudo acaba numa mentira: “Deus não quer a nossa felicidade!”

É para nós uma desastrosa experiência conhecer o mal, cometendo-o; e o bem, privando-nos dele, como acontece em qualquer pecado.

O pecado de Adão e Eva. «A mulher viu então que o fruto da árvore era bom para comer e agradável à vista, e precioso para esclarecer a inteligência. Colheu o fruto e comeu-o; depois deu-o ao marido, que estava junto dela, e ele também comeu. Abriram-se então os seus olhos e compreenderam que estavam despidos. Por isso, entrelaçaram folhas de figueira e cingiram os rins com elas

Depois da transgressão, Eva arrastou também Adão para a situação infeliz em que se metera. Somos solidários para o bem e, infelizmente, também para o mal. Os inimigos da alma são três: além do demónio, temos de contar com a carne – as nossas inclinações pecaminosas – e o mundo, presente nas más companhias, maus exemplos e ambientes de pecado a que o demónio dá origem.

Os nossos pais, uma vez cometido o pecado, logo se deram conta da tremenda indigência em que a desobediência pecaminosa os tinha deixado. Afinal, não se sentiam felizes e sábios como deuses, mas conheciam, por experiência, uma vida desgraçada de remorsos e despojamento das riquezas sobrenaturais. Onde está a felicidade prometida?

Abriram-se-lhes os olhos para o despojamento em que se encontravam, mas agora era impossível voltar atrás. Sofriam, não apenas com a nudez do corpo, mas, sobretudo, com a nudez da alma.

 

2. Jesus ensina-nos a vencer a prova

 

Depois de ter sido batizado no rio Jordão, por João Batista, Jesus dirigiu-se para o monte das Tentações ou da Quarentena e entregou-Se ao jejum e à penitência durante quarenta dias e quarenta noites.

As fontes das tentações. «Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Demónio. Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome

As tentações são solicitações para o mal; ou levam-nos a praticar o mal, ou a desistir do bem que devíamos fazer. Em qualquer dos casos, são provas da nossa fidelidade ao Senhor.

Podem ter origens muito diversas. Em primeiro lugar, a nossa inclinação doentia para o mal: para a sensualidade, a gula, a soberba, a preguiça, etc. Os maus hábitos podem torná-las mais fortes e mais frequentes.

Outras, procedem dos maus exemplos que vemos à nossa volta, quer aliciando-nos a seguir quem pratica o mal, quer fazendo-nos perder a repugnância da maldade. Aqui, sobretudo, é preciso cada um de nós estar muito atento, para não se meter nas ocasiões de pecado.

Uma terceira parte é devida ao demónio que, de modo habilidoso, procura armar-nos ciladas, pra nos fazer cair no pecado.

O mundo e o demónio conseguem um certo êxito nas tentações, porque dentro de nós há um cúmplice: as paixões desordenadas, como consequência do pecado original que quebrou a harmonia entre a nossa vontade e as inclinações para a desordem que há em nós.

O aviso de Jesus aos três Apóstolos, na noite da agonia, continua a ser válido: «Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.» (S. Mateus, 26, 41).

Jesus foi tentado em questões de comida, porque tinha fome, depois de um prolongado e austero jejum. Nada mais natural querer comer, depois disto.

Em geral, o demónio tenta-nos sempre a partir de uma coisa boa, levando-nos a exagerar no cuidado dela. A afetividade e a sexualidade humana, a preocupação de procurar a própria sobrevivência, o cuidado pela nossa dignidade, etc., são coisas boas, mas tornam-se más, quando as seguimos com desordenado exagero.

A concupiscência da carne. «O tentador aproximou se e disse lhe: “Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães”. Jesus respondeu lhe: “Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’”.»

Nada mais natural que Jesus precisasse e quisesse comer. A fome é uma coisa normal e temos necessidade alimento.

O mal está em que o demónio desafiou Jesus a encaminhar todo o seu poder divino para resolver as dificuldades de ordem material das pessoas. Está aqui a tentação encoberta de reduzir toda a atividade pastoral à resolução das necessidades temporais das pessoas, esquecendo o principal. Logicamente, as necessidades de ordem espiritual, para a solução das quais Jesus instituiu a Igreja, ficarão por resolver.

Em horas de necessidade, Deus mandou aos hebreus o maná no deserto, inundou o acampamento de codornizes e fez brotar a água do rochedo, em plena caminhada para a Terra da Promissão. E também Jesus multiplicou os pães e os peixes para uma multidão faminta, quando não havia outra solução e já não teriam forças para chegar a suas casas.

Mas quando a mesma multidão O procura de novo, interessada em ter um Messias que os dispensasse de trabalhar e fizesse um milagre, quando tivessem necessidades, em vez de as resolverem pelo trabalho, o Mestre repreendeu-os.

Em princípio, para resolver as necessidades materiais, está a sociedade civil. A Igreja, como instituição, ao longo dos séculos, tratou da saúde dos doentes, alimentou os famintos e até construiu casas para as pessoas viverem. Mas fê-lo sempre num papel subsidiário, até que a sociedade civil tivesse capacidade para o assumir.

A solução dos problemas de cariz social deve estar nas mãos de leigos bem formados doutrinalmente, e não da Igreja hierárquica.

O respeito pela liberdade das pessoas. «Então o Demónio conduziu O à cidade santa, levou O ao pináculo do templo e disse Lhe: “Se és Filho de Deus, lança Te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Deus mandará aos seus Anjos que te recebam nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”. Respondeu lhe Jesus: “Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’”

O que o tentador propõe a Jesus resume-se nisto: “Vens fundar uma comunidade de crentes que Te sigam? Em vez de andares por aí a cansar-Te, é melhor dares um espetáculo que emocione as pessoas e logo Te seguirão, sem mais trabalho.

Propunha-Lhe que tentasse a Deus, isto é, deixar que Deus fizesse tudo e O dispensasse de qualquer esforço. Mas, sobretudo, propunha-Lhe a manipulação das pessoas pela emoção momentânea, em vez de lhe propor a verdade à inteligência, para que decidissem livremente segui-l’O.

Vivemos na era da manipulação das pessoas, por meio do desporto, das falsas promessas políticas e dos ídolos e estrelas de “celuloide” os quais, como as ervas dos telhados, nascem de manhã, para fenecerem ao calor do primeiro sol.

Assistimos, sobretudo em épocas eleitorais, a verdadeiras manipulações, prometendo às pessoas aquilo que já sabem que não poderão cumprir.

Mas isto mesmo pode acontecer connosco, no apostolado, levando as pessoas pelo caminho da emoção, dos milagres fáceis e das visões não provadas, em vez de as ajudar a ver, com a inteligência, o que lhes convém fazer. Está neste caso a “amizade interesseira”, quando se dispensa a amizade a uma pessoa até que ela entre para o nosso “clube”.

Fins e meios lícitos. «De novo o Demónio O levou consigo a um monte muito alto, mostrou Lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse Lhe: “Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares”. Respondeu lhe Jesus: “Vai te, Satanás, porque está escrito: ‘Adoraras o Senhor teu Deus e só a Ele prestaras culto’”.»

O que o demónio propõe a Jesus, na última tentação, é que lhe preste adoração, e ele – o demónio – dar-lhe-á o governo de todas aquelas terras, podendo, depois, impor a sua religião.

Talvez seja esta a tentação mais frequente nos nossos dias e aquela a que as pessoas sucumbem mais facilmente: procurar os fins – um emprego, dinheiro, uma casa para viver – sem olhar à liceidade dos meios. Certos grupos propõem mesmo a venda da alma ao diabo, para oferecerem a sua proteção.

Confundem-se os dois campos, porque têm a consciência mal formada. Certa pessoa dizia, com alívio, depois de ter ganho uma questão em tribunal que envolvia uma quantidade notável de dinheiro: “O juiz deu-me razão. Portanto, isto é meu!” O que essa pessoa não dizia é que tinha arrolado testemunhas falsas e fizera no tribunal uma sementeira de mentiras.

Nunca se pode usar um meio ilícito, mesmo quando o fim que pretendemos é muito bom. Os meios ilícitos para alcançar uma determinada finalidade são, muitas vezes, a mentira, a ocultação da realidade, a pressão psicológica ou o suborno.

Peçamos ao Espírito Santo nos ajude a denunciar as artimanhas de Satanás, quando ele nos estende maldosamente a rede da tentação.

Invoquemos Nossa Senhora, a vencedora da serpente, para sairmos vitoriosos em todas as tentações.

 

Fala o Santo Padre

 

«Ainda hoje Satanás invade a vida das pessoas para as tentar com as suas propostas convidativas;

ele mistura a sua com as muitas vozes que tentam domar a consciência.»

Neste primeiro domingo da Quaresma, o Evangelho (cf. Mt 4, 1-11) narra que, depois do batismo no rio Jordão, «o Espírito conduziu Jesus ao deserto, a fim de ser tentado pelo diabo» (v. 1). Ele prepara-se para começar a sua missão como arauto do Reino dos céus e, como Moisés e Elias (cf. Êx 24, 18; 1 Rs 19, 8), no Antigo Testamento, fá-lo com um jejum de quarenta dias. Entra na “Quaresma”.

No final deste período de jejum, aparece o tentador, o diabo, e procura por três vezes pôr Jesus em dificuldade. A primeira tentação é inspirada pelo facto de Jesus ter fome; o diabo sugere-lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam em pães» (v. 3). Um desafio. Mas a resposta de Jesus é clara: «Está escrito: nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (4, 4). Ele refere-se a Moisés quando recorda ao povo a longa viagem feita no deserto, na qual aprendeu que a sua vida depende da palavra de Deus (cf. Dt 8, 3).

Então o diabo faz uma segunda tentativa, (vv. 5-6) torna-se mais astuto, também citando a Sagrada Escritura. A estratégia é clara: se tens tanta confiança no poder de Deus, então experimenta-o, pois a própria Escritura afirma que serás ajudado pelos anjos (v. 6). Mas também neste caso Jesus não se deixa confundir, porque quem crê sabe que Deus não o põe à prova, mas confia na sua bondade. Portanto, às palavras da Bíblia, interpretadas instrumentalmente por Satanás, Jesus responde com outra citação: «Também está escrito: “não tentarás o Senhor teu Deus!”» (v. 7).

Por fim, a terceira tentativa (v. 8-9) revela o verdadeiro pensamento do diabo: dado que a vinda do Reino dos Céus marca o início da sua derrota, o Maligno gostaria de desviar Jesus do cumprimento da sua missão, oferecendo-lhe uma perspetiva de messianismo político. Mas Jesus rejeita a idolatria do poder e da glória humana e, no final, expulsa o tentador, dizendo: «Vai-te, Satanás, pois está escrito: “ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto”» (v. 10). E a este ponto, aproximaram-se de Jesus, fiel à recomendação do Pai, os anjos para o servir (cf. v. 11).

Isto ensina-nos uma coisa: Jesus não dialoga com o diabo. Jesus responde ao diabo com a Palavra de Deus, não com a sua palavra. Na tentação muitas vezes começamos a dialogar com a tentação, a dialogar com o diabo: “Sim, mas eu posso fazer isto..., depois confesso-me, depois isto, depois aquilo...”. Nunca faleis com o diabo. Jesus faz duas coisas com o diabo: afasta-o ou, como neste caso, responde com a Palavra de Deus. Tende cuidado: nunca dialogueis com a tentação, nunca dialogueis com o diabo.

Ainda hoje Satanás invade a vida das pessoas para as tentar com as suas propostas convidativas; ele mistura a sua com as muitas vozes que tentam domar a consciência. As mensagens vêm de muitos lugares convidando-nos a “deixar-nos tentar” para experimentar a emoção da transgressão. A experiência de Jesus ensina-nos que a tentação é o propósito de enveredar por caminhos alternativos aos de Deus: “Mas, faz isto, nenhum problema, depois Deus perdoa! Concede-te um dia de alegria...” - “Mas é pecado!” - “Não, não é nada”. Caminhos alternativos, caminhos que nos dão a sensação de autossuficiência, de desfrutar a vida como fim em si mesma. Mas tudo isto é ilusório: depressa percebemos que quanto mais nos afastamos de Deus, tanto mais desamparados e indefesos nos sentimos diante dos grandes problemas da existência.

Que a Virgem Maria, a Mãe daquele que esmagou a cabeça da serpente, nos ajude neste tempo de Quaresma a estar vigilantes diante das tentações, a não nos submetermos a nenhum ídolo deste mundo, a seguir Jesus na luta contra o mal; e conseguiremos também nós ser vitoriosos como Jesus.

 Papa Francisco, Angelus, Praça de São Pedro, 1 de março de 2020

 

Oração Universal

 

Caríssimos irmãos e irmãs:

Oremos por todos aqueles

que se preparam para celebrar a Páscoa,

conduzidos pela Palavra e pelo Espírito.

Peçamos (cantando):

 

     Renovai, Senhor, o vosso povo.

 

1. Pela santa Igreja, pelos seus Pastores, fiéis e catecúmenos, que são perseguidos,

para que a vitória de Jesus sobre o Maligno os ajude a vencer as suas tentações,

oremos, irmãos.

 

     Renovai, Senhor, o vosso povo.

 

2. Pelos homens e mulheres de todo o mundo, de todas as condições sociais e etnias,

para que descubram a dignidade, de criados por Deus à Sua imagem e semelhança,

oremos, irmãos.

 

     Renovai, Senhor, o vosso povo.  

 

3. Por aqueles que o Demónio tenta enganar, afastando-os da oração e sacramentos,

para que encontrem nas palavras de Jesus força para escolher a vontade de Deus,

oremos, irmãos.

 

     Renovai, Senhor, o vosso povo.

 

4. Pelos que não têm paz com Deus, em si mesmos e com os irmãos, ou estão doentes,

para que os discípulos de Jesus sejam para eles testemunhas diligentes do Evangelho,

oremos, irmãos.

 

     Renovai, Senhor, o vosso povo.

 

5. Por nós próprios e pela nossa comunidade (paroquial), aqui presente nesta Eucaristia,

para que o caminho de conversão iniciado nos leve à vida em Cristo e à sua Páscoa,

oremos, irmãos.

 

     Renovai, Senhor, o vosso povo.

 

6. Pelos nossos irmãos que, desde a última Quaresma, partiram e são ainda putrificados,

     para que o Deus misericordioso, atendendo aos nossos sufrágios, os acolha no Céu,

     oremos, irmãos.

 

     Renovai, Senhor, o vosso povo.

 

Senhor, nosso Deus e nosso Pai,

que nos ensinastes pela palavra de Jesus

que o homem não vive só de pão,

conduzi-nos pelo Espírito ao deserto,

para escutarmos sempre mais a sua voz.

Por Cristo, nosso Senhor.

 

 

Liturgia Eucarística

 

Introdução

 

Diz o Senhor do universo: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.’

Precisamos também do Pão vivo que desceu do Céu e que nos vai ser dado nesta Celebração da Eucaristia.

 

Cântico do ofertório: Caminho pelo deserto, J. Santos, NRMS 69

 

Oração sobre as oblatas: Fazei que a nossa vida, Senhor, corresponda à oferta das nossas mãos, com a qual damos início à celebração do tempo santo da Quaresma. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Prefácio

 

As tentações do Senhor

 

V. O Senhor esteja convosco.

R. Ele está no meio de nós.

 

V. Corações ao alto.

R. O nosso coração está em Deus.

 

V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.

R. É nosso dever, é nossa salvação.

 

Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte, por Cristo nosso Senhor.

Jejuando durante quarenta dias, Ele santificou a observância quaresmal e, triunfando das insídias da antiga serpente, ensinou-nos a vencer as tentações do pecado, para que, celebrando dignamente o mistério pascal, passemos um dia à Páscoa eterna.

Por isso, com os Anjos e os Santos, proclamamos a vossa glória, cantando numa só voz:

 

Santo: C. Silva - OC (pg 537)

 

Saudação da Paz

 

Tentando constantemente os homens, pela exploração das suas paixões desregradas, o demónio promove as guerras e os ódios.

Nós, pelo contrário, como filhos de Deus, temos de ser construtores da verdadeira paz entre os homens.

 

Saudai-vos na paz de Cristo!

 

Monição da Comunhão

 

Jesus gostou de ouvir a súplica humilde do centurião que lhe implorava a cura do servo: «Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; mas diz uma só palavra e o meu servo ficará curado.

Façamos nossos estes sentimentos de humildade e rezemos com fé esta mesma oração, antes de comungarmos.

 

Cântico da Comunhão: Nem só de pão vive o homem – M. Simões, CEC (I), 91

Mt 4, 4

Antífona da comunhão: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que vem da boca de Deus.

 

ou

Salmo 90, 4

O Senhor te cobrirá com as suas penas, debaixo das suas asas encontrarás abrigo.

 

Cântico de acção de graças: O Senhor cobrir-te-á – F. Santos, BML, 55

 

Oração depois da comunhão: Saciados com o pão do Céu, que alimenta a fé, confirma a esperança e fortalece a caridade, nós Vos pedimos, Senhor: ensinai-nos a ter fome de Cristo, o verdadeiro pão da vida, e a alimentar-nos de toda a palavra que da vossa boca nos vem. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

 

Ritos Finais

 

Monição final

 

Façamos um programa de meditação da Palavra de Deus e frequência dos Sacramentos, para vivermos bem esta Quaresma.

 

Cântico final: Dai-me Senhor, um coração puro – M. Luís, CAC, pg 143

 

 

 

Homilias Feriais

 

1ª SEMANA

 

2ª Feira, 27-II: O Juízo Final.

Lev 19, 1-2. 11-18 / Mt 25, 31-46

Vinde, benditos de meu Pai, recebei como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo.

Para alcançarmos o reino de Deus, a santidade, Ele pede-nos que O imitemos: Sede santos, porque Eu, vosso Deus, sou Santo (LT). Os mandamentos de Deus são claros, iluminam os olhos (SR), e ajudam a libertar do pecado.

Além disso, o Senhor chama-nos a viver o amor ao próximo (LT e EV), que nos conduzirá ao seu reino. Uma concretização são as obras de misericórdia (EV). E também nos pede que saibamos descobri-lo em cada uma das pessoas que nos rodeiam, pois são a imagem de Deus. Todas as vezes que o fizerdes ao irmão pequeno, a mim os fizeste.

 

3ª Feira, 28-II: A vontade de Deus e a misericórdia.

Is 55, 10-11 / Mt 6, 7-15

A palavra que sai da minha boca não volta sem ter produzido o seu cumprimento.

O Senhor utiliza uma comparação para ilustrar como se há-de levar à prática a vontade de Deus. A chuva e a neve, que descem do céu, não voltam para lá sem terem regado a terra, a terem fecundado e a dar frutos (LT).

Essa vontade de Deus tem em conta que somos seus filhos e, por isso, nos convida a rezarmos a Deus, como nosso Pai, ensinando-nos a oração do Pai-nosso (EV), na qual pedimos ajuda para cumprirmos a sua vontade. Os justos clamaram e o Senhor ouviu-os (SR). E que nos perdoe as nossas ofensas, como nós perdoamos a quem nos ofende (LT).

 

4ª Feira, 1-III: O convite à conversão e a Confissão.

Jonas,3, 1-10 / Lc 11, 29-32

Ergue-te e vai à grande cidade de Nínive e proclama-lhe a grande mensagem que te direi.

Na Quaresma todos recebemos uma mensagem de Deus, semelhante à dos

habitantes de Nínive, que convida à conversão. Assim como Jonas foi um sinal para os habitantes de Nínive, assim será o Filho do homem para esta geração (EV). Convertei-vos a mim de todo o coração e ao arrependimento (LT e EV).

Reconheçamos os nossos pecados e peçamos perdão por todos eles: Pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados (SR). Manifestemos o nosso arrependimento. Não desprezeis, Senhor, um coração humilhado e contrito (SR). E recorramos à confissão.

 

5ª Feira, 2-III: A força da oração.

Est 14, 3-5.12-14 / Mt 7, 7-12

Pois todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra; e, ao que bate, abrir-se-á.

A oração é uma forma de vivermos a penitência quaresmal. Jesus sugere-nos que façam os pedidos. Pedi e dar-se-vos-á. Batei à porta e abrir-se-vos-á (EV). De todo o coração, vos dou graças, porque ouvistes as palavras da minha boca (SR). Peçamos com fé, pois vivemos da palavra que vem da boca do Senhor.

A rainha Ester é um bom exemplo desta oração. Vinde socorrer-me porque estou só e só em Vós tenho auxílio, pois sinto o perigo que me espreita. Aumentastes a fortaleza da minha alma (SR). É um modelo para os momentos de tribulações e tentações.

 

6ª Feira, 3-III: O Arrependimento e a caridade.

Ez 18, 21-28 / Mt 5, 20-28

Se o pecador se arrepender de todas as faltas que cometeu… certamente viverá.

A Quaresma é um tempo de conversão, de arrependimento, um caminho de vida (LT). Quanto à conversão, Deus pede-nos: quando o pecador se afastar do mal praticado, salvará a sua vida.  Quanto ao arrependimento, confiemos na misericórdia divina. Porque no Senhor está a misericórdia (SR).

 Quanto à caridade fraterna, o Senhor pede-nos que evitemos irar-nos com próximo, que não lhes chamemos nomes, que perdoemos quando antes de chegarmos ao altar, que nos reconciliemos com os nossos irmãos e com os nossos inimigos.

 

Sábado, 4-III: A caridade heróica

Deut 26, 16-19 / Mt 5, 43-48

Pois Eu digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem, para serdes filhos do vosso Pai que está nos Céus.

Moisés lembrava ao povo: O Senhor teu Deus ordena-te hoje que cumpras estas leis e estes mandamentos (LT). A nossa resposta há-de ser: Hei-de cumprir os vossos preceitos. Não me desampareis jamais (SR).

Mas Jesus, além do que foi dito aos antigos, acrescenta uma novidade na maneira de viver a caridade: Amai os vossos inimigos (aqueles que nos incomodam e aborrecem) e rezai por eles (EV). Pensemos que esta é a maneira de nos comportamos como filhos de Deus. Disse Jesus: Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito (EV).

 

 

 

 

 

 

Celebração e Homilia:         Fernando Silva

Nota Exegética:                     Geraldo Morujão

Homilias Feriais:                   Nuno Romão

Sugestão Musical:                José Carlos Azevedo

 


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