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A NOSSA RESSURREIÇÃO

 

 

 

 

Hugo de Azevedo

 

 

 

 

 

- «O menino quer ir para o Céu?», perguntava a boa senhora. - «Quero…, mas queria ir com alguém!»

Tem graça a resposta, e compreendemos o miúdo. Pouco habituado a lidar com estranhos, sentia a necessidade de companhia num ambiente desconhecido.

Todos nós somos essa criança quando pensamos no Céu. Sem querer, inquieta-nos o seu ambiente, tão diverso do terreno, e tão difícil de imaginar, embora saibamos que é bom, maravilhoso, feliz! Tão diverso do terreno, por ser também muito mais humano!

A verdade é que não conhecemos aqui felicidade que não seja precária, tanto pela incerteza e cansaço desta vida, como pela nossa própria fraqueza. Por outro lado, essa nossa mesma inquietação que significa? Saudades do Céu! Anseio de felicidade perene.

Bem escrevia Santo Inácio de Antioquia, em vésperas do seu martírio, aos fiéis que rezavam por ele: «Deixai-me receber a luz pura; quando lá tiver chegado, serei um homem!» Ser santo é ser homem na plenitude da nossa vocação à eternidade.

Por isso, a festa da Ressurreição de Jesus é também a nossa maior festa: a garantia divina da autêntica e perene felicidade.

Queremos ir com alguém? Com todos, se fosse possível. E aí volta nova inquietação: como seremos felizes com a perdição alheia?

Não sabemos. No entanto, há uma consideração que desde já suaviza esta perplexidade. Se os que se perdem, por desafio ao Criador, fossem para o Céu, sofreriam muito mais no Céu do que no Inferno. «Afastai-vos de Mim!» não é um castigo, mas sim a única suavização possível da pena eterna, porque a presença da pessoa odiada ainda faz sofrer mais quem a odeia. No Céu o compreenderemos. Até lá, compreendemos a angústia de S. Paulo pelo seu Povo incrédulo, mas não o seu desejo de ser ele o condenado. Apesar de ser muito expressivo, graças a Deus, não faz sentido.

Sim, pensemos na nossa ressurreição, e seremos mais fortes. Mais realistas. «Este mundo» passa.

 


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