Solenidade de Todos os Santos

1 de Novembro de 2022

 

Solenidade

 

RITOS INICIAIS

 

Cântico de entrada: Eu vi a cidade santa – A. F. Santos, CNPL, 460

 

Antífona de entrada: Exultemos de alegria no Senhor, celebrando este dia de festa em honra de Todos os Santos. Nesta solenidade alegram-se os Anjos e cantam louvores ao Filho de Deus.

 

Diz-se o Glória

 

Introdução ao espírito da Celebração

 

Celebramos a Solenidade de Todos os Santos. Fazem parte dos ilustres filhos da Igreja, nossa mãe. Aceitaram o convite à santidade, dirigido por Deus a todos os seus filhos, no Livro do Levítico: “Sede santos porque Eu sou santo.” São Pedro repete este convite a todos nós: “À semelhança do Deus santo que vos chamou, sede santos, vós também, em todas as vossas acções, com está escrito: sede santos, porque Eu sou Santo.”[1]

 

Oração colecta: Deus eterno e omnipotente, que nos concedeis a graça de honrar numa única solenidade os méritos de Todos os Santos, dignai-Vos derramar sobre nós, em atenção a tão numerosos intercessores, a desejada abundância da vossa misericórdia. Por Nosso Senhor...

 

 

Liturgia da Palavra

 

Primeira Leitura

 

Monição: «Vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, vinda de todas as nações, tribos, povos e línguas.»

Na sua oração sacerdotal, Jesus pediu por todos os seus discípulos: “Pai santo, quero que aqueles que me deste participem da minha glória.” Nós desejamos participar na glória eterna do Céu.

 

Apocalipse 7, 2-4.9-14

 

2Eu, João, vi um Anjo que subia do Nascente, trazendo o selo do Deus vivo. Ele clamou em alta voz aos quatro Anjos a quem foi dado o poder de causar dano à terra e ao mar: 3«Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus». 4E ouvi o número dos que foram marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. 9Depois disto, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. 10E clamavam em alta voz: «A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro». 11Todos os Anjos formavam círculo em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos. Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra, e adoraram a Deus, dizendo: 12«Amen! A bênção e a glória, a sabedoria e a acção de graças, a honra, o poder e a força ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amen!». 13Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: «Esses que estão vestidos de túnicas brancas, quem são e de onde vieram?». 14Eu respondi-lhe: «Meu Senhor, vós é que o sabeis». Ele disse-me: «São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro».

 

Numa grandiosa visão, o vidente de Patmos deixa ver que no meio de tantas desgraças e ainda antes que cheguem as piores, as que correspondem à abertura do 7º selo (cap.8), os cristãos, que formam uma imensa multidão, estão sob a protecção de Deus, mesmo quando perseguidos e sujeitos ao martírio.

2-4 «O selo (o sinete de marcar) do Deus vivo». Alusão ao timbre então usado pelos monarcas para imprimir o sinal de propriedade ou autenticidade; por vezes os escravos e soldados eram marcados na pele com um ferro em brasa. O símbolo está tomado destes costumes da época e sobretudo da profecia de Ezequiel (Ez 9,4-6), por isso alguns Padres viram nesta marca, em forma de cruz (pela alusão ao tav de Ezequiel, a última consoante hebraica), o carácter baptismal. «Cento e quarenta e quatro mil» é um número simbólico; com efeito, os números do Apocalipse são habitualmente simbólicos, o que neste caso é evidente por se tratar de um jogo de números: 12 x 12000 (doze mil por cada uma das doze tribos de Israel). Estes 144.000, segundo uns, «representam toda a Igreja sem restrição» (Santo Agostinho), pois esta é o novo Israel de Deus (cf. Gal 6,16) e são a mesma «multidão imensa que ninguém podia contar» (v. 9). Segundo outros, estes 144.000 são os cristãos procedentes do judaísmo, muito particularmente os que foram poupados das calamidades que assolaram a Palestina, por ocasião da destruição da nação judaica no ano 70.

11 «Os (24) Anciãos». Há grande variedade de opiniões para decifrar este símbolo, não se podendo sequer estabelecer se se trata de seres angélicos ou humanos. Santo Agostinho diz que «são a Igreja universal; os 24 anciãos são os superiores jerárquicos e o povo: 12 representam os Apóstolos e os bispos, e os outros 12 representam o restante povo da Igreja». «Os 4 Viventes» (à letra, «animais»), uma tradução preferível a: «os 4 animais», uma vez que o terceiro tem rosto humano (cf. Apoc 4,7). A quem representam estes seres misteriosos, que reúnem características dos querubins de Ez 1 e dos serafins se Is 6? Podem muito bem simbolizar os quatro pontos cardeais, ou os quatro elementos do mundo (terra, fogo, água e ar), isto é, a totalidade do Universo. Deste modo, a presente «visão» apresenta-nos, unidos numa única adoração e louvor a Deus e a Cristo, os Anjos, a Humanidade resgatada e o próprio Universo material. A interpretação segundo a qual os Quatro Seres simbolizam os Quatro Evangelistas deve-se a Santo Ireneu e é uma acomodação espiritual do texto inspirado.

12 «Amen! Bênção, glória…»: Aqui, como ao longo de todo o Apocalipse, sente-se como a liturgia da Igreja faz eco à liturgia celeste, especialmente nas aclamações a Deus e ao Cordeiro.

14 «A grande tribulação». Tanto se pode tratar duma perseguição aos cristãos mais violenta no fim dos tempos, como das perseguições e das tribulações em geral no curso da história da Igreja. Mas é provável que o vidente de Patmos tenha presente em primeiro plano, as violentas perseguições de Nero e Domiciano, muito embora englobando nestas todas as outras.

«Lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro». «Não se designam só os mártires, mas todo o povo da Igreja – comenta Santo Agostinho –, pois não disse que lavaram as suas túnicas no seu próprio sangue, mas no sangue do Cordeiro, isto é, na graça de Deus, por Jesus Cristo Nosso Senhor, conforme está escrito: e o seu sangue purifica-nos (1Jo 1,7)».

 

Salmo Responsorial     Sl 23 (24), 1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6)

 

Monição: Este salmo descreve a procissão dos peregrinos que sobem a Jerusalém, para visitar o Templo do Senhor. Começa por afirmar que tudo foi criado por Deus e tudo lhe pertence: “a terra, o mar, o mundo e quantos nele habitam.” Alguém pergunta aos peregrinos, antes de entrarem: “Quem poderá subir à montanha do Senhor? Quem habitará no seu Santuário?” O autor sagrado responde: “O que tem as mãos inocentes e o coração puro, que pertence à geração dos que procuram o Senhor.” Nós também queremos fazer parte dos que desejam contemplar a face de Deus.

 

Refrão:        Esta é a geração dos que procuram o Senhor.

 

Do Senhor é a terra e o que nela existe,

o mundo e quantos nele habitam.

Ele a fundou sobre os mares

e a consolidou sobre as águas.

 

Quem poderá subir à montanha do Senhor?

Quem habitará no seu santuário?

O que tem as mãos inocentes e o coração puro,

o que não invocou o seu nome em vão.

 

Este será abençoado pelo Senhor

e recompensado por Deus, seu Salvador.

Esta é a geração dos que O procuram,

que procuram a face de Deus.

 

Segunda Leitura

 

Monição: «Veremos a Deus tal como Ele é.»

Deus é nosso Pai. Nós somos filhos muito amados. Jesus ensina que “os puros de coração verão a Deus.” Agora vemos como num espelho, depois veremos face a face. Há uma continuidade entre a vida presente e a vida futura. Quem acredita possui a esperança de contemplar a face de Deus, por isso “purifica-se para ser puro como Ele é puro.”

 

1 São João 3, 1-3

 

Caríssimos: 1Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto. Se o mundo não nos conhece, é porque não O conheceu a Ele. 2Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é. 3Todo aquele que tem n’Ele esta esperança purifica-se a si mesmo, para ser puro, como Ele é puro.

 

A leitura é um dos textos clássicos da filiação adoptiva divina, uma exigência constante de santidade.

1 «E somo-lo de facto». S. João não se contenta com dizer que somos chamados filhos de Deus, o que bastaria para que um semita entendesse, pois para ele ser chamado (por Deus) equivalia a ser. S. João quer falar para que todos entendamos esta realidade sobrenatural que «o mundo», sem fé, não pode captar nem apreciar.

2 A filiação divina capacita-nos para a glória do Céu, pois não é uma mera adopção legal e extrínseca, como a adopção humana de um filho. A adopção divina implica uma participação da natureza divina (cf. 2Pe 1,4) pela graça. «Semelhantes a Deus», desde já; mas só na glória celeste se tornará patente o que já «agora somos». «O veremos tal como Ele é», esta é a melhor definição da infinda felicidade do Céu, de que gozam todos os Santos que hoje festejamos: contemplar a Deus tal qual Ele é, não apenas as suas obras, mas a Ele próprio, «face a face» (cf. 1Cor 13,12).

3 «Purifica-se a si mesmo». A certeza da filiação divina conduz-nos à purificação e à imitação de Cristo, o Filho de Deus por natureza: «como Ele é puro»; efectivamente, os puros de coração hão-de ver a Deus (cf. Evangelho de hoje: Mt 5,8).

 

Aclamação ao Evangelho       

 

Monição: «Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa.»

Jesus começou a ensinar, dizendo: Bem-aventurados! Bem-aventurados…

Os Santos atingiram a perfeição, alcançaram a salvação eterna, intercedem por nós e cantam no Céu a bondade do Senhor.

 Exultemos de alegria e cantemos com Todos os Santos o Seu eterno louvor.

 

Aleluia

 

Cântico: M. Faria, NRMS, 87

 

Vinde a Mim, vós todos os que andais cansados

e oprimidos e Eu vos aliviarei, diz o Senhor.

 

 

Evangelho

 

São Mateus 5,1-12a

 

Naquele tempo, 1ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos 2e Ele começou a ensiná-los, dizendo: 3«Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. 4Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. 5Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. 7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. 8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. 11Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. 12aAlegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

 

As 8 bem-aventuranças, expressas na terceira pessoa do plural, têm em Mateus um carácter solene e universal, para todas as pessoas e para todos os tempos. Elas condensam a grande novidade do Evangelho, em contraste flagrante com o próprio pensamento religioso judaico então vigente, para já não falarmos do espírito mundano, hedonista do paganismo de então e do de agora. Elas não são expressão de uma «ética dos débeis», mas, pelo contrário, dum ideal de vida para almas fortes e generosas. As bem-aventuranças correspondem a uma ética que, quando vivida a sério, é capaz de renovar as pessoas e a sociedade, como o demonstra a vida de todos os santos.

3 «Bem-aventurados». Esta tradução (em vez de «felizes», cf. Nova Bíblia da CEP) vinca a ideia de que o Senhor promete a felicidade na bem-aventurança eterna e, ao mesmo tempo, já nesta vida, ao dizê-la do presente: «deles é» (não diz «deles será»). As bem-aventuranças são o mais surpreendente código de felicidade, e não se trata de uma felicidade qualquer: é uma felicidade incomparável, interior e profunda, embora ainda não possuída de modo perfeito e completo na vida terrena.

«Os pobres em espírito». Apraz-me citar o comentário de J. M. Casciaro em Jesus de Nazaré: «No Antigo Testamento, o pobre está já delineado não só como uma situação económico-social, mas como um valor religioso muito elaborado: é pobre quem se apresenta diante de Deus com uma atitude humilde, sem méritos pessoais, considerando a sua realidade de homem pecador, necessitado do perdão divino, da misericórdia de Deus para ser salvo. Daí que, além de viver com uma sobriedade e uma austeridade de vida reais, efectivas, ele aceita e quer tais condições de pobreza não como algo imposto pela necessidade, mas voluntariamente, com afecto (…). A ‘explicação’ de Mateus, em espírito, sublinha a exigência dessa mesma pobreza: não é pobre em espírito quem só o é obrigado pela sua situação económico-social, mas sim quem, além disso, é pobre querendo essa pobreza de modo voluntário (…). Esta atitude religiosa de pobreza está muito relacionada com a chamada infância espiritual. O cristão considera-se diante de Deus como um filho pequeno que não tem nada como propriedade; tudo é de Deus, o seu Pai, e a Ele lho deve. De qualquer modo, a pobreza em espírito, isto é, a pobreza cristã, exige o desprendimento dos bens materiais e uma austeridade no uso deles». Pode-se ver o belo comentário de São Leão Magno no ofício de leitura da 6ª feira da semana XXII do tempo comum.

4 «Os humildes». A tradução (imperfeita e abandonada pala Bíblia da CEP) preferiu um termo mais genérico e suave do que «os mansos», que são os que sofrem serenamente e sem ira, ódio ou abatimento, as perseguições injustas e as contrariedades. De facto só os humildes são capazes da virtude da mansidão, pois não dão demasiada importância a si próprios. A «terra» é a nova terra prometida, isto é, o Céu.

5 «Os que choram», isto é, os aflitos, e muito particularmente os que têm o coração cheio de mágoa por terem ofendido a Deus e que, com vontade de reparação, choram e deploram os seus pecados.

6 «Fome e sede de justiça». A ideia de justiça na Sagrada Escritura é uma ideia de natureza religiosa: justo é aquele que cumpre a vontade de Deus, e justiça corresponde a santidade, vocação a que todos são chamados.

8 «Os puros de coração» são, em geral, os que têm uma intenção recta, os que são capazes de um amor puro, limpo e nobre, os que têm um olhar recto e são; está, portanto, englobada a castidade, mas não é só ela a ser referida aqui.

9 «Os que promovem a paz» (uma tradução mais expressiva do que os pacíficos) são os que promovem a paz entre os homens e dos homens com Deus, fundamento sério de toda a paz no mundo.

11-12 Depois das 8 bem-aventuranças anteriores, que formam um bloco (uma inclusão marcada pela fórmula «porque deles é o reino dos Céus»: vv. 3 e 10), há uma ampliação e uma aplicação directa aos ouvintes da 8ª e última bem-aventurança.

 

Sugestões para a homilia

 

Solenidade de Todos os Santos

Na mesma celebração festiva, a Igreja, ainda peregrina sobre a terra, venera a memória de todos aqueles que já chegaram à felicidade eterna do Céu. Os Santos atingiram a perfeição, “suportando as múltiplas tribulações, que todos temos de sofrer para entrarmos no Reino dos Céus.” [2] Alcançaram a plenitude da Bem-aventurança. Contemplam a Deus face a face, nesse reino eterno e glorioso, na pátria da felicidade. Fizeram a vontade de Deus na terra, agora, no Céu, “cantam eternamente as misericórdias do Senhor.”

O convite à santidade é para todos nós: «Sede santos, porque Eu sou santo.» (Lv 11, 45;1 Ped 1,16) O Concílio Vaticano II afirma que: «Todos os fiéis, seja qual for a sua condição ou estado, são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai celeste, cada um por seu caminho.» (LG, 11)

A primeira Leitura, tirada do Livro do Apocalipse, fala-nos do Céu e coloca diante de nós uma multidão incalculável: “Vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, vinda de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé diante do trono.” (Apocalipse 7, 9). Os Santos louvam e servem a Deus, noite e dia no seu templo. “Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo.”  (cf. Is 6, 3; Ap 4, 8) Quando na Missa cantamos “O Santo” fazemos na terra, aquilo que eles fazem no Céu: naquele momento, estamos em união com Todos os Santos, não só com os mais conhecidos, mas também com os “Santos da porta do lado”, os nossos familiares e amigos, que agora já fazem parte daquela multidão imensa. A Solenidade de hoje une a Igreja da terra com a Igreja celeste. Os Santos estão próximos de nós, são nossos irmãos. “Aguarda-nos aquela Igreja dos primogénitos e nós ficamos insensíveis? Desejam a nossa companhia e esperam por nós. Desejemos aqueles que nos desejam, corramos para os que nos aguardam, desejemos a sua felicidade e a glória daqueles por quem suspiramos.” (São Bernardo, Ofício de Leituras)

A primeira Leitura recorda-nos também que os Santos têm “ramos de palmeira nas mãos.” (v. 9) Os ramos de palmeira são símbolos da vitória dos Santos que venceram o mundo. Os Santos exortam-nos a escolher a Deus que é Santo. O Senhor oferece-nos a felicidade para a qual fomos criados. “Deus escolheu-nos, para sermos Santos e irrepreensíveis.”

Os Santos pedem-nos para enveredarmos pelo caminho das Bem-aventuranças. O Sermão da Montanha é jubiloso. Jesus aponta-nos o caminho da felicidade: Felizes! Felizes! Felizes sereis… “Bem-aventurados os pobres de espírito. Bem-aventurados os que fazem a paz. Bem-aventurados os mansos. Bem-aventurados os puros de coração. Bem-aventurados… porque verão a Deus.” Hoje, festejamos a meta para que fomos criados. “Deus escolheu-nos para sermos seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo.” 3 Nascemos para gozar da felicidade de Deus. «Alegrai-vos e exultai, pois é grande, no Céu a vossa recompensa.» (Mt 5, 1-12)

 

Fala o Santo Padre

 

«A santidade é uma meta que não pode ser alcançada apenas com as próprias forças,

mas é o fruto da graça de Deus e da nossa resposta livre a ela. Portanto, a santidade é dom e chamada.»

A hodierna solenidade de Todos os Santos recorda-nos que todos somos chamados à santidade. Os Santos e as Santas de todos os tempos, que hoje todos nós celebramos juntos, não são simplesmente símbolos, seres humanos distantes, inalcançáveis. Pelo contrário, são pessoas que viveram com os pés no chão; experimentaram a fadiga diária da existência com os seus sucessos e fracassos, encontrando no Senhor a força para se levantar sempre e continuar o caminho. Daqui podemos compreender que a santidade é uma meta que não pode ser alcançada apenas com as próprias forças, mas é o fruto da graça de Deus e da nossa resposta livre a ela. Portanto, a santidade é dom e chamada.

Como graça de Deus, isto é, o seu dom, é algo que não podemos comprar nem trocar, mas acolher, participando assim na mesma vida divina através do Espírito Santo que habita em nós desde o dia do nosso Batismo. A semente da santidade é precisamente o Batismo. Trata-se de amadurecer cada vez mais a consciência de que estamos enxertados em Cristo, porque o ramo está unido à videira, e por isso podemos e devemos viver com Ele e n'Ele como filhos de Deus. Assim, a santidade é viver em plena comunhão com Deus, desde agora, durante esta peregrinação terrena.

Mas a santidade, além de ser dom, é também chamada, é vocação comum de todos nós cristãos, dos discípulos de Cristo; é o caminho de plenitude que cada cristão é chamado a percorrer na fé, caminhando para a meta final: a comunhão definitiva com Deus na vida eterna. A santidade torna-se assim uma resposta ao dom de Deus, porque se manifesta como uma assunção de responsabilidade. Nesta perspetiva, é importante assumir um compromisso quotidiano de santificação nas condições, deveres e circunstâncias da nossa vida, procurando viver tudo com amor e caridade.

Os Santos que celebramos hoje na liturgia são irmãos e irmãs que admitiram na sua vida que precisavam desta luz divina, abandonando-se a ela com confiança. E agora, diante do trono de Deus (cf. Ap 7, 15), cantam a sua glória para sempre. Eles constituem a “Cidade Santa”, para a qual olhamos com esperança, como nossa meta definitiva, enquanto somos peregrinos nesta “cidade terrestre”. Caminhamos para aquela “cidade santa” onde estes santos irmãos e irmãs nos esperam. É verdade, estamos cansados pela aspereza do caminho, mas a esperança dá-nos a força para avançar. Olhando para a vida deles, somos estimulados a imitá-los. Entre eles há muitas testemunhas de uma santidade da porta ao lado, «daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus» (Exortação Apostólica Gaudete et exsultate, 7).

Irmãos e irmãs, a memória dos Santos leva-nos a erguer os olhos para o Céu: não para esquecer as realidades da terra, mas para as enfrentar com mais coragem e mais esperança. Que Maria, nossa Mãe Santíssima, nos acompanhe com a sua intercessão materna, sinal de consolação e de esperança segura.

Papa Francisco, Angelus, Praça de São Pedro, 1 de novembro de 2019

 

Oração Universal

 

Irmãos, caríssimos:

Na Solenidade que nos une a Todos os Santos,

oremos Àquele que pode saciar

 a nossa fome de santidade, dizendo:

 

 R. Por intercessão dos vossos Santos, salvai-nos, Senhor.

 

1.      Pela santa Igreja de Deus,

para que, no dia da manifestação de Jesus Cristo,

apareça resplandecente em todos os seus membros, oremos.

 

2. Pelo Santo Padre, pelos bispos, presbíteros e diáconos,

para que venham um dia a contemplar no Céu

 Aquele que na terra os chamou ao seu serviço, oremos.

 

3. Pelos que regem os destinos das nações,

para que Deus lhes dê o dom da sabedoria,

 da prudência, do desapego e da verdade, oremos.

 

 4. Pelos que choram

e pelos que sofrem perseguição por amarem a justiça e a verdade,

 para que se alegrem com todos os Santos no Céu, oremos.

 

 5. Pelos que andam cansados e oprimidos,

para que sintam a presença de Jesus

e n’Ele encontrem descanso, alívio e força, oremos.

 

6. Por todos nós que celebramos esta solenidade,

para que Deus nos junte aos seus eleitos

 e um dia nos mostre o rosto de Cristo glorioso, oremos.

 

 Deus eterno e omnipotente,

dignai-Vos ouvir as nossas súplicas

 e conduzir-nos, pelo vosso Espírito,

para a bem-aventurança que nos prometeis.

Por Cristo Senhor nosso.

 

 

Liturgia Eucarística

 

Cântico do ofertório: Santos, amigos de Deus – J. Santos, NRMS, 8

 

Oração sobre as oblatas: Aceitai benignamente, Senhor, os dons que Vos apresentamos em honra de Todos os Santos e fazei-nos sentir a intercessão daqueles que já alcançaram a imortalidade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Prefácio

 

A glória da nova Jerusalém, nossa mãe

 

V. O Senhor esteja convosco.

R. Ele está no meio de nós.

 

V. Corações ao alto.

R. O nosso coração está em Deus.

 

V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.

R. É nosso dever, é nossa salvação.

 

Senhor, Pai Santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte:

Hoje nos dais a alegria de celebrar a cidade santa, a nossa mãe, a Jerusalém celeste onde a assembleia dos Santos, nossos irmãos, glorificam eternamente o vosso nome. Peregrinos dessa cidade santa, para ela caminhamos na fé e na alegria, ao vermos glorificados os ilustres filhos da Igreja, que nos destes como exemplo e auxílio para a nossa fragilidade.

Por isso, com os Anjos e todos os Santos, proclamamos a vossa glória, cantando numa só voz:

 

Santo, Santo, Santo.

 

Santo: C. Silva/A. Cartageno – COM, (pg 194)

 

Monição da Comunhão

 

“Pai santo, quero que aqueles que me deste participem da minha glória.”

A solenidade de Todos os Santos recorda-nos que “não temos aqui morada permanente, porque a nossa Pátria está, no Céu.” Deus é nosso Pai e Jesus diz que no Céu há muitas moradas. Estamos do lado do céu ou da terra? Desejamos a felicidade da vida eterna ou as alegrias passageiras deste mundo? 

 

Cântico da Comunhão: Os santos resplandecem como a luz – J. Santos, NRMS, 63  

Mt 5, 8-10

Antífona da comunhão: Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os perseguidos por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus.

 

Cântico de acção de graças: Os justos viverão eternamente – M. Faria, NRMS, 36

 

Oração depois da comunhão: Nós Vos adoramos, Senhor nosso Deus, única fonte de santidade, admirável em todos os Santos, e confiadamente Vos pedimos a graça de chegarmos também nós à plenitude do vosso amor e passarmos desta mesa de peregrinos ao banquete da pátria celeste. Por Nosso Senhor...

 

 

Ritos Finais

 

Monição final

 

Exortamos os nossos Irmãos no episcopado, exortamos os sacerdotes e diáconos, exortamos os religiosos, exortamos os jovens e os adultos e a todos diremos: É preciso que o nosso zelo evangelizador brote de uma verdadeira santidade de vida, alimentada pela oração e, sobretudo, pelo amor à eucaristia. O mundo espera de nós simplicidade de vida, espírito de oração, caridade para com todos, obediência e humildade, desapego de nós mesmos e renúncia. Sem esta marca de santidade, dificilmente a nossa palavra fará a sua caminhada até atingir o coração do homem dos nossos tempos. (São Paulo VI, EN 76)

 

Ó Virgem Maria, Rainha de Todos os Santos, Vós sois a Porta do Céu: ajudai-nos a percorrer o caminho da santidade. Intercedei também pelos nossos fiéis defuntos para que descansem em paz, na alegria da Pátria celeste, na felicidade eterna.

 (Santo Padre Francisco, Praça São Pedro, 1 de Novembro de 2018)

 

Cântico final: Alegrem-se no Céu – J. F. Silva, NRMS, 54

 

 

Celebração e Homilia:       José Roque

Nota Exegética:                Geraldo Morujão

Sugestão Musical:            José Carlos Azevedo

 



[1] Lev 19,21; I Ped 1, 15-16

[2] Cf. Act 14, 22

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