27º Domingo Comum
2 de Outubro de 2022
RITOS INICIAIS
Cântico de entrada: Vinde, prostremo-nos em terra, Az. Oliveira, NRMS 48
Est 13, 9.10-11
Antífona de entrada: Senhor, Deus omnipotente, tudo está sujeito ao vosso poder e ninguém pode resistir à vossa vontade. Vós criastes o céu e a terra e todas as maravilhas que estão sob o firmamento. Vós sois o Senhor do universo.
Introdução ao espírito da Celebração
Aquele que nasceu invisual, e nunca deliciou, portanto, os seus olhos com a sinfonia de cores da natureza, apenas ouviu o rugir do mar em tempestade, mas não encheu o olhar a espuma das ondas, talvez não sinta muito a falta do quadro destas maravilhas, mas é, de facto, carente.
Não basta ter a virtude da fé recebida no Batismo que nos dá capacidade para aprofundar as realidades divinas. É preciso, depois, usar os olhos, ver, mandar o conhecimento sensitivo para a inteligência.
Acto penitencial
(Tempo de silêncio. Apresentamos, como alternativa, elementos para o esquema C)
• Senhor Jesus: Muitas vezes esquecemo-nos de que a fé que recebemos
é a luz que deve guiar todos os nossos pensamentos, palavras e obras.
Senhor, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
• Cristo: Quando temos dificuldades e Vos pedimos para as resolverdes,
duvidamos do Vosso amor, a pesar de tantas provas de amor recebidas.
Cristo, tende piedade de nós.
Cristo, tende piedade de nós.
• Senhor Jesus: Sem a verdade de que somos filhos de Deus a guiar-nos,
a nossa vida na terra não tem qualquer sentido e andamos desorientados.
Senhor, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Deus todo poderoso tenha compaixão de nós,
perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna.
Oração colecta: Deus eterno e omnipotente, que, no vosso amor infinito, cumulais de bens os que Vos imploram muito além dos seus méritos e desejos, pela vossa misericórdia, libertai a nossa consciência de toda a inquietação e dai-nos o que nem sequer ousamos pedir. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura
Monição: O profeta Habacuc lamenta-se diante do Senhor porque as suas orações não são ouvidas.
Todos nós passamos alguma vez por esta prova de pedir e duvidar do amor de Deus para connosco.
Habacuc 1, 2-3; 2, 2-4
1,2«Até quando, Senhor, chamarei por Vós e não Me ouvis? Até quando clamarei contra a violência e não me enviais a salvação? 3Porque me deixais ver a iniquidade e contemplar a injustiça? Diante de mim está a opressão e a violência, levantam-se contendas e reina a discórdia?» 2,2O Senhor respondeu-me: «Põe por escrito esta visão e grava-as em tábuas com toda a clareza, de modo que a possam ler facilmente. 3Embora esta visão só se realize na devida altura, ela há-de cumprir-se com certeza e não falhará. Se parece demorar, deves esperá-la, porque ela há-de vir e não tardará. 4Vede como sucumbe aquele que não tem alma recta; mas o justo viverá pela sua fidelidade».
A leitura está escolhida em função do Evangelho, que fala da fé. A pequenina obra do profeta contemporâneo de Jeremias (séc. VII-VI) começa por duas queixas a que o Senhor responde. No texto temos a primeira queixa (1,2-3) e a segunda resposta (2,2-4), em que sobressai o apelo à fé. Deus não deixa de ouvir os seus amigos que Lhe pedem socorro; pode tardar a obra divina da salvação (2,3), mas «há-de cumprir-se com certeza», «na devida altura», de modo que só vacila «aquele que não tem alma recta». Com efeito, o justo é da fé que tira a coragem para superar todas as dificuldades que venham a desabar sobre ele, por isso mesmo é que ele viverá. Por outro lado, também se pode entender o texto no sentido de que a fidelidade à aliança é garantia de vida para o justo. S. Paulo, em Rom 1,17, faz uma actualização deste texto, utilizando-o como mote para a sua longa e profunda exposição sobre a «justificação», isto é, sobre a acção divina pela qual o próprio Deus justifica, isto é, torna justo, salva, o homem pecador. Trata-se duma iniciativa gratuita da parte de Deus, que não é fruto daquilo que o homem possa fazer cumprindo uma série de requisitos legais da Lei de Moisés. A primeira condição essencial para o homem se salvar, para viver a vida divina, é esta: pela fé, acolher confiado e agradecido o dom de Deus, que lhe vem por Cristo, e ser-lhe fiel. Note-se a importância que na época se dava ao profeta Habacuc: o célebre Péxer de Habacuc encontra-se entre os manuscritos de Qumrã.
Salmo Responsorial Sl 94 (95), 1-2.6-7.8-9 (R.8)
Monição: Um convite nos faz o Senhor neste Salmo: Estejamos atentos à voz de Deus e não deixemos passar em vão as Suas advertências.
É sempre para o nosso maior bem que se o Senhor se dirige a cada um de nós.
Refrão: Se hoje ouvirdes a voz do Senhor,
não fecheis os vossos corações.
Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.
Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou.
O Senhor é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.
Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
como em Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras».
Segunda Leitura
Monição: Paulo escreve ao seu discípulo Timóteo, a partir da sua prisão em Roma e dá-lhe alguns conselhos pastorais.
Estas recomendações são válidas também, nos nossos dias, para todos aqueles que trabalham na vinha do Senhor.
2 Timóteo 1, 6-8.13-14
Caríssimo: 6Exorto-te a que reanimes o dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. 7Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e moderação. 8Não te envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor, nem te envergonhes de mim, seu prisioneiro. Mas sofre comigo pelo Evangelho, confiando no poder de Deus. 13Toma como norma as sãs palavras que me ouviste, segundo a fé e a caridade que temos em Jesus Cristo. 14Guarda a boa doutrina que nos foi confiada, com o auxílio do Espírito Santo, que habita em nós.
Começamos hoje, até ao fim do ano C, a ter como 2ª leitura uns respigos da 2ª Carta a Timóteo, a última das chamadas Cartas Pastorais, uma carta tão cheia de alusões pessoais, que são um forte sinal de autenticidade, apesar das muitas objecções em contrário. Escrevendo do segundo cativeiro romano, pelo ano 67, S. Paulo exorta o seu fiel colaborador a perseverar incansavelmente no ministério da pregação e na defesa da sã doutrina, prevenindo das ameaças que se avizinham para a fé recta.
6 «Reanimes o dom que recebeste pela imposição das minhas mãos». O rito da imposição das mãos tem aqui, como em 1Tim 414, o sentido de comunicação do ministério apostólico; o dom corresponde à graça do Sacramento da Ordem (segundo o ensino de Trento: cf. DS 959), que se pode reactivar com a oração e o sacrifício, na correspondência às exigências da vocação (versículos seguintes). Como então, ainda hoje pertence ao sinal sacramental da Ordem a imposição das mãos do Bispo.
14 «Guarda a boa doutrina que nos foi confiada» (à letra: «guarda o bom depósito»). Bom, isto é, precioso e autêntico, um depósito, que são as palavras sãs segundo a fé (v. 13). A Revelação divina é um depósito sagrado confiado à Igreja e que ela tem de guardar e transmitir íntegro (cf. Dei Verbum, nº 7 e 10); é assim que em 1Tim 6,20 é dirigido ao grande colaborador de Paulo o veemente apelo final, «guarda o depósito», uma expressão de sabor jurídico (parathêkê), para designar uma coisa confiada à guarda duma pessoa de confiança, com a obrigação de lha guardar, sem deixar que se perca ou deteriore.
Aclamação ao Evangelho 1 Ped 1, 25
Monição: Devemos acolher as palavras do Evangelho como dirigidas pessoalmente a cada um de nós.
Elas são de ontem, de hoje e de sempre, ensinam-nos o caminho da verdadeira felicidade.
Aleluia
Cântico: Aleluia – J. Berthier, COM, (pg 112)
A palavra do Senhor permanece eternamente.
Esta é a palavra que vos foi anunciada
Evangelho
Lucas 17, 5-10
5Naquele tempo, os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé». 6O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia. 7Quem de vós, tendo um servo a lavrar ou a guardar gado, lhe dirá quando ele volta do campo: ‘Vem depressa sentar-te à mesa’? 8Não lhe dirá antes: ‘Prepara-me o jantar e cinge-te para me servires, até que eu tenha comido e bebido. Depois comerás e beberás tu. 9Terá de agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou? 10Assim também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos inúteis servos: fizemos o que devíamos fazer’».
O texto de hoje pertence à última parte (Lc 16,1 – 19,27) dos ensinamentos de Jesus na grande viagem para Jerusalém; aqui o Evangelista recolhe relatos diversos e de forma bastante dispersa, muitos deles exclusivos de Lucas.
5. «Os Apóstolos disseram ao Senhor». Notar como, diversamente dos outros Sinópticos, S. Lucas, na sua narração, frequentemente designa Jesus como «o Senhor», ainda antes da ressurreição.
6 «Diríeis a esta amoreira». Em Mt 17,20 e Mc 11,23, lê-se: a este monte, não deverá, porém, tratar-se duma suavização da arrojada forma de falar de Jesus, mas antes podemos pensar numa outra expressão paralela usada pelo Senhor.
7-10 Esta expressiva lição de humildade é exclusiva de Lucas. «Um servo...»: embora não se tratasse de um escravo à maneira romana, mas de um servo à maneira hebraica, não deixava de ser um criado para todo o serviço: lavar, cozinhar e servir à mesa, etc... Assim devemos nós estar dispostos a executar todo e qualquer serviço por Deus, Nosso Senhor – «o Amo» (ou Patrão, como gostava de lhe chamar o São Manuel González) –, com ânimo humilde e agradecido, pois não fazemos qualquer favor a Deus – servos inúteis –. Ele é que nos faz o máximo favor de nos admitir a servi-lo; este é o primeiro dever duma criatura relativamente ao seu Criador.
Sugestões para a homilia
• A fé, dom de Deus aos Seus filhos
• Como crescer na fé
1. A fé, dom de Deus aos Seus filhos
Quando dizemos que temos fé em alguém, queremos dizer que confiamos nessa pessoa, antes de vermos se vai proceder com fidelidade para connosco.
Ter fé em Deus não consiste apenas em saber algumas verdades por Ele ensinadas, mas em confiar n’Ele, de modo tomamos certas atitudes na vida apoiados nesta confiança.
Recebemos a luz da fé no Batismo. Ela leva-nos a ter outra visão da vida: a ver mais longe, melhor e até, por vezes, o contrário do que nos parecia. O Senhor, que conhece perfeitamente as nossas limitações, ajuda-nos assim, a evitar que sejamos enganados e possamos fazer boas escolhas na nossa vida, em ordem à vida eterna no Paraíso.
• Os silêncios de Deus. Há momentos na vida em que nos parece que Deus emudeceu e deixou de nos ouvir, como se não existisse, porque rezamos, chamamos por Ele e parece que não ouvimos qualquer resposta. Quem não viveu já um momento destes?
O profeta Habacuc escreve num momento semelhante a este. «Até quando, Senhor, chamarei por Vós e não Me ouvis? Até quando clamarei contra a violência e não me enviais a salvação? Porque me deixais ver a iniquidade e contemplar a injustiça?»
A fé sobrenatural em Deus apoia-se n’Ele: na Sua veracidade não mente – e na Sua Sabedoria infinita – não se engana.
Quando se trata de acreditar, apoio-me, humanamente, em dois pilares: isto é crível. Não é uma afirmação que veja, logo à primeira vista, que é um disparate; e que é importante acreditar.
Depois de tudo isto, a fé sobrenatural é uma graça, um dom que o Senhor nos concede no Batismo que devemos pedir, defender e alimentar.
• O aparente e ilusório triunfo do mal. Somos tentados, às vezes, a pensar que há forças que conseguem escapar ao domínio de Deus; ou então de que Ele deixou de nos ouvir e de se interessar por nós.
Às pessoas que professam a mentira e o pecado tudo lhes corre bem, com êxitos seguidos, compram a justiça, têm êxito, enquanto os que procuram amar e servir a Deus encontram dificuldades por toda a parte.
O alicerce da f é a humildade: «Eu te bendigo, ó Pai, Senhor do Céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos soberbos e revelaste-as aos pequeninos.»
Na verdade, a primeira atitude que o Senhor pede é de humildade e de confiança, como a das crianças em seus pais. Nada abala a sua confiança neles.
O profeta Habacuc dirige uma oração ao Senhor em nome do Povo de Deus, oprimido por muitas desgraças.
Era este o problema do profeta e também o nosso: «Diante de mim está a opressão e a violência, levantam-se contendas e reina a discórdia?»
Habacuc vive num tempo de perturbação para Israel, porque os babilónios ameaçam o Povo de Deus constantemente. Estamos no séc. VII a. C.
• A fé, alicerce da nossa confiança. A oração do profeta parece negativa, sem confiança, mas, na verdade, é um ato de confiança no Deus de Israel que fez com ele uma Aliança.
De facto, Deus responde imediatamente à oração do profeta, enchendo-o de segurança e optimismo. Na verdade, responde-lhe: «Põe por escrito esta visão e grava-as em tábuas com toda a clareza, de modo que a possam ler facilmente. Embora esta visão só se realize na devida altura, ela há-de cumprir-se com certeza e não falhará ainda que pareça demorar em responder, deve ter a certeza de que Deus nunca falta ao prometido. Se parece demorar, deves esperá-la, porque ela há-de vir e não tardará.»
Deus é fiel. Nunca nos abandona no meio das dificuldades. Sabe que elas nos são necessárias para purificar a nossa fé, fazendo-nos crescer na confiança que temos n’Ele e, portanto, ajudando-nos a caminhar. Se tudo corresse de acordo com os nossos desejos, onde estaria a nossa confiança em Deus?
Por outro lado, todos os dias verificamos com os nossos olhos o que diz o Senhor: «Vede como sucumbe aquele que não tem alma recta; mas o justo viverá pela sua fidelidade.»
Foi nesta confiança incondicional que viveram Maria e S. José, as pessoas mais queridas de Jesus.
2. Como crescer na fé
O Colégio Apostólico dos Doze que acompanhava Jesus por toda a Terra Santa, na Sua Vida pública, era uma escola itinerante da fé.
De vez em quando, os Apóstolos reagiam às verdades que Jesus lhes ensina. Simão Pedro, bem como os outros, não acabam de aceitar que a redenção operada pelo Mestre passe necessariamente pela Paixão e Morte n Cruz.
Outras vezes, testemunham cenas em que a fé dos que se aproximam de Jesus é premiada.
Assim acontece à cananeia: «Ó mulher! Grande é a tua fé. Seja feito como desejas.»
Ao centurião que pede a cura de um subalterno, embora se julgue indigno de o fazer diretamente ao Mestre e de O receber em sua casa, Jesus diz: «Digo-vos que nem mesmo em Israel encontrei tão grande fé».
Como podemos, então, colaborando com a graça, crescer na fé recebida no Batismo?
• Fazer oração. A fé em Deus é um dom sobrenatural que devemos pedir, como fizeram os Apóstolos. «Naquele tempo, os Apóstolos disseram ao Senhor: “Aumenta a nossa fé.”»
Deus quer que Lhe peçamos as graças de que necessitamos nesta caminhada para o Céu. Se tudo nos fosse concedido espontaneamente, não nos aperceberíamos dos dons que recebemos e não colaboraríamos com o nosso crescimento espiritual.
Jesus insiste nesta necessidade de pedir: «Pedi, e recebereis, procurai, e achareis, batei, e abrir-se-vos-á.»
A verdade é que nós suprimimos praticamente a oração da nossa vida e tentamos desculpar-nos com a falta de tempo... de disposição, etc.
Quando paramos com Deus a fazer oração, aviva-se a nossa fé e ganhamos mais intimidade com Ele.
• Exercitar a fé e a confiança. É preciso fazer atos de fé e de confiança no nosso Pai do Céu.
A fé tem de nos levar a esta confiança, com o consequente abandono ao querer do nosso Deus. Se eu confio n’Ele, está bem tudo o que Ele quiser.
«O Senhor respondeu: “Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia.»
É verdade que Jesus utiliza uma dessas figuras orientais, para vincar bem a verdade que ensina. Mas a nossa fé confiada, irá conseguir prodígios ainda maiores.
Conheci um homem a quem Deus pediu para lançar na Igreja e no mundo um incêndio de amor de Deus. Tinha apenas vinte e seis anos e bom humor. Levantaram-se as dificuldades de toda a ordem e procedência. Com a oração e fazendo o que parecia como vontade do Senhor, realizou o projeto de Deus.
Algumas vezes, os amigos respondiam aos seus projetos: É como lançar-se do alto, sem paraquedas. Mas ele lançou-se e Deus coroou a sua fé com êxito.
• A humildade, alicerce da fé. Um dos grandes obstáculos ao nosso crescimento na fé costuma ser a soberba, o pensarmos que sabemos e podemos tudo e não precisamos de Deus para nada.
A soberba – o pensar que somos mais do que na realidade somos –, faz-nos perder a fé. Foi assim que grandes inteligências na Igreja se despenharam.
• Reanimar o dom de Deus. Recebemos no Batismo o dom da filiação divina, mas teimamos em tratar Deus como um estranho, à distância e com desconfiança.
Sigamos o conselho de S. Paulo na sua Carta a Timóteo. Reanimemos o dom de Deus que recebemos no batismo. Enchamo-nos de confiança filial e caminhos a sério para o Céu.
Como é cheia de beleza a fé e a humildade que Nossa Senhora canta no Magnificat, em casa de Isabel!
Tem consciência da sua grandeza na história da salvação, mas sabe que é tudo obra de Deus na sua vida.
Fala o Santo Padre
«“Somos servos inúteis”, ou seja, sem pretensão de ser agradecidos, sem reivindicações.
É uma expressão de humildade e disponibilidade que faz tanto bem à Igreja
e recorda a atitude correta de trabalhar nela:
o serviço humilde de que Jesus nos deu o exemplo, lavando os pés dos discípulos.»
A página do Evangelho de hoje (cf. Lc 17, 5-10) apresenta o tema da fé, introduzido pela pergunta dos discípulos: «Aumenta a nossa fé!» (v. 6). Uma bela oração, que devemos recitar muito durante o dia: «Senhor, aumenta a minha fé!». Jesus responde com duas imagens: o grão de mostarda e o servo disponível. «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a essa amoreira: “Arranca-te daí e planta-te no mar”, e ela havia de vos obedecer» (v. 6). A amoreira é uma árvore forte, bem enraizada na terra e resistente aos ventos. Portanto, Jesus quer fazer compreender que a fé, ainda que pequena, pode ter a força de erradicar até mesmo uma amoreira. E depois transplantá-la no mar, o que é algo ainda mais improvável: mas nada é impossível para aqueles que têm fé, porque eles não confiam nas suas próprias forças, mas em Deus, que tudo pode.
A fé comparável com o grão de mostarda é uma fé que não é soberba nem autoconfiante; não pretende ser a de um grande crente, por vezes fazendo má figura! É uma fé que na sua humildade sente uma grande necessidade de Deus e na sua pequenez abandona-se com plena confiança a Ele. É a fé que nos dá a capacidade de olhar com esperança para os altos e baixos da vida, que nos ajuda a aceitar até mesmo as derrotas e os sofrimentos, sabendo que o mal nunca teve, nunca terá, a última palavra.
Como podemos compreender se realmente temos fé, isto é, se a nossa fé, ainda que pequena, é genuína, pura, direta? Jesus no-lo explica indicando qual é a medida da fé: o serviço. E fá-lo com uma parábola que, à primeira vista, é um pouco desconcertante, pois apresenta a figura de um senhor arrogante e indiferente. Mas precisamente este modo de fazer do mestre faz sobressair qual é o verdadeiro centro da parábola, ou seja, a atitude de disponibilidade do servo. Jesus quer dizer que o homem de fé se comporta assim em relação em Deus: rende-se completamente à sua vontade, sem cálculos nem pretensões.
Esta atitude para com Deus reflecte-se também na forma como nos comportamos em comunidade: reflecte-se na alegria de estarmos ao serviço uns dos outros, encontrando já nisto a nossa recompensa e não nos reconhecimentos nem nas vantagens que disto podem derivar. É o que Jesus ensina no final deste relato: «quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”» (v. 10).
Servos inúteis, ou seja, sem pretensão de ser agradecidos, sem reivindicações. «Somos servos inúteis» é uma expressão de humildade e disponibilidade que faz tanto bem à Igreja e recorda a atitude correcta de trabalhar nela: o serviço humilde de que Jesus nos deu o exemplo, lavando os pés dos discípulos (cf. Jo 13, 3-17).
Que a Virgem Maria, mulher de fé, nos ajude a percorrer este caminho. Dirigimo-nos a ela nas vésperas da festa de Nossa Senhora do Rosário, em comunhão com os fiéis reunidos em Pompeia para a tradicional súplica.
Papa Francisco, Angelus, Praça de São Pedro, 6 de outubro de 2019
Oração Universal
Irmãos e irmãs:
Com o ardor da fé que o Senhor nos deu
e que é capaz de fazer milagres,
vamos pedir-Lhe pela Igreja e pelo mundo.
Oremos (cantando), humildemente:
Pela vossa misericórdia, ouvi-nos, Senhor.
1. Pela Igreja santa de Deus, fiel depositária da doutrina de Cristo para que anuncie a fé que leva à salvação e os mistérios do Reino,
oremos, irmãos.
Pela vossa misericórdia, ouvi-nos, Senhor.
2. Por aqueles que receberam o Espírito Santo, o Dom de Deus,
para que dêem perante os homens bom testemunho de Jesus,
oremos, irmãos.
Pela vossa misericórdia, ouvi-nos, Senhor.
3. Pelos justos que clamam ao Senhor contra a violência e opressão,
para que a sua voz seja atendida quanto antes pelo Deus do Céu,
oremos, irmãos.
Pela vossa misericórdia, ouvi-nos, Senhor.
4. Pelas pessoas do mundo inteiro não respeitadas na sua dignidade,
para que encontrem quem defenda os seus direitos com verdade,
oremos, irmãos.
Pela vossa misericórdia, ouvi-nos, Senhor.
5. Por todos os estudantes que iniciaram um novo ano académico,
para que tenham nos professores mestres e nos pais, bons amigos,
oremos, irmãos.
Pela vossa misericórdia, ouvi-nos, Senhor.
6. Por todos nós aqui reunidos pelo Senhor a celebrar a Eucaristia,
para que sirvamos a Deus com alegria, em casa e em toda a parte,
oremos, irmãos.
Pela vossa misericórdia, ouvi-nos, Senhor.
7. Pelos nossos irmãos e parentes chamados por Deus à vida eterna,
para que, pela misericórdia do Senhor, contemplem hoje o Paraíso,
oremos, irmãos.
Pela vossa misericórdia, ouvi-nos, Senhor.
Senhor, nosso Deus e nosso Pai,
que enviastes o vosso Filho Jesus Cristo
como servidor ao meio dos homens,
dai-nos o seu Espírito e aumentai a nossa fé,
para sermos fiéis no vosso serviço.
Por Cristo Senhor nosso.
Liturgia Eucarística
Introdução
O Senhor fez crescer a nossa fé na Mesa da Palavra em que acabamos de participar.
Como bom Pastor, prepara agora para nós o Alimento divino que nos vai possibilitar a luz da Verdade se transforme em obras de Salvação.
Cântico do ofertório: A minha boca proclamará – M. F. Borda, NRMS, 43
Oração sobre as oblatas: Aceitai, Senhor, o sacrifício que Vós mesmo nos mandastes oferecer e, por estes sagrados mistérios que celebramos, confirmai em nós a obra da redenção. Por Nosso Senhor...
Santo: A. Cartageno – ENPL, 15
Saudação da Paz
A fé ensina-nos os verdadeiros caminhos da paz, aquela que Jesus veio trazer aos homens de boa vontade.
Procuremos viver iluminados pela fé, e encontraremos a paz que procuramos.
Monição da Comunhão
Hoje, depois de termos acolhido em nós o mesmo Jesus que percorreu os caminhos da terra Santa a fazer o bem, não nos esqueçamos de repetir, com insistência, a oração do cego Bartimeu, em Jericó: Senhor, que eu veja!
E o Senhor misericordioso encherá de luz o nosso caminhar da terra para o Céu.
Cântico da Comunhão: Comemos, ó Senhor, do mesmo pão – M. F. Borda, NRMS, 43
Lam 3, 25
Antífona da comunhão: O Senhor é bom para quem n'Ele confia, para a alma que O procura.
Ou
cf. 1 Cor 10, 17
Porque há um só pão, todos somos um só corpo, nós que participamos do mesmo cálice e do mesmo pão.
Cântico de acção de graças: Hóstia santa, penhor de salvação – M. Simões, NRMS, 6
Oração depois da comunhão: Deus todo-poderoso, que neste sacramento saciais a nossa fome e a nossa sede, fazei que, ao comungarmos o Corpo e o Sangue do vosso Filho, nos transformemos n'Aquele que recebemos. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ritos Finais
Monição final
Não esqueçamos: a nossa fé, se não for concretizada em boas obras, é morta.
Cântico final: A paz vos deixo, – J. F. Silva, NRMS, 01
Homilias Feriais
TEMPO COMUM
27ª SEMANA
2ª Feira, 3-X: Imitar Jesus, o Bom Samaritano.
Gal 1, 6-12 / Lc 10, 25-37
Mas um samaritano, que seguia de viagem, veio por junto dele e, quando o viu, encheu-se de compaixão.
O bom samaritano da parábola (EV) é, em primeiro lugar, o próprio Cristo. Ele manifestou a sua misericórdia para connosco, entregando a sua vida (na Santa Missa) e parando junto de nós para curar as nossas feridas (Confissão sacramental).
Sejamos nós também bons samaritanos. Há pessoas feridas, no corpo e na alma, longe de Deus, em circunstâncias dolorosas, abandonadas. S. Paulo fez de bom samaritano (LT), oferecendo o alimento do verdadeiro Evangelho (LT). O Senhor é misericordioso e compassivo (SR). Imitemos Nossa Senhora na ajuda à sua parente Santa Isabel.
3ª Feira, 4-X: Manter a união com Deus.
Gal 1,13-24 / Lc 10,38-42
Marta, Marta, andas inquieta com muita coisa, quando uma só é necessária.
Qualquer que seja a nossa ocupação, o importante é que mantenhamos a união com Deus (EV). Podemos arranjar momentos exclusivamente dedicados ao Senhor, como Maria: tempo de oração, de meditação, leituras. Mas também é possível lembrar-nos de Deus, durante o tempo de trabalho, como Marta, oferecendo o nosso trabalho ao Senhor.
S. Paulo, depois da revelação recebida de Deus, retirou-se durante algum tempo para assimilar a vontade de Deus e, só depois, começou as suas viagens (LT). Conduzi-me pelo caminho da eternidade (SR). Nossa Senhora acompanhou sempre Jesus durante toda a sua vida.
4ª Feira, 5-X: O Pão da Vida e a Palavra de Deus.
Gal 2, 1-2. 7-14 / Lc 11, 1-4
Dai-nos em cada dia o pão para nos alimentarmos.
Pedimos a Deus o alimento que é necessário para a nossa subsistência. Neste pedido está incluído o Pão da Vida, o Corpo de Cristo, necessário para a nossa vida sobrenatural. É o que contemplamos no 5º mistério luminoso do Santo Rosário. Além do que pedimos, aproximemo-nos sempre que possível para recebê-lo na Comunhão.
S. Paulo fala do outro alimento, a Palavra de Deus: expus o Evangelho, que prego, aos gentios, aos membros da Igreja (LT). Recebamo-lo como Nossa Senhora, com o desejo que transforme a nossa vida: faça-se em mim segundo a vossa palavra.
5ª Feira, 6-X: Eficácia da oração e do sacrifício.
Gal 3, 1-6 / Lc 11, 5-12
Mas, por causa da sua impertinência, levantar-se-á para lhe dar tudo o que precisa.
S. Lucas traz-nos esta parábola sobre a oração do amigo inoportuno (EV). Somos convidados a ser perseverantes na oração: batei e hão-de abrir-vos (EV). A oração é sempre eficaz pois, mesmo que Deus não nos conceda o que pedimos, fazemos uma obra boa: rezar.
O fruto será mais abundante se tivermos presente o conselho do Apóstolo: a vossos olhos foi traçada a imagem de Cristo crucificado (LT). É na Cruz que Jesus obtém o maior fruto: a nossa Redenção. Deu-nos um Salvador poderoso (SR). Nossa Senhora em Caná pede ao Filho que faça um milagre.
Celebração e Homilia: Fernando Silva
Nota Exegética: Geraldo Morujão
Homilias Feriais: Nuno Romão
Sugestão Musical: José Carlos Azevedo