S. João Baptista
Missa do Dia
24 de Junho de 2020
RITOS INICIAIS
Cântico de entrada: Fiz de ti a luz das nações – C. Silva, OC, pg 124
Jo 1, 6-7; Lc 1,17
Antífona de entrada: Apareceu um homem enviado por Deus, que tinha o nome de João. Ele veio para dar testemunho da luz e preparar o povo para a vinda do Senhor.
Diz-se o Glória.
Introdução ao espírito da Celebração
São João Baptista faz parte dos chamados Santos populares. Diz a introdução ao Missal Romano que a Liturgia celebra o Nascimento de Jesus e celebra somente o de São João Baptista e o da Virgem Maria. O Evangelho recorda-nos que São João estaria “cheio do Espírito Santo desde o seio materno.” O próprio Jesus fez este elogio: “Entre os filhos de mulher não apareceu ninguém maior que João Baptista” (Lucas 7, 28). Ele é o elo de ligação entre a Antiga e a Nova Aliança: “A Lei e os profetas até João Baptista.” (Lucas 16,16) São João Baptista é o Precursor de Jesus. Preparou os seus caminhos, anunciou a Sua vinda e apresentou-O aos homens. É uma testemunha fiel; viu e deu testemunho: “Jesus é o filho de Deus. Eis o Cordeiro de Deus.” (João 1,34.36)
Oração colecta: Senhor, que enviastes São João Baptista a preparar o vosso povo para a vinda do Messias, concedei à vossa família o dom da alegria espiritual e guiai o coração dos fiéis no caminho da salvação Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura
Monição: «O Senhor escolheu-me desde o seio materno. Ele disse-me: farei de ti a luz das nações, para que a Minha salvação chegue até aos confins da terra.» (Isaías 49, 1-6)
A Liturgia coloca na boca de João Baptista as palavras do Profeta Jeremias, encarregado por Deus, durante o exílio de Babilónia, de anunciar que a salvação se destinava a todos os povos. João Baptista não anunciou apenas a universalidade da salvação divina, mas indicou Jesus, o Messias, que quer dizer, o Salvador de toda a humanidade.
Isaías 49, 1-6
1Terras de Além-Mar, escutai-me povos de longe, prestai atenção. O Senhor chamou-me desde o ventre materno, disse o meu nome desde o seio de minha mãe. 2Fez da minha boca uma espada afiada, abrigou-me à sombra da sua mão. Tornou-me semelhante a uma seta aguda, guardou-me na sua aljava. 3E disse-me: «Tu és o meu servo, Israel, por quem manifestarei a minha glória». 4E eu dizia: «Cansei-me inutilmente, em vão e por nada gastei as minhas forças». 5Mas o meu direito está no Senhor e a minha recompensa está no meu Deus. E agora o Senhor falou-me, Ele que me formou desde o seio materno, para fazer de mim o seu servo, a fim de Lhe restaurar as tribos de Jacob e reconduzir os sobreviventes de Israel. Eu tenho merecimento aos olhos do Senhor e Deus é a minha força. 6Ele disse-me então: «Não basta que sejas meu servo, para restaurares as tribos de Jacob e reconduzires os sobreviventes de Israel. Farei de ti a luz das nações, para que a minha salvação chegue até aos confins da terra».
Este texto é o II Cântico do Servo de Yahwéh. O sentido profundo desta passagem visa o Messias, Luz das nações (v. 6; cf. Lc 2,32). No entanto, temos aqui, como tantas vezes na Liturgia, uma adaptação deste texto a outra figura que não é o Messias, mas o seu Precursor, João Baptista. Joga-se, portanto, com o sentido acomodatício, que não é um sentido propriamente bíblico; é um sentido que nós pomos na Sagrada Escritura, tendo em conta uma certa semelhança de fundo ou meramente verbal. Aqui trata-se duma «acomodação real ou por extensão», pois há uma grande semelhança de fundo entre o texto e o que realmente se passou com o Baptista: v. 1b – Chamado antes do nascimento (cf. Lc 1,13-17); v. 1b – Santificado no ventre materno (cf. Lc 1,15.41-44); Chamado antes do nascimento (cf. Lc 1,13-17); v. 1b – Santificado no ventre materno (cf. Lc 1,15.41-44); v. 2 – Pregador intrépido das exigências divinas (cf. Mt 3,7-10; 14,4); vv. 5-6 – Reconduz Israel a Deus e restaura o Povo (cf. Lc 1,16-17; 3,1-20.
Salmo Responsorial Sl 138 (139), 1-3.13-14ab.14c-15 (R. 14a)
Monição: Sabemos que o Senhor nos escolheu antes da criação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis, para sermos seus filhos adoptivos. Bendito seja Deus. Com o salmista, damos graças ao Pai celeste pelo dom da vida: “Graças, Senhor, porque tão maravilhosamente nos formastes” e nos chamastes à existência.
Refrão: eu vos dou graças, senhor,
porque admiravelmente me criastes.
Senhor, Vós conheceis o íntimo do meu ser:
sabeis quando me sento e quando me levanto;
de longe penetrais o meu pensamento,
Vós me vedes quando caminho e quando descanso;
observais todos os meus passos.
Vós formastes as entranhas do meu corpo,
e me criastes no seio de minha mãe.
Eu vos dou graças,
por me haverdes feito tão maravilhosamente;
admiráveis são as Vossas obras.
Vós conhecíeis já a minha alma,
e nada do meu ser Vos era oculto,
quando secretamente era formado,
modelado nas profundezas da terra.
Segunda Leitura
Monição: «João tinha proclamado ao povo de Israel, antes da vinda de Jesus, um baptismo de penitência.» (Actos 13, 22-26)
Ao chegar ao fim da sua missão de preparar os caminhos do Senhor, João Baptista falou assim acerca de Jesus: “Eu não sou quem julgais. Depois de mim vai chegar Alguém, a quem eu não sou digno de desatar as sandálias de seus pés.” (João 1,27) Que bela lição de humildade.
Actos dos Apóstolos 13, 22-26
Naqueles dias, Paulo falou deste modo: 22«Deus concedeu aos filhos de Israel David como rei, de quem deu este testemunho: ‘Encontrei David, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará sempre a minha vontade’. 23Da sua descendência, como prometera, Deus fez nascer Jesus, o Salvador de Israel. 24João tinha proclamado, antes da sua vinda, um baptismo de penitência a todo o povo de Israel. 25Prestes a terminar a sua carreira, João dizia: ‘Eu não sou quem julgais mas depois de mim, vai chegar Alguém, a quem eu não sou digno de desatar as sandálias dos seus pés’. 26Irmãos, descendentes de Abraão e todos vós que temeis a Deus: a nós é que foi dirigida esta palavra de salvação».
A leitura é tirada do discurso de São Paulo em Antioquia da Pisídia, por ocasião da primeira grande viagem, o primeiro discurso kerigmático do Apóstolo a ser registado nos Actos dos Apóstolos. Corresponde a um modelo primitivo, mas a redacção de Lucas tem presente certamente os seus leitores, a quem se dirige ao redigir a sua obra.
24-25 «João dizia». Breve referência à substância da pregação do Baptista: a preparação do povo para receber bem o Messias que ele anunciava. Mas a santidade de João era tão grande e impressionante que ele precisou de deixar bem claro que «eu não sou aquilo que julgais», pois o tinham como o Messias (cf. Jo 1,20-30; 3,25-30).
Aclamação ao Evangelho cf. Lc 1. 76
Monição: “Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo!”
São João Baptista, ensinai-nos a amar Jesus e a preparar os corações de todos quantos procuram seguir os caminhos da vida, acreditando em Jesus, com nosso Salvador.
Aleluia
Cântico: M. Faria, NRMS, 87
Tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo,
irás à frente do Senhor a preparar os seus caminhos.
Evangelho
São Lucas 1, 57-66.80
Naquele tempo, 57chegou a altura de Isabel ser mãe e deu à luz um filho. 58Os seus vizinhos e parentes souberam que o Senhor lhe tinha feito tão grande benefício e congratularam-se com ela. 59Oito dias depois, vieram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. 60Mas a mãe interveio e disse: «Não, Ele vai chamar-se João». 61Disseram-lhe: «Não há ninguém da tua família que tenha esse nome». 62Perguntaram então ao pai, por meio de sinais, como queria que o menino se chamasse. 63O pai pediu uma tábua e escreveu: «O seu nome é João». Todos ficaram admirados. 64Imediatamente se lhe abriu a boca e se lhe soltou a língua e começou a falar, bendizendo a Deus. 65Todos os vizinhos se encheram de temor e por toda a região montanhosa da Judeia se divulgaram estes factos. 66Quantos os ouviam contar guardavam-nos em seu coração e diziam: «Quem virá a ser este menino?». Na verdade, a mão do Senhor estava com ele. 80O menino ia crescendo e o seu espírito fortalecia-se. E foi habitar no deserto até ao dia em que se manifestou a Israel.
A leitura de hoje apresenta-nos o relato do nascimento do Precursor bem como da imposição do nome e circuncisão. Na vigília já se leu o anúncio do nascimento.
63 «O seu nome é João». Com grande surpresa para toda a família, o menino não recebe o nome do pai, ou, como era mais frequente, o do avô paterno, mas o nome anunciado pelo Arcanjo Gabriel: João, que quer dizer «Yahwéh concedeu uma graça». Do versículo anterior deduz-se que Zacarias estava mudo e surdo, pois lhe «perguntaram por sinais» (v. 62).
80 «E foi habitar no deserto». Não é crível que João tenha ido para o deserto ainda menino muito pequeno, como dizem os apócrifos, nem apenas algum tempo antes da vida pública de Cristo. O facto de Lucas dizer logo neste momento que João foi para o deserto, corresponde a uma técnica da composição lucana, chamada técnica de eliminação: antes de passar a outro assunto, avança com coisas que se referem à pessoa de que está a falar, eliminando o que entrementes sucedeu, sem se preocupar da cronologia; assim se explica que a Virgem Maria não apareça no nascimento do Baptista, etc. João, tendo à sua frente uma carreira brilhante, pois era da classe sacerdotal, renuncia a ela, para levar uma vida recolhida e penitente, vida que havia de conferir grande autenticidade e autoridade à sua futura pregação. Não foi para um deserto arenoso, mas para uma zona pobre e árida, provavelmente a Noroeste do Mar Morto. Por ali se fixaram os essénios, concretamente a seita de Qumrã, dirigida pelos sacerdotes sadoquitas dissidentes do sacerdócio oficial de Jerusalém. Até que ponto manteve João contacto com estes essénios é coisa para nós desconhecida, ainda que provável.
Sugestões para a homilia
Chamar-se-á João.
Ninguém na tua família tem esse nome.
Em comunhão com toda a Igreja celebramos a solenidade de São João Baptista. Desde os primeiros séculos, o nascimento deste Santo tornou-se uma festa muito popular, celebrada com cânticos, marchas, procissões e entre nós portugueses, com as chamadas fogueiras de São João. No seu calendário religioso a Igreja colocou o nascimento de S. João Baptista no solstício de Verão e seis meses depois a solenidade do Natal, no solstício de Inverno. A partir de 24 de Junho, os dias começam a diminuir progressivamente até chegar ao dia mais curto, 25 de Dezembro.[1] Parece-nos compreender o desejo de S. João Baptista. “É preciso que Jesus cresça e que eu diminua”. João era a voz, Jesus é desde o princípio a Palavra eterna. João era uma lâmpada, o Deus Menino é a “luz que ilumina todo homem que vem a este mundo.” Ao apresentar João Baptista como precursor de Jesus, o Evangelho cita o profeta Isaías: “Uma voz clama no deserto, preparai o caminho Senhor, abri na estepe uma estrada para o nosso Deus, sejam alteados todos os vales e aplanados os montes e as colinas.” [2] A missão de João também dava cumprimento à profecia de Malaquias (3,1): “Eis que vou enviar o meu mensageiro para preparar um caminho diante de mim.”
O nome João tem a sua origem etimológica no hebraico JOHANAN (no grego JOANNES) e significa “Deus recorda-se da sua misericórdia.” Verdadeiramente, este menino nasceu como uma dádiva divina e seu pai Zacarias agradeceu: “Deus recordou-se da Sua misericórdia.” O Senhor jamais poderia esquecer a “aliança feita a Abraão e à sua descendência para sempre.” Por isso Zacarias também louva a Deus pela futura missão seu filho: “E tu, menino serás chamado profeta do Altíssimo e irás à sua frente a preparar os seus caminhos.” (São João é apresentado como alguém eleito por Deus para anunciar a vinda do Messias.)
O Evangelista São Lucas apresenta São João como filho de Isabel e de Zacarias. Pertencia à classe sacerdotal de Abias, que servia no templo de Jerusalém.[3] Santa Isabel também era de linhagem sacerdotal, por “ser descendente da tribo de Aarão.” Ambos eram idosos e não tinham filhos, porque Isabel era estéril. Certo dia, enquanto Zacarias oferecia o incenso no templo, foi visitado por S. Gabriel. “Apareceu-lhe o Anjo do Senhor, à direita do altar do perfume” (Lucas 1,11) O Anjo disse-lhe que Isabel, sua esposa ia dar à luz um filho, cujo nome seria João. Vinha preparar um povo bem disposto para acolher Jesus, o Messias prometido. Zacarias era, certamente, muito humano e poderia interrogar-se a si mesmo: como seria possível a um homem já velho ter um filho de uma esposa idosa e estéril? Iria sua esposa Isabel juntar-se aos grandes nomes de Sara e de Ana, duas outras mulheres estéreis, mas que milagrosamente foram agraciadas com o dom da maternidade, em idade muito avançada? Por isso, não nos admiramos que tivesse perguntado ao Anjo como se iria realizar um tão extraordinário milagre. “Como hei-de saber que será assim?” O Anjo respondeu-lhe que ele ficaria mudo até ao nascimento do menino, mas explicou a razão deste castigo: “Ficarás mudo por não teres acreditado na palavra de Deus.” (Lucas 1, 18.20)
Quando foi para dar o nome ao menino recém-nascido, pensaram, naturalmente, em dar-lhe o nome do pai, Zacarias. Mas Isabel declarou: “Não. Este menino chamar-se-á João”. (Lucas 1,60)
No pensamento de muitos povos o nome significa muito mais do que a designação civil. Na tradição bíblica, os pais, dando o nome à criança, indicam uma vocação de Deus que chama alguém para realizar uma missão. Os nomes que acabámos de escutar no Evangelho são todos portadores de uma boa notícia. João significa Deus usa de Misericórdia, ou também, Deus concede uma graça.[4] Zacarias significa Deus recorda-se. Isabel significa, literalmente – “Isha-El” - mulher de Deus. Ela própria reconhece o dom maravilhoso recebido: “Eis a graça que Deus me fez. O Senhor olhou para mim, para me tirar o opróbrio diante os homens.” [5] Todos estes nomes estão associados a um verbo transitivo, cujo sujeito é Deus. Temos consciência de não sermos fruto do acaso, mas uma dádiva do amor divino? Estamos convencidos de que somos pessoas importantes? O Senhor pensou em nós desde toda a eternidade. Diz o profeta que o Senhor pensou em nós e colocou sobre cada um de nós os Seus olhos: “Amei-te com amor eterno, por isso tive compaixão de ti.” (Isaías 31,3-4). O mundo não é fruto de um acaso e nós fomos escolhidos antes da criação do mundo. Nós acreditamos que o mundo foi criado por Deus e “Deus ama tanto o mundo” diz o Evangelista São João.[6] Diz também o autor do Livro da sabedoria: “Vós, ó Deus, amais tudo o que existe e não odiais nada do que fizeste, porque se o odiásseis não o terias criado.” (Sabedoria, 11,24)
“Ninguém na tua família tem esse nome.
Sua mãe interveio: O Menino vai chamar-se João.”
“Então os fiéis, vindos do judaísmo, admiravam-se que a graça do Espírito Santo fosse também para os pagãos.” (Actos 10, 45). Sim, é verdade que a graça do Espírito Santo é para todos. A Igreja ia começar a receber todos os que abraçavam a fé em Jesus Cristo. Muitos eram oriundos do judaísmo e a grande maioria era proveniente das nações pagãs. A Igreja começava a crescer e a estender os seus ramos por todo o império romano. A igreja estava simbolizada na árvore da parábola do “grão de mostarda.” À sombra dos seus ramos viriam buscar abrigo todos os que haviam de acreditar e aceitar Jesus como seu Salvador. A Igreja é católica, quer dizer, universal, porque “é sacramento de salvação para todos os povos.” (LG 1,1)
“O Menino vai chamar-se João.” Um nome novo. Era mesmo uma novidade. Santa Isabel quebrou o costume tradicional: “O Menino vai chamar-se João.” Os vizinhos podiam admirar-se e maravilhar-se: Zacarias escreveu o nome e o milagre aconteceu, como anunciara o Anjo: “Zacarias escreveu numa tabuinha: João é o seu nome. E logo se lhe abriu a boca e soltou-se-lhe a língua e ele falou, bendizendo a Deus.” Este acontecimento divulgou-se rapidamente por toda a Judeia. O que era antigo estava prestes a terminar. “Ao falar de NOVA ALIANÇA, Deus declara antiquada a primeira. Ora aquilo que se torna antigo e envelhece está prestes a desaparecer.” [7] Já tinha chegado a plenitude dos tempos. A Aliança antiga ia dar lugar à Nova e eterna Aliança. Deus tinha anunciado pela boca Isaías: “Fiz de ti a luz das nações para que a minha salvação chegue até aos confins da terra.” [8] A Igreja aplica esta passagem bíblica do Profeta Isaías ao futuro Messias. Mas na Missa de hoje, vemos nestas palavras a missão de João Batista, precursor de Jesus. Deus não se deixa limitar pelas tradições, por mais veneráveis que sejam. O nascimento de João Baptista deu início a um tempo novo. Não admira que estranhassem os que estavam agarrados ao passado. Eles não sabiam que o “Espírito Santo sopra onde quer” [9] e renova a face da terra. O menino nasceu e recebeu o nome indicado pelo Anjo: “Por-lhe-ás o nome João.” Ficamos cheios de alegria e gratidão porque o nosso Deus é um Deus de Amor e usa de Misericórdia para connosco. Recuperada a fala o pai Zacarias dá graças “ao Coração Misericordioso do nosso Deus,” que se recordou da sua bondade e fidelidade em favor da casa de Israel: “Bendito o Senhor Deus de Israel, que visitou e redimiu o Seu Povo.” Com a Mãe de Jesus também nós agradecemos: “Deus recordou-se da misericórdia prometida a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.” (Lucas 1,68.54-55)
Jesus, falando acerca do Reino de Deus afirmou: “A antiga aliança e os profetas, até João Baptista.” [10] Com o nascimento de São João, Precursor de Jesus Cristo passaram as sombras e as prefigurações do judaísmo e começou a brilhar a luz da nova realidade, o cristianismo. Uma vez que a realidade se tornou presente, a figura perdeu o seu valor simbólico. “Quando chega o rei, ninguém se põe a venerar a sua imagem.” [11] Sem abolir a Lei antiga, Jesus começou a fazer o Novo Testamento. Agora é o tempo da Graça. A Lei e os Profetas ajudam-nos a compreender melhor o Amor misericordioso de Deus: “Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adoptivos.” [12] A Igreja prolonga, ao longo dos séculos, na Oração de Laudes, o “Benedictus,” pronunciado por Zacarias: “Bendito o Senhor Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo e nos deu um Salvador poderoso na casa de David, seu servo… graças ao Coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente. E tu, Menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás a sua frente a preparar os seus caminhos.” [13]
O Nascimento de uma criança é motivo de júbilo e de alegria. É uma nova vida que nos recorda a bondade de Deus Pai: “Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele escolheu-nos antes da criação do mundo. Ele predestinou-nos para sermos seus filhos adoptivos.” (cf Efésios 1, 3-4) Todos devemos ser como São João Baptista, pessoas humildes e luminosas. Jesus disse que “João era uma lâmpada que ardia e iluminava.” (Jo 5, 35) E o Evangelho diz abertamente que “ele não era a luz, mas veio para dar testemunha da Luz.” Entretanto, para todos os seus discípulos, Jesus vai dizer: “Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo.” (Mateus 5,13.14) E S. Paulo ao falar aos primeiros cristãos afirma: “Vós brilhais como estrelas no mundo, ostentando a palavra da vida.” (Filip 2,15) Interiormente devemos arder inflamados pelo zelo da glória de Deus, inflamados no fogo do amor que Jesus veio trazer à terra; exteriormente, a nossa luz deve manifestar-se através da caridade fraterna: “Brilhe a vossa luz diante dos homens para que vendo as vossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos Céus.” [14]
Algum tempo depois do Baptismo de Jesus, os amigos de João Baptista interpelavam-no, afirmando: “Mestre, agora, todos vão ter com Jesus.” Ele ficou contente e respondeu com humildade:
“O amigo do esposo regozija-se com a voz do esposo. Nisto consiste a minha alegria, que agora é completa: Importa que Jesus cresça e que eu diminua.”[15] João Baptista foi “uma lâmpada.” Por algum tempo iluminou e os seus discípulos alegraram-se. Mas em breve, daqui a seis meses vamos celebrar o nascimento de Jesus, “o verdadeiro Sol da Justiça.” Hoje, alegramo-nos com a celebração da solenidade do nascimento de São João. A nossa alegria será completa quando, no próximo Natal ressoar aos nossos ouvidos a voz do Anjo de Belém: “Não temais, anuncio-vos uma grande alegria. Nasceu para vós o Salvador. Glória a Senhor no alto dos Céus. Paz na terra aos homens amados por Deus.” [16]
Oração Universal
Irmãos e irmãs em Cristo:
Na solenidade do nascimento de São João Baptista,
elevemos a nossa oração ao Pai das misericórdias,
pelas necessidades de todos os homens, dizendo, com alegria:
R. Santificai, Senhor, o vosso povo.
Ou: Renovai, Senhor, os prodígios do vosso Espírito.
1. Pela santa Igreja, peregrina em toda a terra,
para que seja animada pelo espírito de profecia,
que animou São João Baptista no deserto, oremos.
2. Pelos bispos, presbíteros e diáconos,
para que, segundo a própria vocação,
anunciem Aquele que está no meio de nós, oremos.
3. Pelos cristãos militantes e educadores da fé,
para que, no meio das dificuldades que os cercam,
não esqueçam que a sua recompensa está em Deus, oremos.
4. Pelos povos que ainda não conhecem a Cristo,
para que Deus lhes envie missionários e profetas,
e a salvação chegue até aos confins da terra, oremos.
5. Pelos lares cristãos onde há a alegria de um nascimento,
para que os pais vejam nos filhos um dom de Deus
e estejam prontos a educá-los na fé da Igreja, oremos.
6. Pela nossa comunidade (paroquial),
para que seja humilde e servidora
e se converta sempre mais a Jesus Cristo, oremos.
Deus Pai, que nos escolhestes e chamastes a ser santos,
fazei de nós vossos servidores,
a fim de prepararmos os nossos irmãos
para a vinda do vosso Filho Jesus Cristo.
Ele que vive e reina por todos os séculos dos séculos.
Liturgia Eucarística
Cântico do ofertório: Os santos resplandecem como a luz – J. Santos, NRMS, 63
Oração sobre as oblatas: Trazemos ao altar, Senhor, os nossos dons para celebrarmos condignamente o nascimento de São João Baptista, que anunciou a vinda do Salvador do mundo e O mostrou já presente no meio dos homens. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Prefácio
A missão do Precursor
v. O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós.
V. Corações ao alto.
R. O nosso coração está em Deus.
V. Demos graças ao Senhor nosso Deus.
R. É nosso dever, é nossa salvação.
Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte, por Cristo nosso Senhor.
Ao celebrarmos hoje a glória do Precursor, São João Baptista, proclamado o maior entre os filhos dos homens, anunciamos as vossas maravilhas: antes de nascer, ele exultou de alegria, sentindo a presença do Salvador; quando veio ao mundo, muitos se alegraram pelo seu nascimento; foi ele, entre todos os Profetas, que mostrou o Cordeiro que tira o pecado do mundo; nas águas do Jordão, ele baptizou o autor do Baptismo e desde então a água viva tem poder de santificar os crentes; por fim deu o mais belo testemunho de Cristo, derramando por Ele o seu sangue.
Por isso, com os Anjos e os Santos no Céu, proclamamos na terra a vossa glória, cantando numa só voz:
Santo, Santo, Santo.
Santo: F. Silva, NRMS, 14
Monição da Comunhão
Jesus é o Bom Pastor. Ele nos apascenta nos prados verdejantes e nos leva a descansar junto às fontes de água cristalinas. Jesus também é o nosso Cordeiro Pascal. O Seu Corpo, por nós imolado é alimento que nos fortalece. O Seu Sangue por nós derramado é bebida que nos purifica. Antes da comunhão, escutamos sempre estas palavras que São João Baptista utilizou para apresentar Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus!” Que força divina existe neste anúncio maravilhoso! Estas palavras seduziram André e João, os primeiros discípulos de Jesus: “Ficaram com Ele naquele dia” e depois seguiram o divino Mestre até ao fim. Tornaram-se amigos de Deus.
O amor de João Baptista por Jesus manifestou-se publicamente. Ele deu testemunho: “Jesus é o Filho de Deus.” Ele “alegrou-se com a voz do Esposo.” “Por fim deu o mais belo testemunho de Cristo, derramando por Ele o seu sangue.” Nós também queremos amar Jesus com um amor apaixonado e ardente. Rezemos humildemente com o Centurião, que dizia: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo.” [17]
Cântico da Comunhão: Bendito o Senhor Deus de Israel – C. S., OC, pg 47
Lc 1, 78
Antífona da comunhão: Graças ao coração misericordioso do nosso Deus, das alturas nos visitou o sol nascente.
Cântico de acção de graças: Cantai alegremente ao Senhor – M. Luís, NRMS, 38
Oração depois da comunhão: Senhor, que nos alimentastes à mesa do Cordeiro celeste, concedei à vossa Igreja, que se alegra com o nascimento de São João Baptista, a graça de reconhecer o autor do seu renascimento espiritual n'Aquele cuja vinda ao mundo foi anunciada pelo Precursor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ritos Finais
Monição final
Convido-vos a recordar a noite de “vigília de oração” em que o Santo Padre deu a Bênção Urbi et Orbi, implorando a Misericórdia divina para toda a humanidade, atingida pela pandemia Covid 19. Já tinha começado o anoitecer desse memorável dia, Sexta-feira, 27 de Março. Podem rever no Youtube, Vatican News, Bênção Urbi et Orbi, 27 Março de 2020
“Muitas pessoas assistiram, no dia 27 de Março, em directo da Praça de S. Pedro, à oração pela Humanidade e a bênção Urbi et Orbi (à Cidade e ao Mundo) do Santíssimo Sacramento, pelas mãos e palavras do Papa Francisco. Foi um momento que provavelmente nunca mais se repetirá da mesma forma. Foi algo de muito sobrenatural. Tudo nos comovia! A Praça enorme, mas vazia, a chuva que insistia em cair, como se Deus estivesse a chorar implorando a nossa atenção, enquanto archotes iluminavam a entrada da Grande Basílica de São Pedro, tão bela, mas também ela tão vazia.” (Sofia Gurdes, Facebook, 28 Março 2020)
Há uma passagem paralela, no Evangelho de S. Mateus. Aqui, São Pedro pede auxílio. Socorre-me, Senhor. Jesus segura Pedro pela mão. Que semelhança entre a página bíblica e o cenário de ontem: Jesus segurando o Papa Francisco, enquanto subia as escadas molhadas, em direcção ao altar. Depois quando o Santo Padre se uniu a Jesus, assistimos ao mais profundo e eloquente silêncio. Foi mesmo muito emocionante. Nesse silêncio, Deus podia falar, tocar, cuidar e curar. Esse momento de adoração prolongada criou as condições necessárias para nós O ouvirmos, para nos deixarmos tocar e sermos curados por Ele, que é o Criador e Senhor de todo o Universo. A seguir veio a Bênção UBI ET ORBI. Foi o momento em que o santo Padre pegou em Jesus e O entregou “à Cidade e ao Mundo.” E Todos sentimos o efeito tranquilizador da BÊNÇÃO divina. Quanta Paz. Que grande Bonança. (Texto adaptado de uma mensagem tirada do Facebook)
Pela fé nós acreditamos que o Papa é o sucessor de São Pedro, a quem Jesus confiou o encargo de apascenta as ovelhas do Seu rebanho. Em nome de Jesus, o Santo Padre pediu ao Pai celeste a cura das feridas da Humanidade!
Cântico final: Os Justos viverão eternamente – M. Faria, NRMS, 36
HomiliaS FeriaIS
5ª Feira, 25-VI: A Palavra de Deus e o cumprimento da sua vontade.
2 Reis 24, 8-17 / Mt 7, 21-29
Nem todo aquele que me diz 'Senhor, Senhor', entrará no reino dos Céus, mas só quem faz a vontade de meu Pai.
O caminho que conduz ao Céu, e à felicidade aqui na terra, é a obediência à vontade divina (EV). Jesus declarou que esta era o seu alimento e, para cumpri-la, obedeceu até à morte na cruz. A nossa vida precisa igualmente de ser construída sobre a rocha firme (EV), para que, nos momentos difíceis, nos mantenhamos fortes.
Assim não aconteceu com o rei de Jerusalém que fez o que desagradava ao Senhor, tal como tinha feito seu Pai (LT). Por isso, quando foi atacado por Nabucodonossor perdeu a batalha e foi deportado com a sua família e oficiais. Ajudai-nos ó Deus para glória do vosso nome (SR).
6ª Feira, 26-VI: A Palavra de Deus e a nossa conversão.
2 Reis 25, 1-12 / Mt 8, 1-4
Veio então prostrar-se diante dEle um leproso, que lhe disse: Senhor, se quiseres, podes curar-me.
O leproso ficou curado e iniciou uma vida nova (EV). Para recomeçarmos uma nova vida precisamos reconhecer as nossas misérias. Ao fazê-lo, entregamo-nos à misericórdia do nosso Pai, experimentamos uma sensação de alívio para podermos continuar sem nos preocuparmos mais com as nossas misérias.
O rei da Babilónia Nabucodonossor conquistou a cidade de Jerusalém, destruiu as suas muralhas e deportou toda a população. Se eu não me lembrar de ti, Jerusalém, fique presa a minha língua (SR). Podemos lembrar-nos da Jerusalém celeste, a vida eterna, com desejo de lá chegar.
Sábado, 27-VI: A Palavra de Deus e a reconstrução das ruínas morais.
Lam 2, 2. 10-14. 18-19 / Mt 8, 5-17
A tua ruína é grande como o mar, quem poderá curar-te? Clama de todo o coração ao Senhor.
Lamentaram-se as filhas de Sião e Jerusalém pelas ruínas da cidade (LT). Também nos podemos lamentar com a ruína moral de tantos países no mundo, incluindo o nosso. A Igreja tem o dom precioso da fé em Jesus Cristo, fonte de esperança, que não desilude. Dirigi os vossos passos para essas ruínas eternas: o inimigo tudo destruiu no santuário (SR).
O criado do centurião estava também com a saúde arruinada. Cristo era a única esperança e o homem ficou curado. O mesmo aconteceu com a sogra de Pedro e muitos possessos (EV). Peçamos ao Senhor que cure as doenças da nossa alma, quando o recebermos na Comunhão.
Celebração e Homilia: José Roque
Nota Exegética: Geraldo Morujão
Homilias Feriais: Nuno Romão
Sugestão Musical: José Carlos Azevedo
[1] Cf Noel Quesson, Parole de Dieu pour chaque Dimanche, p.297
Na realidade este ano 2020, o solstício de Verão: dia 20 Junho, 22,43
e o solstício de Inverno: dia 21 Dezembro, 13h30
[2] Isaías 40,3-4
[3] A divisão sacerdotal de Zacarias, uma de entre as 24, servia no templo de Jerusalém. Cada divisão servia durante uma semana, por rotação, durante seis meses. Havia um número imenso de sacerdotes nestes serviços, pelo que foi um grande e raro privilégio queimar incenso sacrificial duas vezes por dia. (Dicionário Biográfico, pág. 445)
[4] Dicionário Biográfico, pág. 230, Grandes personagens da Bíblia, Selecções do Readers Digest
[5] Lucas 1,25
[6] João 3,16
[7] Hebreus 8,13
[8] Isaías 49, 6
[9] João 3,8
[10] Lucas 16,16
[11] Liturgia das Horas, Vol II, Homilia pascal de um Autor antigo, p. 600
[12] Gálatas 4,4
[13] Cf. Lucas 1,68-79
[14] Mateus 5,16
[15] João 3, 26.29-30.
[16] Cf Lucas 2,10-11.14
[17] Mateus 8,8