S. João Baptista
Missa da Vigília
23 de Junho de 2020
Solenidade
Esta Missa diz-se na tarde do dia 23 de Junho, antes ou depois das Vésperas I da solenidade.
RITOS INICIAIS
Cântico de entrada: Os santos resplandecem como a luz – J. Santos, NRMS, 63
Lc 1, 15.14
Antífona de entrada: Será grande aos olhos do Senhor e cheio do Espírito Santo desde o seio materno. Muitos se hão-de alegrar pelo seu nascimento.
Diz-se o Glória.
Introdução ao espírito da Celebração
São João Baptista faz parte dos chamados Santos populares. Diz a introdução ao Missal Romano que a Liturgia celebra o Nascimento de Jesus e celebra somente o de São João Baptista e o da Virgem Maria. O Evangelho recorda-nos que São João estaria “cheio do Espírito Santo desde o seio materno.” O próprio Jesus fez este elogio: “Entre os filhos de mulher não apareceu ninguém maior que João Baptista” (Lucas 7, 28) Ele é o elo de ligação entre a Antiga e a Nova Aliança: “A Lei e os profetas até João Baptista.” (Lucas 16,16) São João Baptista é o Precursor de Jesus. Preparou os seus caminhos, anunciou a Sua vinda e apresentou-O aos homens. É uma testemunha fiel; viu e deu testemunho: “Jesus é o filho de Deus. Eis o Cordeiro de Deus.” (João 1,34.36)
Oração colecta: Conduzi, Senhor, a vossa família pelo caminho da salvação, para que, fiel aos ensinamentos do Precursor, São João Baptista, possa ir confiadamente ao encontro de Cristo, por ele anunciado. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura
Monição: «Antes de te formar no seio materno,
Eu te escolhi para seres profeta entre as nações.» (Jeremias 1, 4-10)
Profeta é aquele que fala em nome de Deus. São João foi escolhido antes de ser formado no seio de sua mãe. Deus também nos chamou para sermos testemunhas do seu amor misericordioso, nosso mundo. Na carta aos Efésios, São Paulo afirma que “Deus nos escolheu antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis.” São João Baptista é para nós um estímulo e um exemplo para celebrarmos os mistérios da nossa salvação.
Jeremias 1, 4-10
4No tempo de Josias, rei de Judá, o Senhor dirigiu-me a palavra, dizendo: 5«Antes de te formar no ventre materno, Eu te escolhi antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei e te constituí profeta entre as nações». 6Então eu disse: «Ah, Senhor Deus, mas eu não sei falar, porque sou uma criança». 7O Senhor respondeu-me: «Não digas: ‘Sou uma criança’, porque irás ao encontro daqueles a quem Eu te enviar e dirás tudo quanto Eu te mandar dizer. 8Não tenhas receio diante deles, porque Eu estou contigo, para te salvar – diz o Senhor». 9Depois o Senhor estendeu a mão, tocou-me na boca e disse-me: «Eu ponho as minhas palavras na tua boca. 10Hoje dou-te poder sobre os povos e os reinos, para arrancar e destruir, para arruinar e demolir, para edificar e plantar».
Não é casual a escolha desta leitura que relata a vocação do Profeta Jeremias. Foi escolhida pela alusão que se quer ver à santificação de João no ventre materno: «antes que saísses do seio da tua mãe, Eu te consagrei» (cf. Lc 1,44).
6 «Mas eu não sei falar». É a reacção habitual do homem, quando se enfrenta com a vocação divina, a chamada a uma missão que exige a entrega de toda a vida a Deus para O servir numa missão que transcende a nossa limitação e franqueza. Mas a uma primeira reacção de medo segue-se uma certeza, segurança e serenidade que Deus infunde: «Eu estarei contigo!» (v. 8).
Salmo Responsorial Sl 70 (71), 1-2. 3-4a.5-6ab.15ab e 17 (R. cf. 6b)
Monição: O Salmo ajuda-nos a compreender a vocação do profeta Jeremias: “Quando te formei no seio materno, já te conhecia. Quando nasceste, já Eu te havia consagrado.” A Igreja aplica este texto bíblico a São João Baptista: “Este menino será grande aos olhos do Altíssimo e será cheio do Espírito Santo desde o seio materno.” (Luc 1,15) “Desde o nascimento, Vós me sustentais, desde o seio materno sois o meu protector.”
Refrão: Desde que nasci Vós me sustentais.
Em Vós, Senhor, me refugio:
jamais serei confundido.
Pela Vossa justiça defendei-me e salvai-me;
prestai ouvidos e libertai-me.
Sede para mim um abrigo seguro,
e fortaleza da minha salvação.
Vós sois a minha defesa e o meu refúgio.
Meu Deus, salvai-me do pecador.
Sois Vós, Senhor, a minha esperança,
a minha confiança desde a juventude.
Desde o nascimento Vós me sustentais,
desde o seio materno sois o meu protector.
A minha boca proclamará a Vossa justiça,
dia após dia a Vossa salvação.
Desde a juventude, ó Deus, Vós me ensinastes,
e até hoje sempre anunciei os Vossos prodígios.
Segunda Leitura
Monição: «Esta salvação foi objecto das investigações e meditações dos Profetas.» (1 Pedro 1, 8-12)
São Pedro lembra-nos que os profetas anunciaram os sofrimentos e a glória do Messias. Mas São João Baptista teve o privilégio de anunciar e apresentar aos homens o próprio Salvador.
1 São Pedro 1, 8-12
Caríssimos: 8Vós amais Cristo Jesus sem O terdes visto, acreditais n’Ele sem O verdes ainda. Isto é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa, 9porque conseguis o fim da vossa fé: a salvação das vossas almas. 10Esta salvação foi objecto das investigações e meditações dos Profetas que predisseram a graça a vós destinada. 11Procuraram descobrir a que tempos e circunstâncias se referia o Espírito de Cristo que estava neles, quando predizia os sofrimentos de Cristo e as glórias que se lhes haviam de seguir. 12Foi-lhes revelado que não era para eles, mas para vós, que no seu ministério transmitiam essa mensagem. É essa mensagem que agora vos anunciam aqueles que, movidos pelo Espírito Santo enviado do Céu, vos pregam o Evangelho, a qual os próprios Anjos desejam contemplar.
8-9 «Vós amais Cristo Jesus... acreditais nele...» Estes cristãos da Ásia Menor a quem S. Pedro se dirige, como também nós, já não conheceram Jesus na sua vida mortal, mas exactamente como nós hoje e os cristãos de todos os tempos acreditavam em Jesus Cristo e amavam apaixonadamente a sua pessoa adorável como alguém que está vivo e actuante, enchendo-nos daquela alegria inefável que procede de sabermos que a nossa fé vai desembocar na visão da glória, o fim da nossa fé, a salvação das nossas almas.
10 «Os profetas», mais provavelmente os do Antigo Testamento.
12 Os Anjos, ao tomarem conhecimento do plano de salvação da humanidade, extasiam-se a contemplá-lo com atenção na vida da igreja (cf. Ef 3,10).
Aclamação ao Evangelho cf. Jo 1 , 7 ; Lc 1, 1 7
Monição: O anúncio do nascimento de João Baptista prepara-nos para o nascimento de Jesus. São Lucas descreve-os com algum paralelismo, mas com uma profunda diferença. Na visitação do Anjo Gabriel a Zacarias ficámos a saber que ele não acreditou na palavra do Senhor e ficou mudo. Na visitação do Anjo Gabriel à Virgem Maria, o evangelista S. Lucas diz que ela deu o seu consentimento e ofereceu a sua vida para estar ao serviço do Filho de Deus Altíssimo: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.”
Aleluia
Cântico: Aleluia – Az. Oliveira, NRMS, 36
Ele veio para dar testemunho da luz
e preparar o povo para a vinda do Senhor.
Evangelho
São Lucas 1, 5-17
5Nos dias de Herodes, rei da Judeia, vivia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era descendente de Aarão e se chamava Isabel. 6Eram ambos justos aos olhos de Deus e cumpriam irrepreensivelmente todos os mandamentos e leis do Senhor. 7Não tinham filhos, porque Isabel era estéril e os dois eram de idade avançada. 8Quando Zacarias exercia as funções sacerdotais diante de Deus, no turno da sua classe, 9coube-lhe em sorte, segundo o costume sacerdotal, entrar no Santuário do Senhor para oferecer o incenso. 10Toda a assembleia do povo, durante a oblação do incenso, estava cá fora em oração. 11Apareceu-lhe então o Anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. 12Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. 13Mas o Anjo disse-lhe: «Não temas, Zacarias, porque a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, dar-te-á um filho, ao qual porás o nome de João. 14Será para ti motivo de grande alegria e muitos hão-de alegrar-se com o seu nascimento, 15porque será grande aos olhos do Senhor. Não beberá vinho nem bebida alcoólica será cheio do Espírito Santo desde o seio materno 16e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. 17Irá à frente do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer voltar os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de preparar um povo para o Senhor».
A leitura corresponde ao início do chamado Evangelho da Infância de Lucas. O teólogo genial que é S. Lucas, não prescinde do seu génio de historiador e começa por situar na História o acontecimento: «Nos dias de Herodes, rei da Judeia» (v. 5). Zacarias, era um nome corrente entre judeus, que significa Yahwéh recordou-se. Isabel, Elixabet, era o nome da mulher de Aarão (Ex 6,23) e significa Deus é a plenitude, ou Deus jurou. Zacarias pertencia à turma de Abias, isto é, ao oitavo turno semanal ao serviço do Templo (cf. 1Par 24,10). Segundo conta o historiador Flávio José, os 24 turnos semanais estavam em pleno funcionamento nesta data.
6 «Ambos justos aos olhos de Deus». A sua santidade não era meramente externa e legal. Justo equivale a fiel cumpridor de toda a vontade de Deus, pessoa que ajusta todo o seu pensar e actuar à lei do Senhor. Então, como hoje, é de pais justos e santos que procedem os grandes homens, os grandes santos.
9-10 «Para oferecer o incenso». Um sacrifício que se repetia duas vezes ao dia e às 3 horas da tarde. O sacerdote eleito desta vez foi Zacarias, talvez a única vez na vida que lhe coube tamanha honra, segundo as instruções de Mixná. Então pôde penetrar no Santuário, na primeira câmara chamada o Santo, onde se encontravam os 12 pães da proposição que representavam as 12 tribos de Israel na presença do Senhor, bem como o candelabro de 7 braços, a menoráh. Zacarias, totalmente só e no máximo recolhimento, ao sinal da trombeta, tinha de deitar incenso sobre as brasas que estavam sobre o pequeno altar de oiro, enquanto o povo espalhado pelos átrios, o dos israelitas e o das mulheres, fazia subir as suas preces até Deus; a nuvem do fumo do incenso que se erguia do altar dos perfumes era a imagem bem expressiva da oração, segundo as palavras do Salmo 141(140),2. A afluência dos fiéis costumava ser grande, a fim de rezar neste preciso momento, sobretudo na oferenda da tarde.
14-17 «Terás alegria…» Logo a seguir são apontados os motivos de tamanha alegria: a grandeza e santidade excepcionais do filho (v. 15), cheio de Espírito Santo (santificado no ventre materno, segundo a exegese habitual, ou dotado do carisma profético); será instrumento para a salvação de muitos (v. 16); preparará a vinda do Messias (v. 17). É interessante notar como o Evangelista, apesar de saber que João preparou a vinda de Jesus, o Messias, diz simplesmente: «a preparar a vinda do Senhor», sem instrumentaliza um relato que se move num ambiente e perspectiva pré-cristã e numa linguagem vétero-testamentária; é mais um indício da fidelidade de Lucas às suas fontes (aqui talvez um relato de família, conservado em círculos afectos ao Baptista). E também não diz: «irá à frente do Messias» (como seria de esperar), mas «irá à frente de Yahwéh».
Sugestões para a homilia
Vigília do Nascimento de São João Baptista
Celebramos solenemente o nascimento de São João Baptista. Nasce, há-de crescer, “irá habitar no deserto.” Ao iniciar a sua missão de “preparar o povo” para a chegada do Messias, a quem lhe pergunta: “Quem és tu?” Ele responde, citando o Profeta Isaías: “Eu sou a voz que clama no deserto: preparai os caminhos do Senhor.” João Baptista é mais que profeta, é o “maior entre os filhos nascido mulher”, dirá o próprio Jesus. Também revelam a grandeza de João Baptista estas palavras escritas por S. Lucas: “Ele será grande aos olhos do Senhor e cheio do Espírito Santo, desde o seio materno. Muitos se hão-de alegrar pelo seu nascimento.” [1]
Escrevo esta homilia da Vigília de São João num dia de Março, frio e cinzento, cheio de notícias sombrias para quase toda a humanidade, atingida pela pandemia Covid 19, provocada pelo novo “coronavirus”. Cresce o número de pessoas infectadas e o número de mortos é cada vez maior. Estão milhões de pessoas “em quarentena”; em vários países, estão as fronteiras fechadas; vemos imagens das prateleiras vazias nos supermercados. Vemos muita incerteza a ensombrar o horizonte. O medo já chegou a toda a parte: Até as portas das Igrejas estão encerradas para evitar a propagação do vírus.
Vigília é uma palavra derivada do Latim. Significa guarda ou vigia. Por outras palavras, vigiar significa estar acordado. A vigília religiosa é um tempo de oração especial. Umas vezes prepara as grandes festas. Outras vezes, acontece em momentos dolorosos. A vigília celebra-se durante a noite, tempo dedicado ao sono, portanto se estamos a fazer uma vigília, isso quer dizer que sacrificamos o nosso descanso. Dá-nos muita força, quando participamos numa vigília, o exemplo de Jesus que se retirava da companhia dos discípulos e “passava a noite em oração.” [2]
Esta Quaresma 2020 também foi uma grande vigília. A nossa “quarentena” para evitarmos a propagação da referida pandemia, coincidiu com o tempo quaresmal. A Palavra de Deus revelou-nos a sua actualidade e agora compreendemos melhor a verdade contida nas sagradas Escrituras: “A Palavra de Deus é viva e eficaz.” [3] A palavra de Deus continua a ser o nosso alimento espiritual: “Quando apareciam as vossas palavras eu tomava-a como um alimento. A vossa palavra constitui a minha alegria e as delícias do meu coração.” “Senhor, Vós tendes palavras de vida eterna.” [4]
No Evangelho de Quarta-feira de Cinzas, Jesus insistia connosco: “Quando rezares… quando jejuares… Entra no teu quarto, fecha a porta. O Pai celeste vê o que está no segredo e dará a recompensa!” (Mateus 6, 1-6.16-18) No Domingo de Ramos ou Domingo da Paixão, neste ano 2020, não houve procissão de ramos, Jesus falou-nos através do Evangelista S. Mateus, dizendo estas palavras actualíssimas e muito comovedoras: “O meu tempo está próximo. É EM TUA CASA que EU QUERO CELEBRAR A PÁSCOA com os meus discípulos.” [5] E foi mesmo assim. Esta Páscoa de 2020, celebrada em nossas casas, ajudou-nos a compreender que Jesus está connosco, não tanto porque nós fazemos procissões, mas porque Ele é sempre Emanuel, Deus connosco.
Não nos surpreende que os peritos da área da saúde continuamente nos tenham pedido: “Fique em casa.” E nós esforçámo-nos por ser obedientes. Ajudou-nos esta oração do senhor bispo Dom Giuseppe: “Eu fico em casa, Senhor! E responsavelmente o faço para o meu bem, pela saúde da minha cidade, dos meus entes queridos, e pelo bem do meu irmão, que Tu me colocaste ao lado, pedindo-me para o guardar no jardim da vida… Eu fico em casa, Senhor! E não me sinto só e abandonado, porque Tu me disseste: «Eu estou convosco todos os dias.» Sim e, sobretudo nestes dias de perturbação, ó Senhor, nos quais, se a minha presença não for necessária, chegarei a todos unicamente com as asas da oração. Ámen.” (Oração completa no fim.)
Deus quis que as leituras bíblicas proclamadas na Liturgia nos servissem de remédio salutar para tranquilizar os nossos corações. Alguns exemplos. Na Leitura da Missa do dia 17 de Março, Terça-feira da terceira semana da Quaresma, o profeta Daniel rezava assim: «Senhor, por amor do vosso nome, não nos abandoneis... Não temos chefe, nem guia nem profeta, nem holocausto nem sacrifício, nem oblação, nem incenso, nem lugar onde apresentar-Vos as primícias para alcançar misericórdia. Livrai-nos pelo vosso admirável poder e dai glória, Senhor, ao vosso nome.» [6] Que actualidade. Passados tantos séculos, fizemos desta oração do profeta Daniel a nossa oração contínua: “Pai santo, livrai-nos da pandemia do Covid 19”.
Voltai, Senhor! Até quando? “Minha alma está muito perturbada. E Vós, Senhor, até quando? Voltai, Senhor, livrai minha alma; salvai-me, pela vossa bondade.” [7] E Deus respondeu-nos imediatamente. Na oração de Vésperas a voz de Deus acalmou o nosso espírito e fez crescer em nós a serenidade e a confiança: “Quem confia no Senhor é como o monte Sião: nada o pode abalar, está firme para sempre. Como Jerusalém, cercada de montanhas, assim o Senhor envolve o seu povo, agora e para sempre.” [8] Com o salmo da Missa rezámos: “Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias e das vossas graças que são eternas. Não recordeis as minhas faltas e os pecados da minha juventude. Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência.” [9] E ainda, nas Vésperas desse dia, rezámos o salmo 130. Este salmo ajuda-nos sempre a crescer na confiança filial em Deus, uma confiança sem limites, até à audácia porque Deus é nosso Pai. Podemos confiar na sua bondade infinita e na Sua ternura divina que nos envolve continuamente: “Senhor, fico sossegado e tranquilo, como criança ao colo da mãe. Espera, Israel no Senhor, agora e para sempre.”
Jesus recomendava aos discípulos: “O que vos digo a vós, digo a todos: vigiai.” [10] O povo da antiga Aliança esperava a vinda do Messias, aguardava a vinda do Salvador prometido por Deus a Adão e Eva, no Jardim do Éden, depois da queda: “Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Esta te esmagará a cabeça.” [11] Ao longo dos séculos os profetas alimentaram constantemente a esperança da chegada do Messias libertador. Quantos suspiros dos patriarcas, quantas orações fervorosas e ardentes dos justos: “Desça o orvalho do alto dos Céus e as nuvens façam chover a justiça. Abra-se a terra e brote a felicidade e ao mesmo tempo germine a justiça e nasça o Salvador. Oh se descêsseis do alto dos céus!” [12] Depois de um longo Advento, ao chegar a plenitude dos tempos, “Deus enviou um Anjo a uma cidade chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José. O nome da virgem era Maria.” [13] Mas seis meses antes desta visita angélica, Deus “lembrou-se da promessa feita aos nossos pais” e manifestou a sua benevolência a Zacarias, quando exercia a função sacerdotal no templo de Jerusalém: “Apareceu-lhe então o Anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. Mas o Anjo disse-lhe: “Não temas, Zacarias porque a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, dar-te-á um filho, ao qual porás o nome de João.» [14] Amanhã vamos ler no Evangelho: “Muitos se alegraram com o nascimento de João Baptista.” Depois da noite vem a aurora que nos traz um novo dia. Irmãos, alegremo-nos porque “o Senhor visitou e redimiu o seu povo.” [15]
Oração Universal
Irmãos caríssimos:
Na Vigília da solenidade de São João Baptista,
o primeiro a dar testemunho de Cristo Salvador,
elevemos a nossa oração ao Pai das misericórdias,
dizendo com alegria:
R. Renovai, Senhor, os prodígios do vosso Espírito.
1. Pela santa Igreja, peregrina em toda a terra,
para que Deus lhe mande profetas cheios do Espírito,
que disponham os corações a acolher Cristo, oremos.
2. Por todos os povos da terra e seus governos,
para que, rejeitando a violência e a mentira,
se abram a Cristo, o Príncipe da paz, oremos.
3. Pelos monges, religiosos
e todos os que fazem apostolado,
para que sejam fiéis à consagração baptismal
e à missão a que Deus os chamou, oremos.
4. Pelos perseguidos por causa da verdade,
para que, diante dos poderosos deste mundo,
tenham a coragem que animou São João Baptista, oremos.
5. Pelos casais que não tiveram filhos,
para que ponham a sua alegria no Senhor
e n’Ele encontrem sentido para a vida, oremos.
6. Por nós e por todos os baptizados,
para que, amando a Cristo Jesus sem O ter visto,
d’Ele recebamos a salvação das nossas almas, oremos.
Acolhei, Pai santo, as nossas súplicas e,
por intercessão de São João Baptista,
concedei-nos a graça de sermos santificados
pelo Cordeiro sem defeito e sem mancha
que tira o pecado do mundo
Por Nosso senhor Jesus Cristo
Liturgia Eucarística
Cântico do ofertório: Cantai, cantai alegremente ao Senhor – M. Faria, NRMS, 30
Oração sobre as oblatas: Olhai com bondade, Senhor, para as ofertas que o vosso povo Vos apresenta na solenidade de São João Baptista e fazei que a nossa vida dê testemunho dos santos mistérios que celebramos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Santo: A. F. Santos – BML, 27
Monição da Comunhão
Jesus é o Bom Pastor. Ele nos apascenta nos prados verdejantes e nos leva a descansar junto às fontes de água cristalinas. Jesus também é o nosso Cordeiro Pascal. O Seu Corpo, por nós imolado é alimento que nos fortalece. O Seu Sangue por nós derramado é bebida que nos purifica. Antes da comunhão, escutamos sempre estas palavras que São João Baptista utilizou para apresentar Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus!” Que força divina existe neste anúncio maravilhoso! Estas palavras seduziram André e João, os primeiros discípulos de Jesus: “Ficaram com Ele naquele dia” e depois seguiram o divino Mestre até ao fim. Tornaram-se amigos de Deus.
O amor de São João Baptista por Jesus manifestou-se publicamente. Ele deu testemunho: “Jesus é o Filho de Deus.” Ele “alegrou-se com a voz do Esposo.” “Por fim, João Baptista deu o mais belo testemunho de Cristo, derramando por Ele o seu sangue.” Nós também queremos amar Jesus com um amor apaixonado e ardente. Rezemos humildemente com o Centurião, que dizia: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo.” [16]
Cântico da Comunhão: Vós sereis meus amigos – M. Luís, CEC I, pg 151
Lc 1, 16
Antífona da comunhão: Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo.
Cântico de acção de graças: É bom louvar-Te, Senhor – M. Carneiro, NRMS, 84
Oração depois da comunhão: Senhor, que nos alimentastes neste banquete sagrado, fazei que a poderosa intercessão de São João Baptista, que anunciou o Cordeiro que vinha tirar o pecado do mundo, nos alcance do vosso Filho o perdão e a paz. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Esta Missa pode utilizar-se também como votiva.
Ritos Finais
Monição final
Permanecerá viva, na nossa memória, por muito tempo, aquela “Vigília de Oração”, na Praça de São Pedro, ao entardecer do dia 27 de Março de 2020. Num momento de total pobreza e impotência do mundo, o Santo Padre, um ancião octogenário e fragilizado, apareceu, subindo as escadas molhadas da Praça de S. Pedro. Caminhando sozinho, mas unido a todos os crentes a quem tinha convidado para o acompanharem numa oração de súplica e de intercessão a Deus, Criador do Céu e da terra, Senhor do tempo e da Historia. Estava ali para pedir por toda a “Terra enferma” e por toda a humanidade: os doentes, os seus cuidadores, as famílias, os mortos, os governantes, os abandonados, os que morrem sozinhos por detrás daquelas máscaras, que não conseguiram salvá-los. Imediatamente veio à memória de muita gente a Mensagem de Fátima: "Vi um Bispo vestido de Branco... a subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo, com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz" (Texto da Irmã Lúcia, citado pelo P. Nuno Westwood, Facebook: 28 de Março 2020)
“A liturgia do gesto foi de uma beleza imensa. Numa Praça despida de tudo, incluindo a luz do sol, mas cheia de chuva suave e constante, quais lágrimas dos homens que imploram Deus, erguia-se a figura do Papa, solene e humilde, capaz de interpretar o sentir das suas ovelhas. Na exposição do Santíssimo, Jesus tranquilizava-nos: «Não tenhais medo, Eu estou no meio de vós, tão real e tão presente como estou no Céu! Não abandonarei a barca do mundo.» A Praça de S. Pedro estava “vazia”, sem as habituais multidões, mas estava cheia de milhões de cristãos, que em suas casas viam e escutavam e ficaram confiantes na “Misericórdia do Senhor que se estende de geração em geração, sobre aqueles que o temem.” [17]
Santo Padre, Papa Francisco
Depois de ser proclamado o Evangelho de S. Marcos, relatando o episódio da tempestade acalmada, o Santo Padre falou:
«Ao entardecer…» (Mc 4, 35) Assim começa o Evangelho, que ouvimos. Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer» (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar na estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos.”
PORQUE TENDES MEDO? (Marcos 4,40)
«Abraçar a sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora actual, abandonando por um momento a nossa ânsia de omnipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. Significa encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade. Na sua cruz, fomos salvos para acolher a esperança e deixar que seja ela a fortalecer e sustentar todas as medidas e estradas que nos possam ajudar a salvaguardar-nos e a salvaguardar. Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança. Aqui está a força da fé, que liberta do medo e dá esperança.
«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Queridos irmãos e irmãs, deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de vos confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo desça sobre vós, como um abraço consolador, a bênção de Deus. Senhor, abençoa o mundo, dá saúde aos corpos e conforto aos corações! Pedes-nos para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e sentimo-nos temerosos. Mas Tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua a repetir-nos: «Não tenhais medo!» (Mt 14, 27). E nós, juntamente com Pedro, «confiamos-Te todas as nossas preocupações, porque Tu tens cuidado de nós.» (cf. 1 Ped 5, 7)
Apêndice
Eu fico em casa, Senhor! E hoje dou-me conta de que, também isto, Tu mo ensinaste, permanecendo, em obediência ao Pai, durante trinta anos na casa de Nazaré, na expectativa da grande missão.
Eu fico em casa, Senhor! E na oficina de José, teu e meu guardião, aprendo a trabalhar, a obedecer, para aplainar as arestas da minha vida e preparar uma obra de arte para ti.
Eu fico em casa, Senhor! E sei que não estou só, porque Maria, como toda a mãe, está lá a tratar dos assuntos e a preparar o almoço para nós, todos família de Deus.
Eu fico em casa, Senhor! E responsavelmente o faço para o meu bem, pela saúde da minha cidade, dos meus entes queridos, e pelo bem do meu irmão, que Tu me colocaste ao lado, pedindo-me para o guardar no jardim da vida.
Eu fico em casa, Senhor! E, no silêncio de Nazaré, comprometo-me a rezar, a ler, a estudar, a meditar, a ser útil com pequenos trabalhos, para tornar mais bela e acolhedora a nossa casa.
Eu fico em casa, Senhor! E de manhã te agradeço pelo novo dia que me dás, procurando não estraga-lo, e acolhendo com admiração, como um presente e uma surpresa de Páscoa.
Eu fico em casa, Senhor! E ao meio-dia receberei de novo a saudação do Anjo, far-me-ei servo por amor, em comunhão contigo, que te fizeste carne para habitar no meio de nós; e, cansado pela viagem, sedento te encontrarei junto ao poço de Jacob e sequioso de amor na cruz.
Eu fico em casa, Senhor! E se ao anoitecer me tomar um pouco de melancolia, te invocarei como os discípulos de Emaús: «Fica connosco, porque anoitece e o dia já declina».
Eu fico em casa, Senhor! E na noite, em comunhão orante com os muitos doentes e as pessoas sós, esperarei a aurora para cantar de novo a tua misericórdia, e dizer a todos que, na tempestade, Tu foste o meu refúgio.
Eu fico em casa, Senhor! E não me sinto só e abandonado, porque Tu me disseste: «Eu estou convosco todos os dias». Sim e sobretudo nestes dias de perturbação, ó Senhor, nos quais, se a minha presença não for necessária, chegarei a todos unicamente com as asas da oração. Ámen.
D. Giuseppe Giudice, bispo de Nocera Inferiore-Sarno
Cântico final: Deus é Pai, Deus é Amor – J. F. Silva, NRMS, 90-91
Celebração e Homilia: José Roque
Nota Exegética: Geraldo Morujão
Sugestão Musical: José Carlos Azevedo
[1] Lucas 7,28. Lucas 1,15.14
[2] Lucas 6,12
[3] Hebreus 4,12
[4] Jeremias 15,16. João 6, 68
[5] Mateus 26, 18
[6] Daniel 25, 34-43
[7] Salmo 6,4-5
[8] Salmo 124 (125)
[9] Salmo 24 (25), 6
[10] Marcos 13,7
[11] Génesis3,15
[12] Cf. Isaías 45,8. 64,1
[13] Lucas 1,26-27
[14] Lucas 1,11-13
[15] Lucas 1,68
[16] Mateus 8,8
[17] Lucas, 1, 50. Cf Mariana Vilas-Boas, Facebook, 28 de Março 2020