acontecimentos eclesiais
DO PAÍS
ÉVORA
COLÓQUIO INTERNACIONAL
SOBRE A CARTUXA
Os «monges do silêncio» foram o centro das conversas
na cidade de Évora, que acolheu de 8 a 9 de Outubro passado o Colóquio
Internacional «A Cartuxa».
A iniciativa da Fundação Eugénio de Almeida, a propósito
do quarto centenário da Cartuxa Santa Maria Scala Coeli (Escada do Céu),
que este ano está a ser assinalado, reuniu investigadores portugueses e
estrangeiros para aprofundarem a espiritualidade, a arte e a cultura da Ordem
fundada há mais de 900 anos por São Bruno.
O presidente do Conselho de Administração da Fundação
Eugénio de Almeida, Cón. Eduardo Pereira da Silva, considera que esta
iniciativa «constitui um importante marco dessa celebração, enquanto permite
favorecer uma melhor compreensão do carisma único de uma vocação que é, no seu
amor a Deus, profundamente humanista».
Esta foi, segundo o prior de Scala Coeli, Pe.
Isidoro Garoña, uma forma de «dar voz ao silêncio dos Cartuxos», como escrevia
numa mensagem enviada aos participantes.
O inglês James Hogg, ex-cartuxo e fundador, em 1970,
da Analecta Cartusiana (colecção de estudos sobre história e
espiritualidade da Cartuxa, com quase 300 volumes), disse que a Ordem, hoje com
cerca de 400 monges e duas dezenas e meia de mosteiros, coloca as suas esperanças
na América e na Ásia, onde as vocações são «suficientemente estáveis para
suportar o rigor da observância cartusiana».
Os intervenientes destacaram este rigor dos Cartuxos,
assinalando que a solidão e o silêncio são, na tradição cartusiana, «caminhos
para a epifania de Deus a cada homem».
Aliando a vida dos eremitas, porque cada monge vive e
trabalha sozinho na sua cela durante quase todo o tempo, à vida dos mosteiros,
com os momentos de oração comum, os Cartuxos influenciaram profundamente a
espiritualidade católica durante séculos.
O único mosteiro contemplativo masculino em Portugal
A Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli foi
construída em Évora, entre 1587 e 1598, pelo Arcebispo D. Teotónio, da Casa de
Bragança.
O único mosteiro contemplativo masculino em Portugal é
pobre e simples, mas espaçoso. De facto, o claustro, com jardim de um hectare,
é o maior de Portugal.
Os próprios monges atendem à manutenção da comunidade,
mas os que para tal têm de sair da cela (ordinariamente os não-sacerdotes), trabalham
em solidão e em silêncio. A clausura, da qual não saem senão por necessidade e
na qual ninguém entra senão por excepção, pretende criar um ambiente favorável
para a união com Deus.
O mosteiro fica perto de Évora e o seu sino,
especialmente o da meia-noite, forma parte do encanto da cidade-museu,
património da humanidade. Hoje, a Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli é
considerada pelos eborenses como um dos seus tesouros, artístico e, ainda mais,
espiritual.
Em 1834, as forças revolucionárias expulsaram os
Cartuxos, junto com todos os religiosos. O mosteiro passou a ser do Estado, que
o aproveitou para Escola de agricultura. No fim do século, a família Eugénio de
Almeida adquiriu as ruínas.
A meados do séc. XX o herdeiro, Vasco Maria, Conde de
Vill’Alva, decidiu restaurar o mosteiro e devolvê-lo à Ordem. Sete foram os
fundadores em 1587 e sete os restauradores em 1960. A partir de então, a vida
cartusiana renasceu em Santa Maria Scala Coeli, com o restauro da
igreja, em 1999.
FÁTIMA
PEREGRINAÇÃO INTERNACIONAL
DE 13 DE OUTUBRO
A Peregrinação Internacional de 12 e 13 de
Outubro, no aniversário da última aparição de Nossa Senhora em Fátima, em 1917,
teve como tema: «Recomendo, antes de tudo, que se façam orações por todos os
que detêm a autoridade» (1 Tim 2, 1) e foi presidida pelo Arcebispo de
Bombaim, Cardeal Ivan Dias, de ascendência goesa. No final da solene
concelebração eucarística do dia 13, o Bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim de
Sousa Ferreira e Silva fez uma breve comunicação sobre acontecimentos que
recentemente têm perturbado a imagem da pastoral neste Santuário Mariano (V.
Secção «Documentação»).
Durante a Peregrinação, D. Serafim
anunciou ainda a abertura oficial do processo canónico sobre um milagre
atribuído à intercessão dos Beatos Jacinta e Francisco Marto, cerimónia que
decorreu na tarde desse dia 13 de Outubro, na Casa de Nossa Senhora das Dores,
no Santuário.
O milagre em estudo refere-se à cura de um
bebé, Filipe Moura Marques, nascido a 16 de Maio de 1999, filho de pais portugueses
emigrantes na Suiça. A criança, nascida com diabetes tipo 1, acabaria por ser
curada desta doença, considerada incurável pela comunidade científica, após
muitos pedidos de cura feitos aos Pastorinhos, e uma visita ao Santuário de
Fátima, ocasião em que a criança foi colocada junto dos túmulos dos videntes.
O milagre terá ocorrido no dia 13 de Maio
de 2000 quando a mãe, impossibilitada de vir a Portugal participar nas
celebrações da beatificação da Jacinta e do Francisco, ao acompanhá-las pela
televisão, pediu uma vez mais a ajuda dos Pastorinhos, tendo inclusive
aproximado a criança do televisor. A partir dessa altura, o menino nunca mais
teve necessidade de insulina, sendo actualmente uma criança sem problemas de
saúde.
A Congregação para a Causa dos Santos
enviara no passado dia 23 de Setembro ao Pe. Luís Kondor, Vice-Postulador da
causa de canonização, a autorização de transferência do processo de inquirição
para Leiria, em vez de ser feito na Suíça, onde aconteceram os factos. A
transferência justifica-se porque todos os intervenientes são portugueses e
isso pode dar mais rapidez ao processo.
O tribunal diocesano, presidido pelo juiz
Mons. Alfredo Melo, deverá concluir esta primeira fase em 15 de Novembro,
seguindo a documentação para a Santa Sé, onde a Congregação para a Causa dos
Santos, presidida pelo Cardeal português D. José Saraiva Martins, procederá à
análise do processo para confirmar ou não a existência do milagre.
FÁTIMA
NOVA CONCORDATA
E CONCERTOS NAS IGREJAS
No discurso
de abertura dos trabalhos da Assembleia Plenária da Conferência Episcopal
Portuguesa, que decorreu de 8 a 11 de Novembro, estando presentes os órgãos de
comunicação social, o Cardeal Patriarca referiu-se à aplicação da Concordata e
à questão dos concertos nas igrejas.
«Reunimo-nos num momento em que se
aproxima do seu termo o processo de revisão concordatária. O novo texto da
Concordata, depois de assinado, em Roma, por Sua Eminência o Cardeal Secretário
de Estado da Santa Sé e por Sua Excelência o Primeiro-Ministro de Portugal, foi
ratificado pela Assembleia da República, por uma vasta maioria e foi já
assinado por Sua Excelência o Presidente da República, para promulgação.
Aproximamo-nos, pois, do termo de um longo processo e do momento da entrada em
vigor do novo texto concordatário.»
«Depois de termos dedicado as nossas
Jornadas de Estudo à apresentação do novo texto concordatário, com a ajuda de
peritos, a quem mais uma vez agradecemos, nesta Assembleia faremos o elenco dos
problemas a resolver, das decisões a tomar, em ordem a preparar as Dioceses
para a nova ordem concordatária. O novo texto do Tratado precisa de ser
aplicado em legislação complementar, ou através de acordos a celebrar, sempre
na aplicação do princípio e do espírito da cooperação entre a Igreja e o Estado
Português, em prol do bem de toda a sociedade, à qual a Igreja é enviada como
servidora e anunciadora da mensagem evangélica de fraternidade, de justiça,
harmonia e paz. Vamos trabalhar no pressuposto de que a legislação que aplicou
a Concordata de 1940 e que esteja em vigor, em vigor continuará, até que as
duas partes em diálogo considerem necessário alterá-la. Um grupo de trabalho
procederá ao elenco completo dessa legislação.»
«Na sequência deste pressuposto, a nossa
atenção incidirá sobre as matérias novas, cuja regulamentação é urgente para
que a aplicação da Concordata se faça harmonicamente e sem sobressaltos.»
«Quero, neste momento, em nome dos Bispos
de Portugal, agradecer a quantos se empenharam, sempre com grande sentido de
respeito pela missão da Igreja na sociedade portuguesa, na longa negociação da
nova Concordata: a Santa Sé, que aceitou a renegociação e a conduziu em
ambiente de comunhão com os Bispos de Portugal; aos Governos de Portugal, que
tendo pedido a abertura do processo, nele se empenharam com grande sentido
construtivo e consciência do papel relevante da Igreja Católica na sociedade
portuguesa; a Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, que acompanhou
o processo com grande interesse e solicitude e a quem compete a sua promulgação,
enquanto Supremo Magistrado da Nação; à Assembleia da República que, depois de
debate com grande dignidade, a ratificou por larga maioria inter-partidária,
mostrando claramente que o diálogo da Igreja com o Estado e com a sociedade é
uma questão nacional, não redutível à perspectiva específica de cada força
política».
Acção
social e caritativa e Património cultural da Igreja
«Este novo texto concordatário estará
subjacente à discussão de outros assuntos agendados, de modo particular os que
se referem à acção social e caritativa da Igreja e à valorização dos bens
culturais. Todos nós conhecemos a importância da vasta rede de instituições
sociais que encarnam o serviço da Igreja em prol dos doentes, dos mais pobres e
desfavorecidos, dos idosos e de apoio à família. Sendo um dos mais expressivos
campos de incidência da colaboração entre o Estado e a Igreja, o quadro
concordatário tem se ser o contexto que rege e orienta essa cooperação. A
Igreja deve garantir que essas instituições sejam repassadas de espírito
evangélico de serviço e de respeito pela dignidade da pessoa humana, que
caminhem para modelos de qualidade técnica e se apetrechem com modernos meios
de gestão. Ao Estado compete apoiar e vigiar, incentivando esse progresso da
qualidade. Esperamos que os respectivos mecanismos de avaliação e inspecção,
não funcionem a partir de modelos organizativos uniformes, estando abertos à
especificidade das nossas instituições, onde uma certa originalidade pedagógica
e organizativa é possível e desejável.»
«O Património Cultural e Artístico, de
cariz religioso, é outro campo importante da cooperação entre a Igreja e o
Estado. A sua inventariação, conservação, fruição e valorização cultural são
preocupações comuns. A sua valorização pastoral é obrigação e direito
específico da Igreja, que esperamos o Estado respeite. O Património está,
historicamente, ligado às comunidades crentes concretas, que nele se revêem e a
sua utilização pastoral é expressão importante do direito democrático de todos
à fruição do património cultural».
Concertos
nas igrejas
«Não posso deixar de referir aqui uma
questão recentemente levantada nos Meios de Comunicação, embora ela só muito
indirectamente faça parte da nossa agenda: a questão dos concertos nas Igrejas.
Tanto quanto sei, a questão foi levantada pela necessidade de, em algumas
Dioceses, se tomarem medidas perante pretensões de algumas instituições, de
alargarem o âmbito da utilização das Igrejas como espaços de concertos
musicais, afastando-se da legislação canónica em vigor e do espírito eclesial
que pode levar a Igreja, não só a permitir, mas a apoiar, tais manifestações
artísticas em espaços sagrados.»
«O problema não consta da agenda porque
consideramos as normas da Santa Sé para esse sector e a nossa prática generalizada,
como válidas e suficientes. Mas é oportuno recordar aqui os grandes princípios
por que nos regemos na regulação dessa matéria.
«A Igreja é um espaço sagrado, onde a
comunidade cristã celebra a sua fé. Qualquer expressão artística deve respeitar
e enquadrar-se nessa dimensão do sagrado e de expressão da fé, o que é possível
através da arte, pois a beleza é uma das linguagens de aproximação de Deus e do
homem. Não podemos pactuar com a mentalidade tendente a considerar que as
Igrejas, sobretudo as de maior beleza artística, apenas como espaços culturais,
como se a sociedade e a cultura tivessem entrado numa fase de
‘post-religioso’».
«Para garantir isto, a Igreja tem de velar
pela natureza da expressão artística que se realiza nos templos, o que supõe,
caso a caso, a aprovação dos programas pela competente autoridade eclesiástica.
Essa programação deve ser, de preferência, de natureza religiosa, ou seja,
peças que na sua origem nasceram como expressão de fé e religiosidade ou que,
pelo menos não agridam ou dela se distanciem visivelmente. No caso dos
Monumentos Nacionais, o facto de serem propriedade do Estado, não dá às
respectivas instâncias estatais nenhum direito de forçar ou alterar esses
critérios eclesiais de utilização do espaço sagrado, pois é claro, na ordem
concordatária, que a gestão da utilização dos espaços das Igrejas é da
exclusiva competência das autoridades eclesiásticas.»
«Compete a esta Assembleia discernir se é
ou não necessário concretizar estes princípios em normas públicas aplicáveis em
todas as Dioceses. Fique, no entanto, claro, que a Igreja aprecia e valoriza a
arte como expressão da fé e que está consciente que momentos de grande nível e
qualidade artísticos podem ser ocasião de anúncio de Deus e da sua beleza».
Reestruturação
da CEP
«Finalmente reservaremos algum tempo a
analisar as estruturas de funcionamento da Conferência Episcopal de modo a
garantir a eficácia e a qualidade do seu contributo para as Igrejas de
Portugal, dentro da especificidade da sua natureza e missão. Preside à proposta
apresentada o espírito realista das forças e meios de que dispomos, na certeza
de que nenhuma estrutura organizativa, por mais consagrada que esteja pelo
hábito e pelo tempo, é inevitável. Preocupa-nos, apenas, a garantia dos meios
que torne a nossa acção mais atenta à realidade complexa e mutável da Igreja e
da sociedade. O Espírito Santo nos iluminará e a protecção maternal de Nossa
Senhora, que honramos este ano no seu mistério de Conceição Imaculada, nos
inspirará. Da nossa parte faremos tudo o que pudermos e isso bastará, nesta
complementaridade sempre presente entre o esforço humano e a luz divina».
LISBOA
TAIZÉ:
ENCONTRO EUROPEU DE JOVENS
A
Europa saiu da II Guerra Mundial tão vencedora como vencida. Ruiu o império de
Hitler. Outros, no Leste e no Sul, continuaram erguidos, orgulhosamente sós,
até que também caíram. Mas, tal como a seguir a uma tragédia ou um crime, a
Europa saiu de coração ferido, com uma promessa silenciosa de não mais repetir
o sacrifício dos seus filhos mais promissores – os jovens – como arremesso de
armas ideológicas e patrióticas.
Surgiram, no rescaldo, vozes diversos de
profetas, religiosos e leigos, homens e mulheres que testemunharam a
inutilidade dos despojos do homem dilacerado pela guerra e pela divisão. Roger
Shutz, como que antecipou essa profecia de reconciliação ao criar a comunidade
ecuménica de Taizé. Foi uma parábola de comunhão que ainda perdura. Volta-se
para o coração do homem na sua relação com Deus e com os outros, convertendo as
diferenças em instrumento de diálogo. Ao longo destes anos muitos jovens
portugueses – hoje pais e avós – passaram por essa fonte, serena e abundante,
mística e activa, livre e comprometida. Os jovens da Europa do século XXI têm
este ano a oportunidade de viver esse espírito em Lisboa. A notícia já está em
andamento: entre 28 de Dezembro e o primeiro dia do próximo ano, aguarda-se a
presença de cerca de 50.000 jovens. Importa acentuar o carácter diocesano,
nacional e internacional desta iniciativa acolhida pelo Patriarcado de Lisboa.
O programa é muito simples: partilha em pequenos grupos internacionais,
orações, experiência de hospitalidade. Com uma veemente marca de confiança na
Terra.
Esses jovens vêm despojados de quase tudo.
Com bagagens de peregrino. Precisam ser acolhidos. Não é complicado. Bastam 2
metros quadrados para acolher um jovem. Como o tempo está a passar, importa
acelerar a manifestação desta disponibilidade. Como se vê, o coração não exige
muito espaço.
Cón.
António Rego
ENTREVISTA
SETENTA VEZES SETE:
PROGRAMA HÁ 25 ANOS NAS EMISSÕES
DA RTP
D. António
Marcelino, então Bispo auxiliar de Lisboa, negociou com a RTP um programa para
a Igreja Católica. Em entrevista ao Programa «Ecclesia», recordou os passos que
conduziram ao programa que se chamaria 70x7. Apresentamos um excerto dessa
entrevista.
ECCLESIA
– Onde se encontram as raízes do 70x7?
D.
António Marcelino – Havia um programa – «O Dia do Senhor», de que foi
responsável, por várias vezes, o Cardeal António Ribeiro – e esse programa
terminou, precisamente, com a Revolução de Abril. Depois disso, só ficou a
Missa, com uma única câmara…
Assumi
funções, dentro da Conferência Episcopal Portuguesa, na área da comunicação
social em Outubro de 1975 e foi uma das minhas preocupações, depois do Verão
quente: o que poderíamos fazer de novo!
Tentámos
uma presença na televisão no Dia Mundial das Comunicações Sociais, que nos foi
negada. Depois puseram-nos condições para poder lá ir de tal forma que eu não
as admiti e não quis.
–
Como se ultrapassou essa situação?
–
Houve qualquer coisa na própria Televisão e o presidente da altura, Major
Pedroso, veio ter comigo e disse-me que iríamos ter um espaço para a Religião.
No
primeiro Governo Constitucional de Mário Soares, começámos uma conversa longa
com a RTP e ficou acordado que iríamos ter um tempo na televisão. Depois houve
uma desconfiança sobre o que poderia ser e fui chamado para me dizerem que já
não havia tempo para nós.
Tive
de argumentar se o Governo era ou não de confiança, porque já tinha dito que
sim, mas afinal não.
Lá
acabaram por dizer que sim, que seria quinzenal e teria de ser visionado uns
dias antes o que íamos fazer (sem nunca lhe chamarem censura).
Depois
acabaram por exigir que contratássemos uma empresa para fazer o programa,
ficámos sem saber como pagar. A RTP deu-nos uma quantia determinada,
contratámos a empresa e começámos a fazer o programa.
–
Recorda os conteúdos do primeiro programa?
–
A primeira emissão contou com uma explicação Bíblica do 70x7, uma intervenção
minha sobre o programa, mas ficou muito pobre, com os meios disponíveis na
altura. O Pe. António Rego era, contudo, um mestre, apoiou-se em gente
competente e o programa avançou.
Em
1979, veio a própria RTP pedir que o programa passasse a semanal, porque era
muito considerado. O director de programação disponibilizou os estúdios para
alguma gravação, se fosse preciso… O programa chegou até a ser gravado na minha
casa.
–
Como se solidificou o projecto?
–
O Pe. Rego começou a fazer uma coisa maravilhosa, que foi levar o programa por
esse país fora e ao longo destes 25 anos foi a todas as dioceses do país e a
outros países irmãos. Ganhou, de facto, uma dimensão muito grande, foi
melhorando do ponto de vista técnico e foi ganhando uma boa adesão.
Sofremos
um atropelo muito grande com a mudança da hora, porque na altura passava no
canal 1, ao meio-dia.
–
O que terá contribuído para a longevidade do programa?
–
Olhando para trás, penso que a grande vantagem foi não entrarmos com um programa
do tipo apologético, mas numa linguagem mais aberta, do pós-Concílio, do
pós-Revolução, e o 70x7 teve um papel importantíssimo por estar presente e dar
oportunidade às outras confissões de ganhar o seu próprio espaço.
–
Qual era o público alvo quando começaram o programa?
–
Ele era verdadeiramente para toda a gente, porque pretendíamos que mesmo quem
não era católico, fosse mudando a ideia que tinha da Igreja. Foi nessa linha
que ele vingou.
Eu vi reacções um pouco por todo o lado e ainda hoje ele continua a ser apreciado pelas problemáticas que traz, pelo diálogo com o mundo, pela visão outra da Igreja.