Epifania
do Senhor
02 de Janeiro de 2005
RITOS INICIAIS
Cântico de entrada: Glória a Vós, Jesus Menino, J. Santos, NRMS 76
cf. Mal 3, 1; 1 Cron 19, 12
Antífona de entrada: Eis que vem o Senhor soberano. A realeza, o poder e
o império estão nas suas mãos.
Diz-se o
Glória.
Introdução ao espírito da Celebração
Celebramos a festa da Epifania, quer dizer, da
manifestação de Jesus a todos os povos da terra, representados nos Reis magos.
Como eles também nós viemos ao encontro de Cristo,
presente e escondido na Eucaristia.
Comecemos este encontro abrindo os olhos da nossa fé,
limpando-os dos nossos pecados.
Oração colecta: Senhor Deus omnipotente, que neste dia revelastes o
vosso Filho Unigénito aos gentios guiados por uma estrela, a nós que já Vos
conhecemos pela fé levai-nos a contemplar face a face a vossa glória. Por Nosso
Senhor...
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura
Monição: O profeta Isaías fala
da luz que enche a nova Jerusalém, a Santa Igreja. Esta luz é Cristo presente
nela. Ele está aqui na Eucaristia e continua a encher-nos da Sua luz.
Isaías 60, 1-6
1Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a
tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. 2Vê como a noite cobre
a terra e a escuridão os povos. Mas sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória
te ilumina. 3As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor
da tua aurora. 4Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu
encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos
braços. 5Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o
teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas
das nações. 6Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de
Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá; hão-de trazer ouro e incenso e proclamarão
as glórias do Senhor.
O texto tirado da parte central do Terceiro
Isaías (Is 56 – 66) canta a glória da Jerusalém renovada, figura da «Jerusalém
nova descida do Céu» (cf. Apoc
21, 2.23-24). A visão universalista que o maravilhoso hino apresenta
corresponde à realidade da Igreja, que é católica, universal.
3 «As nações caminharão à tua luz, e os reis ao esplendor da tua aurora». Não
há dúvida de que se pode adaptar perfeitamente este texto isaiano ao mistério
hoje celebrado: os «magos» – este texto terá contribuído para se lhes
chamar «reis» –, que seguem a «luz» da estrela, são os pioneiros de
entre os povos pagãos a acorrer ao encontro do Messias.
6 A menção de povos do Oriente – «Madiã
e Efá» –, dos ricos comerciantes de «Sabá» (a sul da Arábia)
e, sobretudo, os produtos que trazem – «ouro e incenso» – fazem lembrar
o que nos relata o Evangelho: a vinda dos Magos do Oriente que trazem «oiro,
incenso e mirra».
Salmo Responsorial Salmo 71 (72), 2.7-8.10-11.12-13(R.
cf. 11)
Monição: O salmo é também uma
profecia. Virão adorar a Jesus todos os povos da terra. Cantemos cheios de
esperança, dispostos a trazer-Lhe todos os que nos rodeiam.
Refrão: Virão adorar-Vos, Senhor,
todos os povos da terra.
Ó Deus, concedei ao rei o poder de julgar
e a vossa justiça ao filho do rei.
Ele governará o vosso povo com justiça
e os vossos pobres com equidade.
Florescerá a justiça nos seus dias
e uma grande paz até ao fim dos tempos.
Ele dominará de um ao outro mar,
do grande rio até aos confins da terra.
Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes,
os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas.
Prostrar-se-ão diante dele todos os reis,
todos os povos o hão-de servir.
Socorrerá o pobre que pede auxílio
e o miserável que não tem amparo.
Terá compaixão dos fracos e dos pobres
e defenderá a vida dos oprimidos.
Segunda Leitura
Monição: A festa dos Reis
magos é sinal da universalidade da Igreja. S.Paulo lembra que não são apenas os
judeus que Deus quis salvar , mas todos os homens.
Efésios 3,
2-3a.5-6
Irmãos: 2Certamente já ouvistes falar da
graça que Deus me confiou a vosso favor: 3apor uma revelação, foi-me
dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações passadas, 5ele
não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo
Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: 6os gentios
recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da
mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.
6 Aqui define S. Paulo em que consiste o «mistério de Cristo» (v. 4). Os gentios, que vêm à Igreja, estão no mesmo pé de igualdade que os judeus procedentes do antigo povo de Deus: não há lugar para cristãos de primeira e de segunda! O texto original é muito expressivo: os gentios vêm a ser «co-herdeiros» («recebem a mesma herança que os judeus», traduz, parafraseando, o texto português oficial), «com-corpóreos» (isto é, «pertencem ao mesmo Corpo» Místico de Cristo, que é a Igreja una), e «com-participantes na Promessa» («beneficiam da mesma promessa» de salvação). É este o mistério que, ao fim e ao cabo, também se celebra na Festa da Epifania: Cristo igualmente Salvador de gentios e judeus.
Aclamação ao Evangelho Mt 2, 2
Monição: Este relato do
evangelho está cheio de lições para nós. Os reis magos ensinam-nos a procurar a
Jesus sem desanimar e a adorá-Lo como merece.
Aleluia
Vimos a sua estrela no Oriente
e viemos adorar o Senhor.
Cântico: Aclamação – 4, F. da Silva, NRMS 50-51
Evangelho
São Mateus
2, 1-12
1Tinha
Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, quando chegaram a
Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. 2«Onde está – perguntaram
eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente
e viemos adorá-l’O». 3Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou
perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. 4Reuniu todos os
príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer
o Messias. 5Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está
escrito pelo profeta: 6‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo
nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe,
que será o Pastor de Israel, meu povo’». 7Então Herodes mandou
chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informações precisas sobre o tempo em
que lhes tinha aparecido a estrela. 8Depois enviou-os a Belém e
disse-lhes: «Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino; e, quando O
encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». 9Ouvido o
rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente
seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. 10Ao
ver a estrela, sentiram grande alegria. 11Entraram na casa, viram o
Menino com Maria, sua Mãe, e, caindo de joelhos, prostraram-se diante d’Ele e
adoraram-n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro,
incenso e mirra. 12E, avisados em sonhos para não voltarem à
presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.
O Evangelho da adoração dos Magos foi objecto das mais belas reflexões teológico-espirituais ao longo da história: nos fins do séc. II, Tertuliano já via nas ofertas dos Magos símbolos do reconhecimento de quem era Jesus: oferecem-lhe «ouro» como Rei, «incenso» como Deus, «mirra» (outra resina aromática, usada na sepultura) como Homem. Santo Ambrósio fixa-se em que os Magos vão por um caminho e voltam por outro, porque regressam melhores, depois do encontro com Cristo. Santo Agostinho vê nos Magos as primitiæ gentium, «primícias dos gentios», a par dos pastores que são as primícias dos judeus, etc.. Mas ainda hoje os comentadores retomam e actualizam os temas do relato: Cristo como verdadeira luz, o caminho dos gentios para Cristo, o simbolismo dos presentes, a fé e perseverança dos Magos, a busca do sentido da Escritura e o sentido de procura do caminho, etc.. O próprio relato encerra um grande alcance teológico: Jesus é o verdadeiro «rei» que merece ser procurado e adorado por todos; a Ele acorrem, vindas de longe, gentes guiadas por uma estrela e pela Escritura; ainda menino sem falar, já divide os homens a favor e contra Ele; a homenagem que Lhe prestam os Magos é a resposta humana ao «Emanuel, Deus connosco»; nele se cumprem as profecias que falavam da vinda de reis e de todos os povos a Jerusalém (Is 60 e Salm 72). Mais ainda, ao nível da própria redacção de Mateus, o relato ilustra a teologia específica do evangelista: sendo este Evangelho dirigido a judeo-cristãos, confrontados com a Sinagoga, que não aceita Jesus, o episódio dos Magos documenta bem a teologia do «messias rejeitado», pois Jesus, logo ao nascer, encontra a hostilidade do poder e a indiferença das autoridades religiosas; e é também uma ilustração das palavras de Jesus, «virão muitos do Oriente…» (Mt 8, 11).
Em face de tudo isto, o estudioso não pode deixar de se interrogar se não estaremos perante um teologúmeno, isto é, uma criação de Mateus para dar corpo a uma ideia teológica. A verdade é que em toda a tradição cristã se deu grande valor à adoração dos Magos e à festa da Epifania. Se detrás disto não há realidade nenhuma, o significado de tudo fica privado da sua base mais sólida.
Nota sobre a questão da historicidade do relato: A crítica bíblica moderna tem proposto teorias bastante discordantes; por um lado, temos um grupo em que R. E. Brown reúne as objecções que se têm levantado contra a historicidade do relato, que denotam – diz – «uma inverosimilhança intrínseca»: o movimento da estrela de Norte para Sul (Jerusalém – Belém), a sua paragem sobre a casa, a consulta de Herodes aos escribas e sacerdotes, seus inimigos, a indicação de Belém como um dado desconhecido ao contrário de Jo 7, 42, a imperdoável ingenuidade de Herodes que não manda espiar os Magos, o facto de não se ter identificado o menino após a visita de homens de fora a uma pequena povoação, o silêncio de Lucas sobre a visita; estes autores concluem que se trata, então, de uma construção artificial feita com textos do Antigo Testamento. Por outro lado, temos autores mais recentes como R. T. France (The Gospel according to Mathew) que defendem a credibilidade histórica do relato, demonstrando que as dificuldades contra têm solução. Com efeito, embora estejam subjacentes no relato vários textos do A. T., apenas um é citado, podendo mesmo ser suprimido sem interromper o discurso (vv. 5b-6), o que é sinal de que a citação foi acrescentada a um relato preexistente, não sendo a citação a dar origem ao relato. Os pretensos traços duma lenda edificante, ou midraxe hagadá, nada têm de historicamente improvável, fora o caso da estrela que pára sobre a casa, mas já S. João Crisóstomo observava que a estrela não vinha de cima, mas de baixo, pois não era uma estrela natural e não é provável que a Igreja, que bem cedo entrou em conflito com a astrologia, tivesse inventado uma história a favorecê-la. O facto de Herodes não ter mandado espiar os Magos não revela ingenuidade, mas prudência para que os seus guardas não viessem a dificultar a descoberta do menino, e também uma plena confiança em que os Magos voltassem; finge colaborar com eles, a fim de obter mais dados. Também René Laurentin sublinha a credibilidade histórica de certos pormenores, como a existência de astrólogos viajantes («magos») no Oriente, ou a astúcia e crueldade de Herodes (matou a maior parte das suas 10 mulheres, vários filhos e muitas pessoas influentes na política); e, sobretudo, Mateus revela «sensibilidade histórica», ao não fazer coincidir bem os factos que narra com as citações e alusões ao A. T.: se os factos fossem inventados, teriam sido forjados de molde a que se adaptassem bem às passagens bíblicas (a estrela da profecia de Balaão – Num 24, 17 – não é a estrela que indica o Messias, mas sim o próprio Messias, etc.). Também a propaganda religiosa judaica tinha despertado a expectativa do nascimento do Messias (ver, por ex., a IV égloga de Virgílio ) e fervorosos aderentes entre os gentios, o que torna mais compreensível a visita destes estranhos. A. Díez Macho afirma que «a intenção de Mateus é narrar história confirmada com profecias ou paralelos vétero-testamentários», e descobre no episódio dos Magos uma grande quantidade de «alusões» ao A. T. (o chamado rémez, figura retórica muito do gosto dos semitas e frequente na Bíblia). Este célebre biblista espanhol (assim também o italiano G. Segalla) diz que o fenómeno da estrela pode muito bem corresponder à conjunção de Júpiter e Saturno que se deu na constelação de Peixe, e que teve lugar três vezes no ano 7 a. C. (pode-se ver num CD de Astronomia), data provável de nascimento de Cristo, mas não se nega o carácter popular do relato, que dá a entender que a estrela se deslocava de Norte para Sul até parar sobre a casa.
Sugestões para a homilia
Vimos a Sua luz
Viemos adorá-Lo
Sentiram grande alegria
Vimos a Sua luz
Neste Ano da Eucaristia a festa de hoje é cheia de
lições para nós. Como os reis magos também viemos à procura de Jesus, guiados
por uma estrela, por uma luz. A fé trouxe-nos até Ele. Ele é a luz verdadeira, que vindo a este mundo, ilumina todo o homem –
diz S. João (Jo 1, 9). A fé é
encher-nos dessa luz, é fiar-nos Nele, na Sua Palavra. Como S. Pedro, depois do
sermão da Eucaristia, quando tantos O abandonaram, dizemos a Jesus: Senhor, a quem iremos. Tu tens palavras de
vida eterna e nós acreditamos ( Jo 6,
68-69).
Avivemos a nossa fé nas palavras de Cristo. Não
vemos, não sentimos, mas sabemos que está ali. Pedimos que nos dê, como gostava
de dizer S. Josemaría, fé de meninos, sabedoria de teólogos e piedade de
velhinhas.
Fé de meninos, que não discutem. A pequena Jacinta,
antes das aparições, numa procissão do Corpo de Deus, foi escolhida para deitar
flores a Jesus, vestida de anjinho. Mas ao passar o sacerdote com a sagrada
custódia, não deitou flores, apesar dos sinais insistentes que lhe faziam. –
Então Jacinta, porque não deitaste as flores a Jesus?
– Porque não O vi – respondeu.
Explicaram-lhe então que não podia ver a Jesus,
porque ia escondido. Daí para diante gostava muito de falar de Jesus escondido
e de ir visitá-Lo.
É muito bonito o caso daquela menina de Madrid, que
durante a guerra civil espanhola, tinha Jesus em sua casa, devido às
profanações das igrejas. A família estava a passar dificuldades grandes, apesar
de ser abastada. A mãe disse à miúda: –Vai dizer ao Jesus que nos mande pão.
A pequenita começa a correr para ir dar o recado.
Escada acima, vira-se para trás e pergunta: –mamã, peço papo-secos ou cacetes?
Não duvidava que Jesus ia mandar o pão. Até dava para
escolher. Jesus ouviu-a. Nessa tarde o feitor daquela família conseguiu entrar
na cidade e trazer-lhes pão e comida necessária.
Temos de pedir esta fé de meninos, acompanhada da
piedade de velhinhas, que encontram na oração a sua alegria, que gostam de ir à
igreja e ficar ali muito tempo com Nosso Senhor.
Peçamos também sabedoria de teólogos. A fé não é
sentimentalismo, hoje tão espalhado e que faz das pessoas cataventos que vão
atrás de seitas que as exploram, atrás de pretensas visões ou dos gostos
pessoais. A fé há-de levar-nos a conhecer bem o que Jesus ensinou e continua a
proclamar através do papa e dos bispos a ele unidos. Há-de levar-nos a estudar
e a aprofundar essas verdades pela leitura e pela oração.
Esta fé há-de traduzir-se na vida de cada dia,
pondo-a de acordo com os ensinamentos de Jesus, sem nunca nos darmos por
satisfeitos e apoiados na graça de Deus que não faltará.
É essa a lição sempre actual daqueles reis, que
vieram de muito longe, que não fugiram aos sacrifícios, que não voltaram para
trás ao deixar de ver a estrela, que perguntaram até chegarem a Jesus.
Viemos adorá-Lo
Ao chegarem até Ele prostraram-se em adoração e
ofereceram-Lhe os seus presentes :ouro, incenso e mirra.
Ao aproximar-nos de Jesus temos de adorá-lo. Porque é
verdadeiro Deus, porque é o Senhor do Céu e da terra. Apesar de parecer um
menino, igual a tantos outros. Ou de parecer simplesmente um pouco de pão na
Eucaristia.
É costume antigo e continua recomendado pela Igreja
que façamos a genuflexão ao passar diante do sacrário e que nos ajoelhemos um
pouco, ao entrar na igreja, em adoração diante do Senhor.
Fez-Se pequenino para estarmos à vontade diante
d'Ele, numa atitude de amor e confiança. Mas isso não pode tirar o respeito e a
adoração. Ao genuflectir, ao ajoelhar, estamos a dizer a Jesus que Ele é muito
grande e nós muito pequeninos. Ele é o Tudo e nós somos o nada. Todas as coisas subsistem por Ele (Col 1,17).
O Anjo, em Fátima, numa das aparições , trouxe o
Cálice e a Hóstia. Dela caíam gotas de sangue dentro do cálice. Deixando-os
suspensos no ar, ajoelhou-se com os pequenitos, com a cabeça vergada até ao
chão, adorando a Jesus e rezando a oração: Meu Deus, eu creio, adoro, espero e
amo-vos. Peço-vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não
Vos amam.
Um sacerdote perguntava a uma pequenita que fazia
muito bem a genuflexão: –Que dizes a Jesus quando genuflectes? E ela respondeu:
–Digo-Lhe baixinho: Ó Jesus eu gosto muito de Ti.
Que façamos bem a genuflexão. Que não sejamos
cristãos reumáticos, como alguém dizia.
Como os reis magos temos de aprender a adorar a Jesus
e a entregar-Lhe as nossas ofertas. Vivendo muito bem a Santa Missa. A Santa Sé
publicou há pouco um documento para toda a Igreja, a Instrução O Sacramento da Redenção, chamando a
atenção para abusos que se têm vindo a meter em muitos lugares, no que se
refere à Eucaristia. O amor manifesta-se nas atitudes e no cumprimento
cuidadoso do que Jesus nos ensinou e a Igreja manda.
A missa é oferecer a Cristo o que temos: o nossos
trabalho, as nossa alegrias, os nossos sofrimentos, o nossos descanso e
divertimentos, o nosso convívio social, toda a nossa vida. Para que Ele a
ofereça ao Pai, unida à oferta de Si mesmo, que se torna presente sobre o altar
em cada missa. Só assim a nossa vida tem sentido e tem valor. A missa tem de
continuar cá fora durante a semana toda. Porque a oferecemos no altar com
Cristo. Porque ali fomos buscar a energia para vivermos com Ele e como Ele.
Que este Ano da Eucaristia nos ajude a descobrir o
sentido profundo da Santa Missa e a vivê-la como João Paulo II nos recordou na
Encíclica. A Igreja vive da Eucaristia. Vale
a pena relê-la e meditá-la muitas vezes neste ano. «É este 'enlevo' eucarístico
– diz o Santo Padre – que desejo despertar com esta carta encíclica …A Igreja vive de Jesus eucarístico, por
Ele é nutrida, por Ele é iluminada. A Eucaristia é mistério de fé e, ao mesmo
tempo, mistério de luz» (n.º 6).
A adoração a Jesus havemos de vivê-la também fora da
missa, na visita frequente ao Santíssimo Sacramento e na adoração solene nas
paróquias. O papa dá-nos exemplo. Confidenciava há dias: «Para viver da
Eucaristia é preciso consumir tempo em adoração diante do Santíssimo
Sacramento, experiência que eu mesmo faço todos os dias, tirando daí força,
consolação e sustento» (Mensagem para o Dia missionário Mundial de 2004).
Sentiram grande alegria
Os reis magos sentiram enorme alegria ao reencontrar a
estrela que os levava a Jesus. A fé enche-nos de alegria. Porque nos leva a Jesus, que é a fonte da alegria. É o Amigo que nos conhece, que nos ama, que deu a vida por nós, que se nos dá em alimento todos os
dias. Que tem todo o
poder e que sabe tudo. Que está a nossa espera no sacrário sem precisarmos de marcar entrevista.
Ali
podemos deixar as nossas mágoas, abrir o nosso coração, expandir as nossas
alegrias. Continua a repetir-nos :Vinde a
Mim todos vós que andais cansados e sobrecarregados e Eu vos aliviarei (Mt 11, 28)
Há
anos estava um homem a pedir boleia à beira duma estrada, em Espanha. Parou um
camionista. Ao subir com a mala, perguntou: –Vai sozinho?
O
motorista titubeou na resposta. Já em andamento disse: –Perguntou-me se ia só.
A verdade é que nunca vou só, porque Deus está sempre comigo. E ao descobrir
alguma igreja vou saudando o Senhor que ali se encontra. Por isso nunca vou só.
–Pare depressa – disse o passageiro –Sou o pároco desta freguesia e ia-me
embora desanimado. Porque não ligavam ao que lhes dizia. Acaba de me dar uma
lição: esqueço-me muitas vezes que não estou sozinho, que tenho o Senhor no
sacrário.
Como
os reis magos podemos ir a Jesus. Podemos encontrá-Lo muitas vezes Apesar de
escondido é o Senhor do Céu e da terra. Tem todo o poder, pode resolver todos
os nossos problemas. É um amigo sempre ao nosso dispor.
A
Eucaristia é a luz que ilumina a Santa Igreja, que a enche de alegria. Que
enche de alegria a alma de cada cristão. Se temos fé, se sabemos descobrir o Senhor.
Se procuramos ser amigos d'Ele de verdade, se procuramos dar-lhe em nossa vida
o lugar que Lhe pertence.
Ano
da Eucaristia há-de ser epifania permanente de Cristo, manifestação mais viva
da Sua presença entre nós até ao fim dos tempos. Que a Virgem nos ensine a
olhar para Ele como Ela. Com enlevo de fé e de amor.
Fala o Santo Padre
«Todos os indivíduos sentem a necessidade de uma
'estrela' que guie o seu caminho sobre a terra.»
1. «Lumen gentium... Christus», «Cristo é a luz dos
povos» (Lg, 1).
O tema da luz domina a solenidade do Natal e
da Epifania, que antigamente e ainda hoje no Oriente estavam unidas numa só
grande «festa das luzes». No sugestivo clima da Noite Santa apareceu a luz;
nasceu Cristo «luz dos povos». É ele o «sol que surge do alto »(cf. Lc, 1,
78). Sol vindo ao mundo para dissipar as trevas do mal e inundá-lo com o
esplendor do amor divino. Escreve o evangelista João: «O Verbo era a luz
verdadeira que, vindo ao mundo, a todo o homem ilumina» (1, 9).
«Deus lux est Deus é luz», recorda sempre São
João, sintetizando não uma teoria gnóstica, mas «a mensagem que recebemos dele
»(1 Jo 1, 5), isto é de Jesus. No Evangelho, ele lembra de novo a
expressão recolhida dos lábios do Mestre: «Eu sou a luz do mundo; quem Me
segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida» (Jo 8, 12).
Encarnando, o Filho de Deus manifestou-se como
luz. Luz não só para o exterior, na história do mundo, mas também para o interior
do homem, na sua história pessoal. Fez-Se um de nós dando sentido e valor
renovado à nossa existência terrena. Deste modo, no pleno respeito pela
liberdade humana, Cristo tornou-se «lux mundi a luz do mundo». Luz que
brilha nas trevas (Jo 1, 5).
2. Hoje, solenidade da «Epifania», que significa
«Manifestação», volta com vigor o tema da luz. Hoje, o Messias, que em Belém se
manifestou a humildes pastores da região, continua a revelar-Se luz dos povos
de todos os tempos e de todos os lugares. Para os magos, vindos do Oriente para
o adorar, a luz do «rei dos Judeus que acaba de nascer» (Mt 2, 2) assume
a forma de um astro celeste, muito brilhante, a ponto de atrair o seu olhar e
os guiar até Jerusalém. Põe-nos, assim, nas pegadas das antigas profecias
messiânicas: «uma estrela sai de Jacob e um ceptro flamejante surge do seio
de Israel...» (Nm 24, 17).
Como é sugestivo o símbolo da estrela que se
repete em toda a iconografia do Natal e Epifania! Ainda hoje, evoca profundos
sentimentos, mesmo se, como tantos outros sinais do sagrado, corre o risco de
se tornar banalizada pelo uso consumista que dela é feito. Todavia, recolocada
no seu contexto original, a estrela que contemplamos no presépio fala ao
espírito e ao coração do homem do terceiro milénio.
Fala ao homem secularizado, despertando nele a
nostalgia da sua condição de viandante à procura da verdade e desejoso de
absoluto. A própria etimologia do verbo «desejar» evoca a experiência
dos navegantes, que se orientam durante a noite observando os astros, que em
latim se chamam «sidera».
3. Quem não sente a
necessidade de uma «estrela» que o guie no seu caminho sobre a terra? Sentem
esta necessidade tanto os indivíduos como as nações. Para vir ao encontro deste
desejo de salvação universal, o Senhor escolheu para si um povo, que fosse
estrela orientadora para «todas as famílias da terra» (Gn 12, 3). Com a Encarnação de seu Filho, Deus alargou,
depois, a eleição a todos os outros povos, sem distinção de raça e cultura.
Assim nasceu a Igreja, formada por homens e mulheres que, «unidos em Cristo,
são dirigidos pelo Espírito Santo na sua peregrinação para o Reino do Pai e
receberam uma mensagem de salvação, que devem comunicar a todos» (Gs 1).
Ressoa, portanto, para toda a Comunidade eclesial o
oráculo do profeta Isaías, que escutámos na primeira leitura: Levanta-te e
resplandece, chegou a tua luz; a glória do Senhor levanta-se sobre ti!... As
nações caminharão à tua luz, os reis, ao resplendor da tua aurora" (Is
60, 1.3). […]
João Paulo II, Roma na
Solenidade da Epifania, 6 de Janeiro
de 2002
Oração Universal
Unidos a toda a Igreja trazemos a Jesus,
cheios de fé e confiança, os nossos pedidos.
Ele apresenta-os ao Pai, para que os atenda. Peçamos
:
1. Pela Santa
Igreja, para que se renove,
neste ano, no amor à Eucaristia,
em todos os pastores e fiéis,
oremos
ao Senhor.
2. Pelo Santo
Padre, para que todos escutem o seu convite
e tomem a peito o Ano da Eucaristia,
oremos
ao Senhor.
3. Pelos bispos
e sacerdotes,
para que cumpram fielmente as normas
litúrgicas
e as ensinem a viver a todos os
cristãos,
oremos
ao Senhor.
4. Por todos os
cristãos,
para que vivam melhor a Santa Missa de
cada domingo,
preparando bem as suas almas para
receberem a Jesus,
oremos
ao Senhor.
5. Para que
todos nos entusiasmemos
a visitar mais vezes a Jesus no
sacrário,
sabendo consumir tempo em adoração ao
Senhor
e encontrando ali a nossa força e
alegria,
oremos
ao Senhor.
6. Por todos os
que andam afastados de Deus,
para que o Senhor os converta
e por todos os que ainda não conhecem
a Cristo,
para que O descubram e O procurem,
como os Reis magos,
oremos
ao Senhor.
7. Por todos os
que se encontram no Purgatório,
para que possam contemplar no Céu o
rosto de Cristo,
oremos
ao Senhor.
Senhor, que nos destes a estrela da fé, que nos
conduziu a Jesus, Vosso Filho,
fazei que saibamos procurá-Lo sempre com novo
entusiasmo na Eucaristia
e trazer-Lhe todos os homens.
Pelo mesmo N.S.J.C. Vosso Filho que conVosco vive e
reina na unidade do Espírito Santo.
Liturgia Eucarística
Cântico do ofertório: Senhor, Tu é a Luz, Az. Oliveira, NRMS 6
(II)
Oração sobre as oblatas: Olhai com bondade, Senhor, para os dons da vossa
Igreja, que não Vos oferece ouro, incenso e mirra, mas Aquele que por estes
dons é manifestado, imolado e oferecido em alimento, Jesus Cristo, vosso Filho,
Nosso Senhor, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Prefácio da Epifania: p. 460 [592-704]
No Cânone
Romano diz-se o Communicantes (Em comunhão com toda a Igreja) próprio. Nas
Orações Eucarísticas II e III faz-se também a comemoração própria.
Santo: J. Santos, NRMS 6 (II)
Monição da Comunhão
Podemos não só adorar a Jesus, mas tomá-Lo nos braços
e tê-Lo em nosso coração. Saboreemos a maravilha da comunhão.
Cântico da Comunhão: Vimos a sua estrela, F. da Silva, NRMS 68
cf. Mt 2, 2
Antífona da comunhão: Vimos a sua estrela no Oriente e viemos com
presentes adorar o Senhor.
Cântico de acção de graças: A minha alma louva, M. Carneiro, NRMS 76
Oração depois da comunhão: Iluminai-nos, Senhor, sempre e em toda a parte com a
vossa luz celeste, para que possamos contemplar com olhar puro e receber de
coração sincero o mistério em que por vossa graça participámos. Por Nosso
Senhor...
Ritos Finais
Monição final
Agradeçamos a Jesus o ter ficado connosco, e
aproveitemos este Ano da Eucaristia para crescer na fé e no amor a este
mistério admirável. Que seja uma epifania contínua para nós e para toda a
Igreja.
Cântico final: Uns Magos vindo do além, F. da Silva, NRMS 76
Homilias Feriais
2ª feira, 3-I: A Cruz e o bom ladrão.
1 Jo 3,
22- 4, 6 / Mt 4, 12-17. 23-25
A partir de então, Jesus começou a
dizer: Arrependei-vos, pois o Reino de Deus está próximo.
É esta a primeira mensagem de Jesus, ao começar o seu
ministério público. Uma conversão é uma alteração ao modo como estamos a viver:
uma abertura à fé; acreditar no Evangelho; uma passagem do comodismo à
exigência, do pessimismo à esperança...
No Adoro te
devote pedimos uma conversão como a do bom ladrão, junto à Cruz: «E,
contudo, eu creio e o confesso, que ambas (a humanidade e a divindade) aqui
estão na realidade, e o que pedia o bom ladrão, eu peço». Ele reconheceu as
suas faltas e mereceu o perdão dos seus pecados e uma purificação completa.
3ª feira, 4-I: Eucaristia: testemunha do amor de
Deus.
1 Jo 4, 7-10 / Mc 6, 34-44
Depois, partiu os pães e foi dando aos
discípulos, para que dessem às pessoas.
«Os milagres da multiplicação dos pães, quando o
Senhor disse a bênção, partiu e distribuiu os pães pelos seus discípulos para
alimentar a multidão, prefiguram a superabundância do pão único da Eucaristia
(cf. Ev. do dia)» (CIC, 1335).
Este é o novo mistério
luminoso que manifesta o amor de Deus para connosco (cf. Leit.): «Mistério
da luz é, por fim, a instituição da Eucaristia, na qual Cristo se faz alimento
com o seu Corpo e o seu Sangue sob as espécies do pão e do vinho, testemunhando
'até ao extremo' o seu amor pela humanidade, por cuja salvação se oferecerá
esse sacrifício» (RVMariae, 21).
4ª feira, 5-I: Fé na proximidade de Deus.
1 Jo 4, 11-18 / Mc 6, 45-52
Mas Jesus não tardou a dirigir-lhes a
palavra: Coragem! Sou eu, não temais!
Porque «Deus é amor» (Leit.) cuida de nós em todas as
circunstâncias. É esse amor que o leva a andar sobre as águas para ajudar os
discípulos (cf. Ev.).
Ele só nos pede que tenhamos confiança n'Ele, que nos
lembremos da sua proximidade, da sua presença no Sacrário. Dizia o S. Cura de
Ars que nós temos mais sorte do que aqueles que conviveram com o Senhor durante
a sua vida terrena, pois às vezes tinham que andar horas e horas para o
encontrarem e nós temo-lo muito perto em cada Sacrário.
5ª feira, 6-I: O cumprimento das palavras de Cristo.
1 Jo 4, 19, 5, 4 / Lc 4, 14-22
Cumpriu-se hoje mesmo este passo da
Escritura que acabais de ouvir.
Jesus refere-se ao cumprimento da uma profecia de
Isaías (cf. Ev.). E, como Ele nos amou primeiro (cf. Leit.), quis perpetuar a
sua presença entre nós através da Eucaristia. Cumprem-se pois as suas palavras
da Última Ceia: «A reprodução sacramental na Santa Missa do sacrifício de
Cristo...implica uma presença muito especial, que chama-se 'real'... por
excelência, porque é substancial e porque, por ela, se torna presente Cristo
completo, Deus e homem» (IVE, 15).
Na altura da Consagração renovemos a nossa fé na
presença real de Cristo através de algumas jaculatórias. Por exemplo, a
exclamação de S. Tomé: 'Meu Senhor e meu Deus'; a de S. Tomás: 'Adoro-vos com
devoção, Deus escondido'.
6ª feira, 7-I: A purificação com o Sangue de Cristo.
1 Jo 5, 5-13 / Lc 5, 12-16
(O leproso): Senhor, se quiseres podes
curar-me.
Jesus ouviu a oração de petição do leproso e,
estendendo a mão, tocou-lhe e curou-o (cf. Ev.). «Por isso, nos sacramentos,
Cristo continua a 'tocar-nos' para nos curar» (CIC, 1504).
No hino Adoro
te devote pedimos: «Ó doce pelicano! Ó bom Jesus! Lava-me com o teu Sangue,
do qual uma só gota pode salvar do pecado todo o mundo». A Eucaristia é o
remédio para as fraquezas diárias, para os desleixos e faltas de
correspondência á graça, para proteger a nossa pureza... A nossa alma
purifica-se em contacto com Cristo.
Sábado, 8-I: A acção do Médico divino.
1 Jo 5, 14-21 / Jo 3, 22-30
Foi Jesus com os discípulos para o
território da Judeia, onde se demorou com eles e começou a baptizar.
Pelo baptismo (cf. Ev.) todos os pecados nos são
perdoados. Mas, em cada baptizado, permanece ainda «uma inclinação para o
pecado, que a Tradição chama concupiscência ou, metaforicamente, a 'isca' ou
'aguilhão' do pecado» (CIC, 1264).
O Maligno (cf. Leit.) explora estas fraquezas e
precisamos recorrer muito ao Senhor: «Senhor, se quiseres – e Tu queres sempre-
podes curar-me. Tu conheces as minhas debilidades... Senhor, Tu que curaste
tantas almas, faz com que, ao ter-te no meu peito ou ao contemplar-te no
Sacrário, te reconheça como Médico divino» (Cristo que passa, 93).
Celebração e Homilia: Celestino Correia R. Ferreira
Nota
Exegética: Geraldo Morujão
Homilias
Feriais: Nuno Romão
Sugestão Musical: Duarte Nuno Rocha