Santíssimo Corpo e Sangue e Cristo
3 de Junho de 2010
Solenidade
RITOS INICIAIS
Cântico de entrada: Da Flor da Farinha os Alimentou, M. Carneiro, NRMS 37
Salmo 80,17
Antífona de entrada: O Senhor alimentou o seu povo com a flor da farinha e saciou-o com o mel do rochedo.
Diz-se o Glória.
Introdução ao espírito da Celebração
Hoje é a Festa do Corpo de Deus. É a festa do mistério do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. É a festa do Santíssimo Sacramento, o grande sinal do amor de Deus pela humanidade. As leituras bíblicas falam-nos do pão e do vinho oferecidos por Melquisedec e do pão que Jesus multiplicou para a multidão, que o seguia. Trata-se de uma prefiguração da Eucaristia, cuja celebração nos recorda o anúncio da morte e da ressurreição do Senhor.
Com a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo a Igreja, inundada de alegria pascal e cheia do fervor do Espírito Santo, celebra, numa atmosfera de louvor e de exultação, o Mistério da presença amorosa de Jesus Cristo no meio de nós.
Oração colecta: Senhor Jesus Cristo, que neste admirável sacramento nos deixastes o memorial da vossa paixão, concedei-nos a graça de venerar de tal modo os mistérios do vosso Corpo e Sangue que sintamos continuamente os frutos da vossa redenção.
Liturgia da Palavra
Primeira Leitura
Monição: A Eucaristia é o memorial do Sacrifício de Jesus na Cruz. Este sacramento serve-se do sinal do pão e do vinho, como fez o sacerdote Melquisedec, no tempo de Abraão.
Génesis 14, 18-20
Naqueles dias, 18Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho. Era sacerdote do Deus Altíssimo 19e abençoou Abraão, dizendo: «Abençoado seja Abraão pelo Deus Altíssimo, criador do céu e da terra. 20Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou nas tuas mãos os teus inimigos». E Abraão deu-lhe a dízima de tudo.
«Melquisedec», rei-sacerdote de «Salém», isto é, Jerusalém. Salém significa paz (xalom); Jerusalém (Yeruxaláyim) significa «fundação de paz»; era a capital dos Jebuseus, que David viria a conquistar muitos séculos depois. Após a expedição de Abraão contra os quatro reis orientais que tinham saqueado a zona do Mar Morto, a Pentápole, Abraão e os seus homens armados tinham chegado vitoriosos (v. 16), mas exaustos. O rei de Jerusalém, reconhecido pelo perigo que Abraão afastara das suas vizinhanças, veio ao seu encontro com abastecimentos de pão e vinho para restabelecer as forças das tropas cansadas. Abraão, agradecido por tal atitude, decide recompensar Melquisedec com o dízimo de todos os despojos que trazia da expedição guerreira. A tradição patrística e a Liturgia, viram na oferta de pão e vinho uma figura do Sacrifício Eucarístico; no Cânone Romano pede-se a Deus que aceite o Sacrifício da Missa como aceitou o sacrifício de Melquisedec. Mas podemos perguntar: esta oferta foi um verdadeiro sacrifício, ou um simples auxílio às tropas cansadas? Se é certo que o verbo hebraico, «trouxe», não pertence ao vocabulário sacrifícial, também é certo que Melquisedec era sacerdote e foi nesta condição que «trouxe pão e vinho», sendo coerente que tivesse sido oferecido antes em sacrifício, talvez em acção de graças da vitória obtida. Pelo Salmo109 (110) e por Hbr 7, sabemos que Melquisedec é uma figura de Cristo. Também Jesus – o anti-tipo de Melquisedec – alimenta os seus soldados, cansados na batalha contra os inimigos do Reino, com o pão e o vinho eucarístico, o seu Corpo e Sangue oferecido em sacrifício; por isso a Igreja reza: «da robur, fer auxilium» (dá-nos força, traz-nos auxílio).
Salmo Responsorial Sl 109 (110), 1-4 (R. 4bc)
Monição: O misterioso Melquisedec era sacerdote do Senhor Deus Altíssimo. Trazia nas suas mãos pão e vinho. Este salmo é utilizado para honrar Jesus Cristo, sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedec. Jesus há-de oferecer-nos o seu Corpo e Sangue, Pão da vida eterna e vinho da Nova Aliança.
Refrão: O Senhor é sacerdote para sempre.
Ou: Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedec.
Disse o Senhor ao meu Senhor:
«Senta-te à minha direita,
até que Eu faça de teus inimigos escabelo de teus pés.
O Senhor estenderá de Sião
o ceptro do teu poder
e tu dominarás no meio dos teus inimigos.
A ti pertence a realeza desde o dia em que nasceste
nos esplendores da santidade,
antes da aurora, como orvalho, Eu te gerei».
O Senhor jurou e não Se arrependerá:
«Tu és sacerdote para sempre,
segundo a ordem de Melquisedec».
Segunda Leitura
Monição: S. Paulo transmite o que recebeu: a celebração do mistério do Corpo e Sangue do Senhor, que havia de ser entregue por nós. «Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice anunciareis a morte do Senhor até que Ele venha.»
1 Coríntios 11, 23-26
Irmãos: 23Eu recebi do Senhor o que também vos transmiti: o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, 24partiu-o e disse: «Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim». 25Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova aliança no meu Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim». 26Na verdade, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha.
Temos aqui o relato da última Ceia, o mais antigo dos quatro que aparecem no N. T., escrito apenas uns 25 anos após o acontecimento. São Paulo diz que isto mesmo já o tinha pregado aos cristãos (v. 23) uns quatro anos atrás, durante os 18 meses em que evangelizou a cidade de Corinto, por ocasião da sua segunda viagem.
23 «Recebi do Senhor»: O original grego (com o uso da preposição apó e não pará) deixa ver que S. Paulo recebeu esta doutrina pela tradição que remonta ao Senhor e não directamente dele, por meio de alguma revelação, como alguém poderia pensar. «Na noite em que ia ser entregue»: Há uma dupla entrega do Senhor, a sua entrega às mãos dos seus inimigos, para morrer pelos nossos pecados e nos ganhar a vida divina, e a entrega no Sacramento da SS. Eucaristia, como alimento desta mesma vida divina. Para o seu amor infinito, é pouco dar-se todo uma só vez por todos; quer dar-se todo a cada um de nós todas as vezes que nos disponhamos a recebê-lo!
24 «Isto é o Meu Corpo»: A expressão de Jesus é categórica e terminante, sem deixar lugar a mal entendidos. Não diz «aqui está o meu corpo», nem «isto simboliza o meu corpo», mas sim: «isto é o meu corpo», como se dissesse «este pão já não é pão, mas é o meu corpo». Todas as tentativas heréticas de entender estas palavras num sentido meramente simbólico, fazem violência ao texto e não têm seriedade. É certo que o verbo «ser» também pode ter o sentido de «ser como», «significar», mas isto é só quando do contexto se possa depreender que se trata duma comparação, o que não se dá aqui, pois não se vê facilmente como o pão seja como o Corpo de Jesus, ou como é que o pode significar. Atenda-se a que Jesus, com a palavra isto não se refere à acção de partir o pão, pois não pronuncia estas palavras enquanto parte o pão, mas depois de o ter partido; portanto não tem sentido dizer que, com a fracção do pão, o Senhor queria representar o despedaçar do seu corpo por uma morte violenta (o corpo entregue); Jesus não podia querer dizer tal coisa, pois, se o quisesse dizer, havia de o explicitar, uma vez que o gesto de partir o pão era um gesto usual do chefe da mesa em todas as refeições, não sendo possível ver um outro sentido; por outro lado, o beber do cálice de modo nenhum se podia prestar a um tal sentido simbólico.
Os Apóstolos vieram a entender as palavras de Jesus no seu verdadeiro realismo, como aparecem no discurso do Pão da Vida (Jo 6, 51-58). Se Jesus não quisesse dar este sentido realista às suas palavras, também os seus discípulos e a primitiva Igreja não lho podiam dar, porque beber o sangue era algo sumamente escandaloso para gente criada no judaísmo, que ia ao ponto de proibir a comida de animais não sangrados. Se S. Paulo não entendesse estas palavras de Jesus num sentido realista, não teria podido afirmar no v. 27 (omitido na leitura de hoje): «quem comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor»; e no v. 29 fala de «distinguir o corpo do Senhor».
Paulo VI, na encíclica Misterium fidei, rejeitou as explicações teológicas (transignificação e transfinalização) que não respeitem suficientemente o realismo da presença real: «Mas para que, ninguém entenda erroneamente este modo de presença, que supera leis da natureza e constitui o maior dos milagres no seu género, é preciso seguir com docilidade a voz da Igreja docente e orante. Pois bem, esta voz, que é um eco perene da voz de Cristo, assegura-nos que Cristo se torna presente neste Sacramento pela conversão de toda a substância do pão no seu corpo e de toda a substância no vinho no seu sangue; conversão admirável e singular à qual a Igreja justamente e com propriedade chama transubstanciação» (atenda-se a que aqui a noção de substância não é a da Física ou da Química, mas a da Metafísica).
24-25 «Fazei isto em memória de Mim»: Com estas palavras, Jesus Cristo entrega aos Apóstolos (e aos seus sucessores) o poder ministerial de celebrar o Mistério Eucarístico; por isso, Quinta-Feira Santa é o dia do sacerdócio e dos sacerdotes.
25 «A Nova Aliança com o meu Sangue»: Jesus compara o seu sangue, que vai derramar na cruz, ao sangue do sacrifício da Aliança do Sinai (cf. Ex 24, 8), como sendo o novo sacrifício com que se ratifica a Nova Aliança de Deus com a Humanidade, aliança anunciada pelos profetas (Jer 31, 31-33). Na Ceia temos o mesmo sacrifício do Calvário antecipado sacramentalmente através das palavras do próprio Jesus. Na Missa temos igualmente o mesmo sacrifício da Cruz renovado e representado sacramentalmente através da dupla consagração feita pelo sacerdote, que actua na pessoa e em nome de Cristo, sendo Ele o mesmo oferente principal, a mesma vítima e sendo os merecimentos os mesmos do único Sacrifício redentor a serem aplicados, Sacrifício oferecido de uma vez para sempre (efápax: cf. Hebr 9, 25-28; 10, 10.18).
26 «Anunciareis a Morte do Senhor»: No altar já não se derrama o sangue de Cristo, como na Cruz, mas oferece-se, de modo incruento, o mesmo sacrifício, renovando e representando sacramentalmente o mistério da mesma Morte que se deu no Calvário.
Aclamação ao Evangelho Jo 6, 51
Monição: Jesus é o Pão descido do Céu para dar a vida nova ao mundo! Jesus tomou os pães, abençoou-os, partiu-os e deu-os aos convivas, aleluia!
Aleluia
Cântico: Az. Oliveira, NRMS 36
Eu sou o pão vivo descido do Céu, diz o Senhor.
Quem comer deste pão viverá eternamente.
Evangelho
São Lucas 9, 11b-17
Naquele tempo, 11bestava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus e a curar aqueles que necessitavam. 12O dia começava a declinar. Então os Doze aproximaram-se e disseram-Lhe: «Manda embora a multidão para ir procurar pousada e alimento às aldeias e casais mais próximos, pois aqui estamos num local deserto». 13Disse-lhes Jesus: «Dai-lhes vós de comer». Mas eles responderam: «Não temos senão cinco pães e dois peixes... Só se formos nós mesmos comprar comida para todo este povo». 14Eram de facto uns cinco mil homens. Disse Jesus aos discípulos: «Mandai-os sentar por grupos de cinquenta». 15Assim fizeram e todos se sentaram. 16Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção. Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para eles os distribuírem pela multidão. 17Todos comeram e ficaram saciados; e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.
Há uma profunda relação entre este milagre e a instituição da Eucaristia. A própria descrição dos gestos de Jesus ao fazer o milagre sugere os seus gestos na Ceia: «abençoou», «partiu», «deu aos discípulos». Com este milagre, é prefigurado o prodígio da Eucaristia e os Apóstolos são preparados para receberem tão grande dom e o distribuírem aos fiéis: «para eles os distribuírem pela multidão» (v. 16). A linguagem do relato deixa ver fortes ressonâncias litúrgicas, provenientes certamente da vida das primitivas comunidades, que celebravam a Eucaristia. O IV Evangelho conserva-nos a promessa do Pão da Vida no discurso eucarístico (Jo 6, 32-58), na sequência deste mesmo milagre. Lucas não refere a 2ª multiplicação dos pães, que se insere na chamada grande omissão de Lucas relativamente a Marcos, que lhe terá servido de fonte (Mc 6, 45 – 8, 26); por outro lado Lucas costuma omitir relatos paralelos, para não se alongar sem necessidade.
13 «Dai-lhes vós de comer.» Jesus sabia o que ia fazer, como sublinha o relato muito mais pormenorizado de S. João; e disse isto para os pôr à prova (Jo 6, 6), isto é, para ver até que ponto os seus Apóstolos estavam capacitados para confiar na omnipotência divina que Jesus lhes tinha vindo a mostrar com tantos milagres já realizados.
Sugestões para a homilia
Eucaristia: memória da Última Ceia e penhor do Banquete da futura glória
«Naquele tempo estava Jesus a falar à multidão do Reino de Deus…» (Luc 9, 11-17).
Os cristãos, habitualmente, participam na Eucaristia dominical. Em cada Eucaristia, a Liturgia da Palavra fala-nos do Reino de Deus. A Palavra de Deus é o primeiro alimento que nos é servido, porque «nem só de pão vive o homem, mas vive da Palavra que sai da boca de Deus». A nossa fome não fica saciada apenas com o alimento terrestre. Precisamos «do Pão do Céu». S. Lucas refere o milagre da multiplicação dos cinco pães e dos dois peixes, inserido no contexto da pregação sobre o Reino de Deus. Os Apóstolos acabam de chegar da sua missão evangelizadora. Depois do milagre da multiplicação dos pães, Jesus faz o anúncio do Reino e cura os enfermos.
«Este local é deserto». Com esta indicação pensamos no maná do êxodo, o pão que os israelitas comeram, no deserto. Os discípulos pediam a Jesus que mandasse as pessoas para as aldeias, a fim de encontrarem comida. Mas ficámos a perceber que não é afastando-nos de Jesus que seremos salvos, mas ficando com Ele. «Jesus tomou os pães, abençoou-os, partiu-os e deu-os aos discípulos». Gostamos de relacionar este milagre com a instituição da Última Ceia. As palavras escolhidas por S. Lucas lembram-nos o ritual litúrgico da Eucaristia. A sucessão de gestos sagrados é a mesma, da Ceia, de Quinta-feira Santa. Recordemos que o milagre da multiplicação dos pães é contado por seis vezes nos Evangelhos. Por isso não temos dúvidas que as primeiras comunidades cristãs viam neste milagre uma referência à Eucaristia. Esta referência eucarística também está presente em S. João, quando Jesus falou de Si mesmo como o pão vivo descido do céu: «O pão que Eu darei é a Minha Carne pela vida do mundo» (Jo 6, 11).
Segundo a Tradição Bíblica Deus tinha prometido um banquete messiânico e escatológico através do profeta Isaías: «Naqueles dias, o Senhor do Universo há-de preparar um banquete de manjares suculentos para todos os povos» (Is 25, 7). Jesus, o Emanuel, escolheu o pão e o vinho como sinais da Sua Presença no meio de nós. A Eucaristia é, portanto, um banquete sagrado em que se recebe Jesus, o pão da vida eterna. A Eucaristia é também garantia e penhor da glória futura: «Quem comer deste pão viverá eternamente!» (Jo 6, 58)
No tempo de S. Paulo os cristãos também celebravam a Eucaristia, mas com alguns abusos. Por isso, o Apóstolo escreve-lhes, para lhes dizer: «quando comeis deste pão e bebeis deste cálice anunciais a morte do Senhor até que Ele venha» (1 Cor 11, 23-26). O pão e o vinho eucarísticos são o Corpo e o Sangue de Jesus entregue e derramado por nós. São o símbolo do Seu infinito amor porá com todos os homens. Participar dignamente na celebração e na comunhão do Corpo e Sangue de Jesus implica um grande amor a Jesus e aos irmãos. Aceitemos o ensino de S. Paulo e da Igreja dos nossos dias para que o nosso amor a Jesus Sacramentado seja agradável a Deus, como foi o sacrifício do pão e do vinho oferecido pelo sacerdote Melquisedec (Gen 14, 18-20).
Fala o Santo Padre
«O mistério da transubstanciação, é o sinal de Jesus Cristo que transforma o mundo.»
Queridos irmãos e irmãs!
Celebra-se hoje […] o Corpus Christi, a festa da Eucaristia, na qual o Sacramento do Corpo do Senhor é levado solenemente em procissão. Que significa para nós esta festa? Ela não faz pensar só no aspecto litúrgico; na realidade, o Corpus Christi é um dia que inclui a dimensão cósmica, o céu e a terra. Evoca antes de tudo – pelo menos no nosso hemisfério – esta estação tão bonita e perfumada na qual a Primavera começa a deixar lugar ao Verão, o sol é forte no céu e nos campos amadurece o trigo. As festas da Igreja – como as judaicas – estão relacionadas com o ritmo do ano solar, da sementeira e das colheitas. Em particular, isto sobressai na solenidade de hoje, em cujo centro está o sinal do pão, fruto da terra e do céu. Por isso o pão eucarístico é o sinal visível d'Aquele no qual céu e terra, Deus e homem se tornaram um só. E isto mostra que a relação com as estações não é para o ano litúrgico só um aspecto exterior.
A solenidade do Corpus Christi está intimamente ligada à Páscoa e ao Pentecostes: a morte e ressurreição de Jesus e a efusão do Espírito Santo são os seus pressupostos. Além disso, está imediatamente relacionada com a festa da Trindade, celebrada no domingo passado. Unicamente porque o próprio Deus é relação, pode haver relacionamento com Ele; e só porque é amor, pode amar e ser amado. Assim o Corpus Christi é uma manifestação de Deus, uma confirmação de que Deus é amor. De uma forma única e peculiar, esta festa fala-nos do amor divino, daquilo que é e do que faz. Diz-nos, por exemplo, que ele se regenera ao doar-se, se recebe ao entregar-se, nunca falta e não se consuma – como canta um hino de S. Tomás de Aquino: «nec sumptus consumitur». O amor transforma todas as coisas, e portanto compreende-se que no centro da hodierna festa do Corpus Christi esteja o mistério da transubstanciação, sinal de Jesus Cristo que transforma o mundo. Olhando para Ele e adorando-O, nós dizemos: sim, o amor existe, e dado que existe, as coisas podem melhorar e nós podemos ter esperança. É a esperança que provém do amor de Cristo que nos dá a força para viver e enfrentar as dificuldades. Por isso cantamos, enquanto levamos em procissão o Santíssimo Sacramento; cantamos e louvamos a Deus que se revelou ao esconder-se no sinal do pão repartido. Todos precisamos deste Pão, porque o caminho rumo à liberdade, à justiça e à paz é longo e cansativo.
Podemos imaginar com quanta fé e amor Nossa Senhora recebeu e adorou no seu coração a sagrada Eucaristia! Todas as vezes era para ela como reviver todo o mistério do seu Filho Jesus: desde a concepção até à ressurreição. O meu venerado e amado predecessor João Paulo II chamou-lhe «Mulher eucarística». Aprendamos dela a renovar continuamente a nossa comunhão com o Corpo de Cristo, para nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou.
Papa Bento XVI, Angelus, Domingo, 14 de Junho de 2009
Oração Universal
Irmãos, unidos a todos os cristãos do oriente e do ocidente
oremos a Cristo Senhor, pão vivo descido do céu,
hóspede invisível do nosso banquete eucarístico e rezemos, iluminados pela fé:
Jesus Cristo, pão do céu, dai-nos a vida.
1. Para que Jesus, Filho de Deus e da Virgem Maria,
sacerdote único do Altíssimo, ensine a Igreja a celebrar a Ceia Pascal, oremos
2. Para que Jesus, Filho de Deus e da Virgem Maria, Pão Vivo descido do Céu,
seja o alimento dos Seus discípulos, oremos.
3. Para que Jesus, Filho de Deus e da Virgem Maria, Médico Celeste,
cure os doentes e dê esperança aos pecadores, oremos.
4. Para que Jesus, Filho de Deus e da Virgem Maria,
verdadeiro Rei da Paz e da Justiça, extinga as guerras e ensine ao mundo o Seu Amor, oremos.
5. Para que Jesus, Filho de Deus e da Virgem Maria, que prometeu ficar connosco para sempre,
nos leve um dia a participar no banquete da Sua glória, oremos.
Senhor Jesus Cristo, ensinai os pregadores do Evangelho a anunciar a Palavra da Verdade
e ensinai os cristãos a repartir o pão com os que não o têm.
Vós que sois Deus com o Pai na unidade dó Espírito Santo. Amen.
Liturgia Eucarística
Cântico do ofertório: Oh Verdadeiro Corpo do Senhor, C. Silva, NRMS 42
Oração sobre as oblatas: Concedei, Senhor, à vossa Igreja o dom da unidade e da paz, que estas oferendas misticamente simbolizam. Por Nosso Senhor...
Prefácio da Eucaristia
Santo: J. Duque, NRMS 21
Monição da Comunhão
Rezemos no íntimo do nosso coração: Jesus, Vós sois o Pão Vivo descido do Céu.
Agradeçamos: «Bendito sejais, Senhor Deus do Universo, pelo pão e pelo vinho, frutos da terra e do trabalho dos homens. Nós Vo-los apresentamos para que se convertam no Corpo e Sangue de Jesus!»
Cântico da Comunhão: Celebremos o mistério, F. Silva, NRMS 77-79
Jo 6, 57
Antífona da comunhão: Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em Mim e Eu nele, diz o Senhor.
Cântico de acção de graças: Saciastes o Vosso Povo, F. Silva, NRMS 90-91
Oração depois da comunhão: Concedei-nos, Senhor Jesus Cristo, a participação eterna da vossa divindade, que é prefigurada nesta comunhão do vosso precioso Corpo e Sangue.
Ritos Finais
Monição final
«Oh! quão doce é ver o Pastor convertido em Cordeiro. É Pastor porque apascenta. É Cordeiro porque Ele mesmo é alimento. Quando Lhe pedimos o pão-nosso de cada dia, suplicamos-Lhe que Ele mesmo seja a nossa comida e sustento» (Stª Teresa de Ávila)
«O Corpo de Jesus é alimento, o seu Sangue bebida verdadeira.
Viverá para sempre o homem novo que tomar deste Pão e deste vinho!»
(Liturgia das Horas, hino de Laudes)
Cântico final: Deus é Pai, Deus é Amor, F. Silva, NRMS 90-91
Homilias Feriais
6ª Feira, 4-VI: Deus fala connosco pela Escritura.
2 Tim 3, 10-17 / Mc 12, 35-37
Jesus, que estava a ensinar no Templo, tomou a palavra e perguntou…
O Senhor continua a falar connosco (Ev.), aqui e agora. Escutemo-lo com fé, acreditando que só Ele tem palavras de vida eterna, que os seus ensinamentos são luz que guia os nossos passos.
Além disso, «toda a Escritura é útil para ensinar, persuadir, corrigir e formar segundo a justiça» (Leit.). Não deixemos de lê-la diariamente e de levá-la à prática, pois só assim seremos o «homem completo, bem preparado para todas as obras» (Leit.), como, por exemplo, as tentações e provações: «todos os que desejam viver com piedade em Jesus Cristo hão-de ser perseguidos» (Leit.).
Sábado, 5-VI: Santidade: renúncia e combate.
2 Tim 4, 1-8 / Mc 12, 38-44
Pois virá tempo em que os homens não mais suportarão a sã doutrina. E não só desviarão os ouvidos da verdade como hão-de voltar-se para as fábulas.
Seguir a verdade é muito exigente. É mais fácil fazer aquilo que todos fazem, o que está na moda, etc. «Mas o caminho da perfeição passa pela cruz. Não há santidade sem renúncia e combate espiritual: ‘combati o bom combate’ (Leit.). O progresso espiritual implica a ascese e mortificação, que conduzem gradualmente a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças» (CIC, 2015):
A viúva pobre deitou duas pequenas moedas na caixa das esmolas. Na sua penúria renunciou a tudo e conquistou o coração de Jesus (Ev.).
Celebração e Homilia: José Roque
Nota Exegética: Geraldo Morujão
Homilias Feriais: Nuno Romão
Sugestão Musical: Duarte Nuno Rocha